Quinta do Gradil factura 1 milhão de euros e exporta mais de metade dos seus vinhos

0
718
Vinhos

Comprada em 1999 por um empresário vitivinícola, a maior quinta do concelho do Cadaval triplicou a sua produção em dez anos e tem hoje na China o seu principal mercado exportador. Luís Vieira, proprietário, diz que o próximo passo é apostar no turismo, recuperando uma quinta “glamorosa” que já pertenceu ao Marquês do Pombal e que tem potencialidades enormes para eventos culturais.

A Quinta do Gradil já existia no séc. XVIII. O Marquês de Pombal comprou-a em 1760 e os seus descendentes mantiveram-na até meados do século XX, quando esta passou para as mãos da família Isidoro (das conhecidas Salsichas Isidoro). Com um palácio, uma capela, um núcleo habitacional e uma adega, a quinta – situada no Vilar, junto ao sopé da Serra do Montejunto -, é quase um ex libris no concelho do Cadaval.
Luís Vieira, 38 anos, natural de Fátima e filho e neto de empresário vitivinícolas, comprou-a há dez anos e nela operou uma espécie de “milagre das uvas”, triplicando a produção e internacionalizando a sua actividade com vendas para o mundo inteiro.
“Eu só comprava e vendia vinhos e tive necessidade de me chegar mais perto da produção. Foi assim que em 1999 decidi comprar a Quinta dos Gradil”, explica o proprietário, economista de formação, mostrando a área envolvente. São 200 hectares de terrenos todos seguidos, dos quais 120 plantados com vinhas que rendem uma produção de 1,2 milhões de toneladas de uva.
“A quinta tinha uma grande capacidade de produção e de armazenagem que não estavam aproveitadas. Tinha 80 hectares de vinha branca e produzia 300 a 400 toneladas de uva. Hoje cultivamos 120 hectares de branco e tinto e a produção é de 1,2 milhões de toneladas”. Luís Vieira não diz quanto pagou pela propriedade, mas revela que nela investiu 2,5 milhões de euros nos últimos dez anos e que espera ter esse investimento recuperado num prazo de cinco anos.
A prioridade foi para a replantação de vinhas com novas castas e para a mecanização da produção. O interior dos velhos depósitos de cimento foram revestidos com epoxy, compraram-se prensas e depósitos de fermentação. A própria vindima, que chegou a ter um rancho de 120 pessoas, é agora feita por uma máquina (alugada) que trabalha pela noite fora quando é necessário.
Um enólogo conceituado – António Ventura – e uma aposta nas castas Touriga Nacional, Syrah, Alicante, Merlot para os tintos e Arinto e Sauvignon para os brancos, fizeram o resto.
Hoje a Quinta do Gradil Sociedade Vitivinícola, SA factura 1 milhão de euros em vinhos e exporta 60% da sua produção. Literalmente para os quatro continentes: para a Ásia (onde a China absorve 50% do volume de vendas além fronteiras), Europa (Alemanha, França e Suíça, que representam 30% das exportações), África (PALOPs) e América (Canadá e Estados Unidos).
Curiosamente, o vinho do Cadaval que é consumido na China não é propriamente o mais barato nem é vendido a granel. “É vinho engarrafado e de qualidade. A China é um mercado que gosta de marcas e que facilmente fica fiel a um determinado tipo de vinho”, diz Luís Vieira. Já a França e a Suíça representam o “mercado da saudade”, graças à comunidade de emigrantes portugueses, enquanto que a Guiné, S. Tomé e Princípe e Cabo Verde, são os mercados menos exigentes.
Em Portugal as marcas Gradil vendem-se nas garrafeiras e no El Corte Inglês, mas o empresário não deposita grandes esperanças no crescimento do mercado nacional. “O esforço é lá para fora. É a única solução”, afirma.
É assim que o Brasil, Angola e o Canadá aparecem como os mercados mais promissores e todos num segmento alto.
Luís Vieira diz que produzir e vender vinho pode ser um bom negócio: “com dedicação e atenção, consegue-se bons resultados, mas desde que haja alguma capitalização porque as quintas só por si não se conseguem pagar a si próprias”.
Ou seja, este empresário não está sozinho. A Quinta do Gradil Sociedade Vitivinícola, SA beneficia de todas as vantagens de pertencer ao grupo Parras, SGPS, detido em grande parte por Luís Vieira e que factura 20 milhões de euros por ano. Trata-se de uma holding ancorada no sector agro-industrial, sobretudo vitivinícola, que possui, entre outras, uma empresa de engarrafamento em Alcobaça e uma transportadora rodoviária.
O empresário, que já viveu na Argentina onde montou uma empresa do sector cerâmico e participou em inúmeras actividades, confessa que sente uma especial predilecção por este projecto oestino. A prova é que quase todos os dias viaja entre Fátima e o Vilar para estar o máximo de tempo na quinta que tem visto crescer a olhos vistos.
“Para fazer vinho é preciso amor, carinho e muito cuidado. Mas pode compensar”, conclui.

- publicidade -

Turismo enológico uma boa aposta para o Oeste que deve merecer mais atenção

A quinta que pertenceu ao Marquês de Pombal possui um património interessante que se encontra degradado e a necessitar de urgente recuperação. O novo proprietário limpou o velho palácio e a capela, tirou-lhes as teias de aranha e segurou-os para não caírem de velhos. Mas o próximo passo é aproveitar as fachadas do edifício pombalino para no seu interior construir uma sala multifuncional de eventos, um wine bar, loja de vinhos e cozinhas de apoio. Um projecto de 2,5 milhões de euros que está parado tendo em conta o cenário de recessão, mas que há-de avançar e de cujo sucesso Luís Vieira não tem dúvidas, arriscando mesmo que metade da facturação futura da Quinta do Gradil pode provir dos eventos que nela se realizem.
Para já, as antigas cocheiras foram transformadas em sala de eventos onde têm decorrido alguns jantares e reuniões.
“Estamos a 60 quilómetros de Lisboa, a quinta é glamorosa, é agradável, e é fácil chegar cá”, diz Luís Vieira.
Em Setembro o empresário replicou para o Oeste uma actividade que já é normal no Douro e que também se realiza no Dão – uma experiência de vindimas na qual participou uma centena de pessoas, entre as quais alguns clientes estrangeiros que ali estiveram a cortar uva e a ver como é se faz o vinho que compram.
“Foi um sucesso. Se calhar para o ano já haverá mais gente a fazer isto no Oeste”, diz o proprietário, para quem a proximidade de outras quintas de prestígio não são um problema, mas sim uma oportunidade. É que, logo ao lado, no Bombarral, estão a Quinta do Sanguinhal e a Quinta dos Loridos. E na região há mais experiências de quintas que ganham novo fôlego.
“Quantos mais melhor”, diz Luís Vieira, salientando as vantagens de um cluster de quintas do Oeste que associe a produção de bons vinhos com turismo cultural e de eventos, numa nova dimensão do turismo experiencial que está em crescendo em todo o mundo.

- publicidade -