
A José Ilídio Cruz – Carroçarias, Unipessoal Lda. mudou no início deste ano a denominação para Carroçarias Ilídio, Lda. O fundador da empresa, que geria o negócio em nome individual, abriu a sociedade aos filhos Pedro Batalha e Catarina Gageiro. O negócio na área da produção de carroçarias para viaturas comerciais e da serralharia já tem uma história com mais de 30 anos.
“As pessoas de fora não vão sentir muito esta mudança”, diz Pedro Batalha, visto que o pessoal se mantém e o serviço é o mesmo. O que muda por agora é a denominação e a constituição como empresa, que nesta fase tem três sócios: o pai José Ilídio da Cruz e os filhos Pedro Batalha e Catarina Gageiro. Mesmo o nome manteve-se idêntico, até porque já é conhecido no meio.
Trata-se de uma passagem de testemunho numa altura em que o fundador da empresa caminha para a idade da reforma. “Foi uma forma suave de fazer a transição”, explica Pedro Batalha.
Ambos os filhos já trabalhavam na empresa, mas passam agora a ser responsáveis pela sua gestão. Pedro Batalha já era quadro da empresa de forma efectiva há 18 anos, mas desde miúdo sempre deu uma ajuda. “Nasci no meio disto”, observa. Estava mais ligado à produção e agora passa a gerir directamente o contacto com os clientes e a planificação de orçamentos. “Também o liberta mais dessas coisas que ele não gosta muito pois ele prefere é pôr as mãos no ferro”, destaca Pedro Batalha.
Catarina Gageiro, responsável pela área administrativa, acrescenta que é “uma responsabilidade” continuar o trabalho que o pai iniciou há mais de 30 anos.
Nesta fase os três são sócios da empresa. Quando José Ilídio da Cruz se reformar, deixa a sua quota aos filhos e passa a dedicar-se em exclusivo a outro negócio da família – a exploração de um posto de lavagem de automóveis e o aluguer de armazéns, no Campo.
Este negócio de família dá emprego actualmente a sete pessoas e em 2016 gerou um volume de negócios de 235 mil euros.
CARROÇARIAS E SERRALHARIA
Foi há 31 anos que José Ilídio da Cruz iniciou o negócio das carroçarias. Antes tentou uma outra sociedade, a Castro & Ilídio, Lda., que não correu como esperado. Saiu da sociedade, que tinha produção num armazém nas traseiras da sua casa, mas continuou a trabalhar para essa empresa em nome individual. Essa primeira empresa acabou por fechar pouco tempo depois, mas José Ilídio continuou com o negócio até à actualidade.
Nessa altura todo o trabalho era manual, não havia maquinaria, e as carroçarias eram diferentes das de hoje, totalmente feitas em madeira. Contudo, a empresa foi acompanhando a evolução dos tempos, apetrechou-se com a maquinaria sem a qual hoje não seria possível realizar o trabalho. A oficina está dotada de duas quinadeiras, com as quais se fazem as dobras (quinas) na chapa de metal, e uma guilhotina, que corta as folhas de chapa que ali chegam em bruto.
No início da década de 1990 foram adquiridas as instalações onde hoje a empresa labora, no lote 10-A da Zona Industrial das Caldas da Rainha.
A base do negócio é a produção de carroçarias que equipam, desde as pequenas carrinhas pick-up até camiões. São carroçarias de caixa aberta, fechadas com toldos e contentores de carga geral em alumínio para camiões. A empresa também forra em contraplacado carrinhas fechadas.
Ao longo destes 30 anos o trabalho sofreu uma grande evolução. “Fazíamos uma carroçaria toda em madeira”, recorda Pedro Batalha. O processo obrigava a ter um grande stock de madeira, o serviço era muito mais trabalhoso e menos durável.
Hoje os taipais das carrinhas ainda podem ser feitos em madeira, embora o possam ser também em alumínio. O estrado passou a ser em ferro ou em contraplacado marítimo. O processo de quinagem (a modulação do metal) começou por ser manual, hoje é mecânico. “Fomos criando formas de ter um serviço mais rápido, de outra forma não conseguimos ser competitivos”, sustenta. Um trabalho standard pode ser concluído em três a quatro dias e os fechados a lona, que envolvem mais estrutura metálica, podem ficar prontos numa semana.
Os produtos base podem ter variações específicas consoante as cargas transportadas e é possível ainda personalizar as carroçarias. O único trabalho que a Carroçarias Ilídio não faz é a montagem de básculas, mas aplica plataformas elevatórias. Um dos exemplos de personalização ali efectuados foi uma carroçaria para um circo, na qual foram incluídos gavetões que depois de abertos serviam de camas.
“De certa forma acaba por ser um trabalho criativo, quase artesanato”, diz Pedro Batalha. O senão é que “por vezes as pessoas querem depressa e barato e isso nem sempre é possível”.
CRISE MUDOU O MERCADO
A crise económica generalizada que se fez sentir a partir de 2008 também teve repercussões na actividade da Carroçarias Ilídio. Por um lado, os sectores da construção e do mobiliário, que até aí representavam uma franja importante de clientes, tiveram reduções muito acentuadas, o que significou menos volume de trabalho para a empresa.
A solução passou por reduzir o pessoal. A firma chegou a ter 11 trabalhadores face aos actuais sete. “E reduzimos as margens”, acrescenta Pedro Batalha. O agora empresário diz que é uma grande vantagem a empresa não ter dívidas nem encargos bancários ou rendas, mas a carga fiscal e os elevados custos da energia são grandes obstáculos que o governo deveria rever.
“Hoje em dia é muito difícil ter uma pequena unidade de produção: ou se tem uma fábrica a produzir milhares de peças por dia e a exportar, ou é muito difícil subsistir”, lamenta.
Hoje os principais clientes estão no sector hortofrutícola e também em empresas transportadoras. A empresa também trabalha directamente com concessionários de automóveis, que além de venderem as carrinhas só com o chassis, também as comercializam já com caixas simples.
Esta actividade também sofreu uma grave recessão nos anos de crise, mas Pedro Batalha nota que já tem havido uma inversão nos últimos meses.
O menor volume de trabalho levou o mercado e a própria empresa a adaptar-se. Por exemplo, aumentou o volume de trabalhos de reparação e modificação nas caixas e reboques.
Nas Caldas não há outra empresa a fazer este tipo de serviços, mas nem por isso deixa de haver um problema de concorrência. “Há concorrentes a praticar preços muito baixos e se calhar nem fazem as contas às despesas. Era mais certo se todos levassem o preço justo”, observa.
Além das carroçarias, a empresa também faz trabalhos de serralharia geral e Pedro Batalha diz que ter este serviço também ajudou a controlar a quebra de actividade nas viaturas comerciais. “Hoje em dia posso dizer que cerca de metade do nosso trabalho é de serralharia”, adianta.
Apesar de se viver agora uma melhor fase no mercado das carroçarias, a empresa não descurou a parte da serralharia. Aqui o potencial de serviço é enorme. “Podemos fabricar tudo o que é feito em chapa de metal, seja ferro, alumínio ou inox, desde algerozes a caixas de ferramenta”, observa.






























