Plano estratégico do Bombarral com pouca definição e inovação

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parque copyNo passado dia 15 de Outubro foi apresentado o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU) para o Bombarral que aponta o turismo (Bombarral como complemento de Lisboa), a vinha (enoturismo) e a Pêra Rocha (associar o fruto ao concelho que é o maior exportador) como principais apostas. No auditório municipal, com apenas 60 pessoas, depois da apresentação, ouviram-se várias críticas: o plano não apresenta projectos, nem metas ou prazos a atingir, não tem inovação, criatividade nem ousadia. Ainda assim, é melhor do que não ter estratégia nenhuma, concordaram os vários intervenientes.

Susana Loureiro, em representação da SPI, empresa contratada para fazer o PEDU deste município (e também de outros concelhos e o plano da OesteCIM) apresentou o plano.
O trabalho da equipa da SPI começou com uma análise do Bombarral, percebendo o potencial concelhio para depois traçar a estratégia a seguir. Neste concelho as principais apostas serão no turismo, ainda que, conforme explicou a técnica, “não um turismo de massas, mas associado aos produtos” que existem no Bombarral, como o Budha Eden e o “património natural que deve ser valorizado” para turismo de experiência. A ideia é tornar o concelho num produto turístico de complementaridade a Lisboa.
O outro sector estratégico é agro-alimentar e, mais concretamente, a Pêra Rocha. Nesse sentido, a aposta será em associar o fruto ao local que o produz. “Pode haver sinergias interessantes no marketing territorial produto-território, que não está totalmente explorado”, disse Susana Loureiro. A ideia é pegar num produto que é conhecido internacionalmente e associá-lo a um dos principais concelhos que o produz.
O projecto de valorização do sector agro-alimentar terá a denominação de “Bombarral Rural” e o programa de valorização do sector turístico “Bombarral como destino de experiências”.
Foram apresentados sete programas estratégicos “que têm na sua génese necessidade de cooperação”, sem, no entanto, ser explicado em que se traduzem.
Haverá uma aposta na eficiência das empresas e dos aglomerados urbanos, na criação de empregos nos dois sectores estratégicos, no reforço dos laços da população com o concelho, na regeneração urbana, na educação (onde haverá um alinhamento com os sectores principais do turismo e agro-alimentar), na criação e participação em redes.
O Plano inclui ainda o suporte e apoio a programas de apoio ao envelhecimento activo e intervenção social, ao reforço da identidade local e qualidade de vida, à valorização territorial e à promoção do sucesso escolar e aprendizagem ao longo da vida.
Em termos de projectos intermunicipais o Bombarral, à semelhança dos outros concelhos da OesteCIM, verá a iluminação pública mudada para LED, receberá um reforço do fundo para a protecção civil e fundos para a requalificação de equipamentos escolares.
Neste concelho estão a ser preparadas 10 Áreas de Regeneração Urbana, uma na vila e nove em lugares do concelho.
Outras das ideias debatidas foi a interligação com o Budha Eden. “Todos nós sabemos que as pessoas saem da A8, vão ao parque, saem do parque e vão novamente para a A8”, José Vieira. Nesse sentido, “estamos em conversações com a administração do Budha Eden para encetarmos acções que consigam fazer a ligação entre o parque e o Bombarral”, completou o autarca.
A memória da batalha da Roliça também foi abordada. “Ainda não temos o almejado centro de interpretação da batalha da Roliça”, mas em 2016 o autarca diz que vai fazer “investimentos e parcerias” com entidades que comemoram as Linhas de Torres (sistema defensivo aquando das invasões napoleónicas).

MUITAS CRÍTICAS

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Depois de ser apresentado o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano para o Bombarral foi dada a palavra à plateia, de onde vieram várias críticas. A falta de informação sobre o parque temático, as semelhanças com o PEDRO (Plano Estratégico de Desenvolvimento da Região Oeste) de 1990, o reduzido número de contributos para o plano e a falta de participação dos cidadãos foram alguns dos aspectos criticados.
A maioria das pessoas considerou que este é um documento feito a pensar em quanto se pode arrecadar de fundos comunitários e não num exercício de cidadania. E apontaram a necessidade de rever o PDM interligando os dois planos, o PDM e o PEDU.
À critica à falta de informação relativa a acções concretas, metas e prazos, José Vieira afirmou que “o plano é muito mais que isto que apresentámos”. Mas não adiantou mais nada.
Nas últimas semanas Gazeta das Caldas solicitou à Câmara do Bombarral o acesso ao plano e à apresentação Powerpoint, mas o município não respondeu. A autarquia também não respondeu a um conjunto de perguntas sobre o PEDU enviadas pela Gazeta das Caldas.

Parque temático pode ser uma realidade em 2018
“Vamos ter parque temático, é uma questão de timing”, disse José Vieira, edil local, referindo-se ao parque temático alusivo à história, que terá 38 hectares (dois terços dos 57 hectares que ocupa a Disneyland Paris) e que representa um investimento de 53 milhões de euros. Pretende-se que este investimento, da Sky Towers, uma empresa de capitais privados ingleses que conta com a colaboração do caldense Manuel Remédios (responsável pelo projecto) e Hartley Booth (que foi ministro nos governos de Margaret Tatcher), crie 320 empregos.
O parque terá 28 aparelhos de diversão (entre as quais se encontra uma montanha-russa, uma roda gigante, um barco pirata, mini-golfe e cinema 4D). Segundo um estudo da própria empresa, deverá atrair 500 mil visitantes anuais, gerando 14,5 milhões de euros por ano. No primeiro ano esperam conseguir 6,6 milhões de euros de lucro bruto, baseando as suas estimativas num preço de entrada de 22 euros por pessoas e em gastos de 10 euros por visitantes em comida, bebidas, compras e fotografias, entre outros bens.
Outro dos atractivos será restaurante panorâmico na Sky Tower, que complementa a oferta de lojas, bares, restaurantes e centro de exposições disponível no parque.
O terreno onde este parque será instalado foi cedido pela autarquia por 60 anos, em troca de 200 mil euros de entrada, com uma renda anual de 100 mil euros e 5% da receita anual sobre os lucros de exploração.
Em Maio de 2013 Manuel Remédios havia contado à Gazeta das Caldas que depois de uma visita à Gruta Nova da Columbeira (com testemunhos arqueológicos atribuídos ao homem de Neanderthal há 30 mil anos a.C.) os investidores haviam ficado muito entusiasmados com a possibilidade de a integrar num percurso que ligue ao parque.
Segundo as últimas previsões, o parque deve começar a ser construído em 2017, abrindo ao público em 2018. As medidas da Declaração de Impacto Ambiental (emitida pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo), que permite a construção do empreendimento, perdem validade em Dezembro de 2018.
Para que este projecto seja uma realidade, o governo considerou o projecto de “relevante interesse público”, desclassificando 14 hectares da Reserva Agrícola Nacional. Só assim é possível avançar para a construção, apesar de a Câmara do Bombarral ter dado interesse municipal ao projecto e ter mostrado a abertura para alterar o PDM.
José Vieira afirmou não ter dúvidas de que este investimento será uma realidade, “embora aceite as dúvidas que pairam sobre quem não tem acompanhado o processo”. Assim, esclareceu, “aquilo que era o trabalho da Câmara foi feito. Demorou, demorou quatro anos”, mas foi concluído.
Este trabalho prendia-se com o ordenamento de território, “e agora a bola está do lado dos investidores ingleses que estão a fazer o seu trabalho de casa: a concepção dos projectos e uma série de tramitações”.

Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt

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