
Dos três contos deste livro de 69 páginas, o primeiro é Ao receber a jorna e o horizonte é a Charneca: «Maria Alexandrina dividia com as filhas a sua riqueza. A uma afagava-lhe o rosto e amamentava-a para lhe abafar o choro; à outra dava-lhe parte da sua ração». No conto Valados é a Lezíria que surge: «o Migalhas está no castigo, a cavar terra seca. Guarda nas retinas o ódio para os capatazes e o amor para os companheiros». No conto Graxas já o lugar é o Bairro, a terceira linha na Geografia do Ribatejo: «Quando o Inverno chega, muda a vida dos graxas – é ainda mais árdua. Os biscates são menos abundantes e os homens não engraxam tanto. O Inverno traz-lhes a sombra da má vida para a sua que não é boa».
Escritos nos anos 40 do século XX, há nestes contos uma dupla inscrição. De um lado a força do mal («o apito da fábrica e o mando do capataz») e do outro lado a esperança teimosa: «Raimundo, quando virá o dia que a gente muda a vida? – Não vem longe, Chico!»
(Editora: Página a Página, Capa: José Monginho, Ilustrações: Clara Pato, Prefácio: José Casanova, Apresentação: Alves Redol)
José do Carmo Francisco
































