Workshop promovido pela Associação Nacional de Surfistas aponta para qualificação da oferta e segmentação de mercado como forma de gerar valor
A Associação Nacional de Surfistas (ANS) promoveu no dia 24 de outubro um workshop direcionado a operadores turísticos ligados ao surf, no âmbito da final da Liga MEO Surf, que se realizou em Peniche no passado fim de semana. Escolas de surf, alojamentos e agências de viagens reuniram-se para debater a qualificação da oferta turística no setor, naquela que foi a primeira sessão do Projeto Better Surf.
O recentemente eleito presidente da Câmara de Peniche, Filipe Sales, abriu a sessão sublinhando a importância estratégica do surf para o concelho. O autarca destacou que uma das prioridades estratégicas é o projeto de rebranding da marca “Peniche – Capital da Onda” como forma de afirmar o território e contribuir para os operadores turísticos locais. A estratégia passa por promover as ondas únicas da região, aliadas à gastronomia, natureza, eventos desportivos e sustentabilidade.
Luís Sousa, CEO da Mr. Travel Portugal, apontou uma diferença significativa no relacionamento entre operadores de surf e as agências de viagens especializadas (DMCs), algo que considera ser necessário inverter de modo a conseguir maior captação de um segmento alto de mercado. “Recebemos este ano três e-mails de empresas de surf a promover os seus serviços, mas recebemos 50 de empresas de barcos. Há mais escolas de surf do que empresas de barcos em Portugal, mas o modelo de promoção é diferente”, afirmou, referindo que operadores de golfe e passeios de barco estabelecem relações comerciais mais consistentes com as DMCs.
O responsável da Mr. Travel defendeu que há clientes dispostos a pagar 90 a 100 euros por aula privada de surf, valores comparáveis a outras experiências turísticas premium, como um bilhete de entrada no Palácio da Pena. A estratégia passa por trabalhar com casais e famílias que procuram o surf como uma de várias experiências em Portugal, e não apenas com surfistas dedicados.
Os oradores sublinharam a importância da certificação das escolas de surf como garantia de qualidade mínima para operar. “Devemos sensibilizar para a importância de trazer todos para dentro desta matriz de trabalho certificado, porque operadores informais trazem problemas para quem está a fazer as coisas bem”, alertou também Luís Sousa, referindo-se às certificações da Federação Portuguesa de Surf.
A formação contínua foi ainda apontada como fundamental, nomeadamente em línguas estrangeiras (francês, alemão, espanhol), atendimento ao cliente e sustentabilidade. A Liga MEO Surf já desenvolve ações de sensibilização ambiental nas comunidades que visita, com limpezas de praia em parceria com câmaras municipais, numa lógica pedagógica dirigida aos jovens.
Num registo diferente, Luís Cruz, CEO do Grupo MH Hotels, alertou para a necessidade de os operadores fazerem uma gestão rigorosa dos seus negócios. “Temos de saber quanto nos custa cada dia com a porta aberta, fazer contas de exploração, definir objetivos anuais e taxas de crescimento. Muitas vezes as pessoas não se sentam cinco minutos a olhar para os custos e proveitos”, afirmou, defendendo a importância de trabalhar não apenas o custo, mas sobretudo a receita.
Em relação ao mercado do surf, o responsável do Grupo MH Hotels destacou que o surfista representa um valor acrescentado, com grande impacto ao nível da estadia média. “São pessoas que ficam entre quatro a sete noites, face a uma ou duas do turista normal, e tem um gasto superior, especialmente fora da época alta”, argumentou.
Em Peniche, existem atualmente 1.288 alojamentos locais registados, um rácio de um alojamento por cada 22 habitantes, o que gera pressão sobre a comunidade local.
As parcerias locais foram apontadas como fundamentais para agregar valor a esta oferta e às condições naturais do concelho. Incluir almoços em restaurantes parceiros, visitas às Berlengas, ou outras atividades, permite oferecer pacotes integrados que facilitam a vida ao cliente e aumentam as receitas dos operadores, sublinharam os oradores.
Para Francisco Rodrigues, presidente da ANS, estes workshops são “uma iniciativa que faz sentido numa lógica de termos melhor turismo, e não só mais turismo de surf”, disse, acrescentando que o mercado global de turismo de surf está em franco crescimento, estimando-se que atinja os 32 mil milhões de dólares até 2032. “Como destino de surf, queremos que Portugal e os nossos operadores turísticos possam captar esse mercado de uma forma cada vez mais competitiva, e com maior qualidade na sua oferta”, concluiu.































