AMAL e OxyCapital compram empresa penichense e prometem investir 15 milhões de euros em cinco anos. Peniche espera ainda receber mais de 13 milhões de euros em investimentos na indústria conserveira que poderão criar mais 100 postos de trabalho.
É um novo fôlego para os Estaleiros Navais de Peniche. O grupo AMAL – Construções Metálicas, SA e um fundo de capital de risco gerido pela OxyCapital compraram por zero euros aquela empresa penichense, cujo maior accionista era o empresário Carlos Mota, e vão vocacioná-la para a construção de estruturas metálicas modulares destinadas a plataformas petrolíferas e de exploração de gás.
Uma fonte oficial da AMAL diz que será, contudo, mantida a actividade de construção e reparação naval, até porque só assim a empresa poderá continuar a operar em terrenos do porto de Peniche que pertencem à empresa pública Docapesca.
A compra por zero euros significa que os novos donos assumem o passivo dos Estaleiros Navais de Peniche, avaliado em 14 milhões de euros, devendo responder pelas dívidas para com os fornecedores, Segurança Social, Finanças e banca. O grupo AMAL espera investir 15 milhões de euros nos próximos cinco anos, criando 300 postos de trabalho.
Mas antes de aumentar o número de trabalhadores, é provável que os postos de trabalho actuais ainda diminuam. No ano passado os Estaleiros Navais de Peniche tinham 110 colaboradores, número que agora é de apenas 60. A salvo estarão os que tratam directamente com a actividade da construção e reparação naval.
A mesma fonte do grupo AMAL diz que a empresa vai construir embarcações para a pesca do cerco em Angola, mas que, numa primeira fase, será necessário “limpar” as instalações, modernizando-as e reintroduzindo programas de manutenção. A continuação do projecto Wave Roller, no qual os Estaleiros Navais de Peniche participaram com a construção de módulos de produção de energia a partir das correntes submarinas, está também no horizonte.
O grupo AMAL é especialista na construção de componentes metálicas para plataformas de petróleo e está presente no Brasil, França, Angola, Moçambique, Guiné Equatorial, Nigéria, Camarões, norte de África, Líbia, Eslováquia e Perú. Não faltará, por isso, mercado para a produção futura dos estaleiros penichenses.
A operação de compra é feita em conjunto com a OwyCapital, um fundo de capital risco que detém os grupos Cabelte, Prio Energy, Mota e Piedade.
Carlos Mota, o ex-proprietário dos estaleiros, diz que estes ainda têm em curso o fabrico de uma embarcação para Angola, bem como a reparação de alguns barcos. Em sua opinião, a crise explica a situação de endividamento da empresa, agravada pelo facto de Portugal não dispor de um mercado para a reparação naval dado o desaparecimento de grande parte da frota pesqueira. Por outro lado, no mercado global, o país dificilmente consegue competir com os grandes estaleiros holandeses ou alemães que se encontram no centro da Europa, próximos de centros logísticos que, para Peniche, ficam demasiado longe e tornam os seus estaleiros demasiado periféricos. O empresário diz ainda que o país não dispõe de uma boa diplomacia económica nem de “instituições financeiras portuguesas com a mesma capacidade das europeias para apoiar o sector naval”.
Para Carlos Mota, compete agora aos novos accionistas prosseguir com a exploração da empresa nesta actividade.
Esta é também a tónica do presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, que releva o facto de a actividade da empresa só continuar a fazer sentido naquele espaço (concessionado pela Docapesca) se for para construção e reparação naval.
“Não pode ir para outra actividade! Não pode ser apenas uma metalomecânica pois o contrato de concessão só faz sentido se continuar a ser estaleiro naval”, diz o autarca.
Investimentos de 13,3 milhões em Peniche
Num comunicado divulgado na sexta-feira, o secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, dizia que o investimento nos Estaleiros Navais de Peniche “integram-se plenamente na Estratégia Nacional para o Mar e constituem um sinal de determinação do governo em valorizar os investimentos estratégicos para o desenvolvimento da economia do mar em Portugal”.
Nesse documento o governo anuncia ainda investimentos de 13,6 milhões de euros na indústria conserveira para Peniche, no que foi confirmado por António José Correia. Na calha está a instalação ou ampliação das empresas Cofaco (detentora da marca Bom Petisco), Conservas Nero, Pescados Anastácio e Nigel que deverão criar 100 novos postos de trabalho. Projectos que, segundo o autarca eleito pela CDU, serão realizados no âmbito do Promar, com elevado co-financiamento de fundos comunitários.
Nos terrenos do porto de Peniche serão, assim, instaladas duas fábricas de conservas (Cofaco e Conservas Nero) e uma unidade de transformação de peixe (Pescados Anastácio). Esta última empresa é penichense, bem como a empresa de ultra-congelados Nigel que data de 1958 e deverá ampliar novamente as suas instalações.
Carlos Cipriano
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