A Porter Systems, empresa de dois caldenses que tem sede na Holanda e operação no Parque Tecnológico de Óbidos, lançou no passado dia 12 de Setembro dois produtos inovadores para aberturas de portas sem chaves e controlo de acessos. Ambos os produtos partilham a mesma plataforma, que poderá dar origem a ainda mais soluções no mesmo segmento de produtos.
Ter um sistema que dispensa a chave para abrir uma porta não é propriamente novo. No ramo automóvel grande parte das marcas dispõe de sistemas que dispensam a utilização da chave. No entanto, a inovação da solução da Porter Systems não passa pelo que faz, mas sim como o faz.
Imagine a fechadura da porta principal da sua casa e que a pretende automatizar. A solução que os dois empreendedores caldenses, Leonardo Lino e Pedro Esteves, desenvolveram obriga apenas a desapertar um parafuso, trocar o cilindro da fechadura pelo fornecido pela Porter (que é compatível com qualquer fechadura que utilize o sistema euro cilindro, o utilizado na maioria das portas na Europa) e instalar uma aplicação num (ou mais) smartphone com o sistema Android ou iOS.
O sistema dispensa instalações complicadas, como a electrificação da porta ou instalação de sistema de impressão digital, e tem como vantagens “a facilidade de utilização e um custo muito baixo”, aponta Leonardo Lino.
O cilindro automatizado funciona através de baterias internas com capacidade para cerca de 3000 ciclos, o que dará para cerca de ano e meio de utilização, e que são recarregáveis.
O funcionamento é relativamente simples: quando o utilizador se aproxima com o smartphone da porta, carrega no botão “Open Door” para a destrancar. O sistema comunica com os servidores da empresa, que validam o smartphone através da emissão de um código que acciona a fechadura via Bluetooth. Esse código é único e não é reutilizável, o que garante a segurança da aplicação em relação a outros produtos que operam, por exemplo, por telecomando. É que ao contrário destes, caso alguém consiga clonar o sinal com más intenções, o código clonado já foi descartado e não reabre a porta.
Do interior da casa o sistema dispensa a aplicação, é operado através de botões e possui protecção para crianças, impedindo que estas abram a porta inadvertidamente. Em caso de falha do sistema, a fechadura abre com uma chave normal.
O produto tem estado em testes e chega agora ao mercado nacional, através da loja online da empresa (em shop.porter.pt), onde pode ser adquirido por 299 euros. O principal alvo nesta fase é o turismo, nomeadamente o alojamento local, que tem muito potencial, tanto na região como a nível nacional.
A vantagem do Porter (termo inglês que significa porteiro) aplicado ao turismo é que permite dar, e tirar, acesso de forma instantânea a novos utilizadores. Desta forma, os proprietários não têm que se deslocar para entregar e recolher as chaves junto dos arrendatários. Basta dar acesso àquela fechadura a um novo utilizador e retirar o acesso findo o período do aluguer.
Pedro Esteves realça que o sistema também aumenta a segurança a este nível, porque actualmente ninguém garante que a pessoa que alugou é de boas intenções e não vai fazer uma cópia da chave.
Apesar de ter esse mercado como alvo, os empreendedores realçam que o sistema pode ser instalado numa casa comum e tem também potencial para hotéis, condomínios e outros.
SOLUÇÕES PARA EMPRESAS
Outro mercado importante poderão ser as empresas, cujas chaves são atribuídas não só a um número significativo de colaboradores, mas também a terceiros, como prestadores de serviços de manutenção. No caso dos clientes empresariais, é possível controlar quem e quando está a aceder às fechaduras, enviando notificações em tempo real para quem estiver a gerir os acessos. É também guardado um registo que pode ser acedido no computador.
De resto, Pedro Esteves e Leonardo Lino explicam que a raiz do produto foi mesmo esta solução empresarial e que foi testado em empresas na Holanda.
“Fizemos um teste piloto com uma empresa de seguros e sentimos que as pequenas empresas estão a precisar deste tipo de produto, até porque o investimento é pequeno, e como o tecido empresarial português é composto sobretudo de pequenas e médias empresas, temos aqui um bom mercado”, realça Pedro Esteves.
Na sequência do Porter, surgiu um segundo produto – o Porter Check-in. Como o próprio nome indica, trata-se de um sistema de controlo de acessos que também pode ter várias utilizações.
Uma aplicação prática para este produto é o sistema de picar o ponto em empresas. O Check-in funciona com a mesma plataforma do Porter, com uma aplicação adaptada para essa finalidade. A entrada e a saída podem ser dadas em instalações das empresas ou em áreas remotas. O funcionamento também é simplificado. Quando o colaborador chega ao local de trabalho é enviada uma notificação (que evita esquecimentos) para o seu smartphone, depois basta dar entrada ou saída, consoante o caso.
Para quem trabalha fora das instalações fixas, também é possível dar entrada e saída ao serviço em locais remotos, previamente definidos por geolocalização.
Também este produto tem como vantagem dispensar aquisição e instalação de hardware dispendioso, como sistemas de leitura de impressão digital, explicaram Leonardo Lino e Pedro Esteves. A empresa disponibiliza este serviço a partir de 99 euros por ano.
Leonardo Lino e Pedro Esteves salientaram que este serviço surgiu por solicitação de clientes do Porter e “como surgiu o Check-in podem surgir outros produtos, temos alguns em desenvolvimento”, adiantaram os empresários. O potencial existe em tudo o que tenha uma porta e cujo proprietário pretenda fazer um controlo de acessos e queira relatórios de quem acede.
A vantagem competitiva da empresa localizada no Parque Tecnológico de Óbidos é a oferta multiproduto numa só aplicação e a base numa plataforma que se encontra bem amadurecida. “A nossa visão sempre foi essa”, acrescentam.
Depois de consolidado o mercado nacional, o objectivo é a internacionalização, até porque o mercado para este tipo de produtos é global.
Uma ideia que nasceu em viagens para Lisboa
A Porter Systems foi criada em 2017 com sede na Holanda porque foi nesse país que Leonardo Lino e Pedro Esteves realizaram um programa de aceleração que deu origem à empresa. Mas a história que lhe deu origem começou um pouco antes.
Leonardo Lino e Pedro Esteves, ambos engenheiros informáticos, conheceram-se porque ambos trabalhavam na mesma start up holandesa, em Lisboa. Descobriram que ambos moravam nas Caldas, a escassas centenas de metros um do outro, e a partir daí começaram a partilhar boleia. As conversas durante as viagens permitiram-lhes perceber que tinham a mesma forma de pensar a resolução de problemas, e também levaram a pensar num projecto inovador para o controlo de acessos.
A ideia viu a luz do dia no Web Summit de 2016, para o qual levaram uma aplicação ainda pouco desenvolvida, mas que permitiu validar o conceito. A apresentação que fizeram proporcionou-lhes um convite para o programa Startupbootcamp Smart City & Living, na Holanda. Das 420 candidaturas submetidas, dez foram escolhidas e a Porter Systems foi uma delas. Aí nasceu a empresa, já no ano passado.
Após cumprido o programa de incubação, a Porter voltou a ter outra oportunidade de aceleração de empresas em Inglaterra, no TUS Dotforge, em Newcastle, promovido por um grupo económico chinês. Esta experiência incluiu um período na China, nas cidades de Pequim, Tsingtao e Shenzhen, onde os empreendedores tiveram oportunidade de reunir com duas empresas tecnológicas de relevo: a Foxconn (fabricante do iPhone) e a Tencent (dona do WeChat).
Terminado o período de incubação no exterior, a empresa voltou a Óbidos, onde tem agora os escritórios, apesar de a sede social se manter na Holanda. Aos dois engenheiros informáticos a empresa juntou já mais dois colaboradores.































