Projecto do IPL prevê a rentabilização de costumes locais da Lagoa de Óbidos

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O grupo de professores responsável pelo projecto

Um grupo de professores do Instituto Politécnico de Leiria apresentou uma candidatura ao PROMAR (Programa Operacional das Pescas) para a realização de um projecto que visa a criação de um plano interpretativo para replicar as diferentes actividades económicas e sociais, “algumas ancestrais”, relacionadas com a Lagoa de Óbidos.
O objectivo é que os turistas possam conhecer e compreender essas actividades económicas, ao mesmo tempo que permite que a comunidade local possa criar a partir desse serviço uma sustentabilidade económica.

Da actividade dos mariscadores ao “birdwatching”, a lagoa pode oferecer aos visitantes um pacote de experiências que os leve a passar mais tempo nesta região. “Não precisamos de criar nenhum parque aquático ou outra coisa desajustada da realidade, basta cuidar do que já existe e saber aproveitar as potencialidades da lagoa”, explicou à Gazeta das Caldas o coordenador do projecto, Mário de Carvalho.
Intitulado “Reconversão do Património e das Gentes do Mar”, o projecto tem como objectivo criar e desenvolver, com a comunidade local, diferentes actividades turísticas “num plano de efectiva cumplicidade rumo à sustentabilidade”.
A candidatura foi apresentada ao Gabinete de Acção Costeira do Oeste, cuja entidade gestora é a ADEPE (Associação de Desenvolvimento de Peniche), no item dedicado à recuperação do património material e simbólico da pesca do Oeste.
Os promotores pretendem criar um plano interpretativo desenvolvido a partir de um modelo que replicará as diferentes actividades económicas e sociais, “algumas ancestrais”, relacionadas com a Lagoa de Óbidos.
O projecto refere que, para além do valioso património natural, cultural e da enorme diversidade da fauna e da flora e do reconhecido potencial turístico, “a Lagoa de Óbidos debate-se com graves e diferentes problemas tais como a poluição (decorrente da utilização de embarcações a motor, descargas de esgotos domésticos e industriais, resíduos químicos resultantes das actividades agrícolas, lixo doméstico, entre outros), assoreamento, e sazonalidade turística”.
Outro dos grandes problemas da lagoa passa pela “falência das actividades económicas directamente relacionadas com a Lagoa (excessos na apanha de bivalves)”.
Os investigadores defendem, por isso, que “estes processos não só terão que ser travados por questões legais, como deverão ser alvo de processos que trilhem a responsabilidade social”.
O modelo a adoptar no âmbito do projecto irá privilegiar sobretudo a interacção dos visitantes com as comunidades locais.
A primeira fase do projecto passará pela realização de um diagnóstico e a seguir será redigido o plano interpretativo.
Mário de Carvalho acredita que com esta nova oferta por parte da lagoa, os visitantes ficarão mais tempo na região, o que beneficiará a economia local, nomeadamente a restauração, hotelaria e comércio.

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Acompanhamento de turistas seria fonte de rendimentos alternativa

O também professor do Instituto Politécnico de Leiria compara este projecto ao que foi feito com a observação de baleias e golfinhos nos Açores e onde, aliás, é natural, embora seja caldense por adopção. “Quando foi proibida a captura de cetáceos nos Açores pensava-se que toda aquela actividade iria morrer e se perderia toda a história, mas actualmente um dos motivos que mais turistas leva ao arquipélago é o ‘whale watching’”, explicou.
Na lagoa os turistas poderão vir a poder acompanhar os mariscadores na sua faina nas bateiras e depois de apanhar o berbigão “devolvê-lo ao mar”, evitando dessa forma a ruptura dos recursos disponíveis.
Seria também uma forma dos mariscadores terem uma fonte de rendimentos alternativa, principalmente quando a apanha para consumo do berbigão é proibida na lagoa. Como essa apanha teria apenas um cariz recreativo e não para consumo, poderia ser encontrada uma forma de a tornar legal.
“Desta forma também havia uma menor pressão para que fossem esgotados os recursos da lagoa”, considera.
“As populações locais irão não só beneficiar de diferentes infra-estruturas como participarão activamente nos programas e actividades a desenvolver no território”, é explicado no projecto.
Mário de Carvalho entende que, ao contrário do que habitualmente se defende, deve-se facilitar o acesso e usufruto dos espaços naturais pelas pessoas, como forma de proteger esses locais. Era também uma forma de se poupar verbas na vigilância contra incêndios e crimes ambientais porque são os próprios visitantes a “tomar conta” dos ecossistemas.
Os próprios passeios na lagoa poderiam ser melhor rentabilizados. “O valor que é cobrado actualmente por um passeio é irrisório”, disse Mário de Carvalho. Falta fazer uma promoção consistente que divulgue esta actividade e todo o seu potencial para o visitante.
O documento final que resultar do projecto, caso receba o apoio do Promar, será apresentado às câmaras municipais das Caldas e de Óbidos. “Nós vamos definir as boas práticas e os caminhos a seguir” cabendo depois as entidades públicas desenvolver ou não o que é proposto. No entanto, Mário Carvalho comentou que “é sempre difícil pôr Óbidos e Caldas a remar para o mesmo lado”.

 

Animação de verão na Foz é “um erro estratégico”

O investigador Mário Carvalho acha é “um erro estratégico” a forma como a Câmara das Caldas tem dinamizado a animação de Verão na Foz do Arelho e por isso ficou contente que se tivesse “acabado com o circo” que havia no areal.
Na sua opinião, a praia da Foz do Arelho “deve posicionar-se como um local tranquilo, onde se pode ficar descansado a ouvir o barulho das ondas”.
O caldense acha que se o objectivo for proporcionar “pão e circo para o povo” então o objectivo do programa “Verão Foz” é alcançado, mas não faz sentido considerar que desta forma se atraem turistas.
Para Mário de Carvalho é óbvio que é errado o caminho seguido pelo vereador Hugo Oliveira, que tem apostado nesta forma de dinamização de animação do Verão na Foz “do ponto de vista de construir um destino turístico”.
“É um perfeito disparate pensar que a Foz do Arelho pode competir com o Algarve ou com outras praias com areais enormíssimos e uma grande capacidade hoteleira”, defende o caldense.
Em alternativa a essas festas que se poderiam realizar em qualquer lugar, o investigador sugere que se criem eventos que tenham sustentabilidade e ligação à lagoa.
“Há poucos locais em Portugal com as condições que a lagoa oferece, mas ‘festas brancas’ há muitas”, comentou. No próprio concelho existem exemplos do que se pode ser feito a partir do que já existe, bastando ver, por exemplo, o sucesso crescente dos bailes no Nadadouro.

 

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3 COMENTÁRIOS

  1. Não será com o IPL que Óbidos e Caldas vão começar a remar para o mesmo lado.
    Só será possível com entidades aqui da região conhecedoras da realidade.

  2. Li com interesse este artigo e reconheço que projecto exposto pode ter grande validade. No entanto, porque já estudo esta temática há pelo menos 6 anos e tenho um projecto em curso que é do conhecimento das Câmaras de Caldas e Óbidos, das “Freguesias da Lagoa”, das Associações que conhecem a Lagoa- A Nostrum, A Pato, a Marcar o Ritmo, da OesteCim, do Turismo do Oeste, das Águas do Oeste, acho que devo referir:
    1. Existem já bastantes diagnósticos realizados. Diria dezenas. A Lagoa necessita, em alternativa de “Plano de acções” e de um “mecanismo para a acção”. Isso sim.
    2. Qualquer iniciativa na Lagoa, necessita o concerto com muitas Entidades, que têm que ser envolvidas, sob pena de nada se conseguir fazer.
    3. É necessário, também, desenhar uma formação para os agentes turísticos e “players”, pois são estas Entidades que têm que “realizar”o desenvolvimento, após serem mobilizadas.

  3. São essas associações de cariz regional, e não outras exteriores à região, as promotoras de um entendimento entre as autarquias. Agora mais ainda quando se fala na extinção de freguesias e concelhos. As Associações de municípios vão ter um papel importantíssimo.