Na Costa & Ferreira, o futuro do Pão de Rio Maior é artesanal e tecnológico

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Deborah Barbosa, atual CEO da empresa riomaiorense

Empresa realizou dia aberto em parceria com o IAPMEI para mostrar como introduz tecnologia para o processo de fabrico de um produto artesanal

A Costa & Ferreira, empresa responsável pelo pão de Rio Maior, abriu as portas no passado dia 16 de outubro para um Open Day inteiramente dedicado à inovação, numa iniciativa organizada em parceria com o IAPMEI no âmbito do programa i6.0 Indústria Sustentável. O encontro mostrou como uma empresa com um produto tradicional e artesanal pode introduzir tecnologia e ser inovadora, sem perder autenticidade.

Na Costa & Ferreira “nada substitui a pessoa”, afirmou Débora Barbosa, CEO da empresa. “Nós conseguimos desmaterializar, criar dados e promover tecnologia, mas nunca tirar as mãos da massa”, destacou.

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A história da empresa começou há 35 anos, quando o casal Rita e Joaquim Ferreira decidiu cozer pão por conta própria para garantir fornecimento a duas churrasqueiras, “porque o padeiro não entregava”, contou Deborah Barbosa. Desde então, o crescimento foi constante, sempre com o compromisso de preservar a autenticidade do pão artesanal.

A modernização, diz a CEO da Costa & Ferreira, é um caminho sem retorno. A empresa aposta em sistemas integrados, digitalização e análise de dados para melhorar a eficiência e tomar decisões informadas. Ainda assim, a automatização encontra limites. “Tentámos desenvolver um sistema para cortar o pão mais depressa. Fizemos muitos testes, mas não conseguimos. No nosso produto, nada substitui a mão humana”, contou a gestora.
Joana Bogalho, diretora de Inovação e Desenvolvimento, conta que, na empresa, inovar é “transformar ideias malucas em produtos que façam a diferença”. O departamento que lidera – e que tem o peculiar nome de Forno de Ideias” – trabalha não só em novos produtos, mas também em novos processos e tecnologias. O grupo é composto por pessoas internas e externas à empresas e não deixa ninguém de fora. Por exemplo, foi lançado um concurso interno para desenvolver produtos que vão de encontro à tradição do pão de outros países, que integrou trabalhadores estrangeiros.

Sempre com o princípio simples de ter pão feito à mão, com o mínimo de ingredientes e sem aditivos, já nasceram outros produtos premiados, como a Massa Mãe C&F, fermentada durante seis dias “à maneira antiga”, o brioche de Rio Maior, feito com manteiga em vez de margarina, ou o pão com vitamina D, criado a partir de ingredientes naturais. Até o desperdício é matéria-prima: o projeto Wasted Gin transforma excedentes de pão em bebida artesanal.

A sustentabilidade é, aliás, um eixo da estratégia. A empresa trabalha com universidades e centros tecnológicos para reduzir desperdícios, testar novas matérias-primas e estudar a pegada ambiental. “Inovamos também com os nossos fornecedores, porque se eles não inovarem, nós também não conseguimos”, observou Joana Bogalho.

Mas a inovação não vive apenas nas receitas. José Guedes, diretor de Operações, mostrou como a tecnologia está a remodelar a produção, na qual a automatização está a ser introduzida de forma seletiva. “Há tarefas que nunca vamos tocar do ponto de vista tecnológico. Não vamos automatizar nem digitalizar o fornear, o corte ou o formato que é feito à mão. Isso mantém-se como há 35 anos”, garantiu.

O que muda são as operações paralelas, como o transporte interno, o controlo de fornos e a preparação de massas. “Estamos a criar uma sala de controlo que nos permitirá visualizar em tempo real os dados de toda a linha de produção”, explicou José Guedes.

A dosagem de ingredientes e da água vão ser automatizadas, aumentando a precisão sem eliminar o fator humano. “A tecnologia ajuda-nos a ser mais rápidos e eficazes, mas o essencial continua a depender das pessoas”, sustentou.

E dessa introdução de automatistas e do investimento nas pessoas, a empresa já tem dados para mostrar. Em 2025, a produtividade por colaborador aumentou em 14%, enquanto o desperdício reduziu para menos de 1,5%. Também o absentismo caiu para 1,25%. “Há um maior compromisso e uma maior disponibilidade das pessoas”, destacou o diretor, atribuindo os bons números ao investimento na formação e nos prémios de produtividade.

Para a Costa & Ferreira, o segredo da modernização está em equilibrar a precisão dos dados com a sensibilidade das mãos, de modo a ganhar escala. “Queremos que o pão de Rio Maior seja tão conhecido como o pastel de nata”, rematou Deborah Barbosa.

Deborah Barbosa, atual CEO da empresa riomaiorense
A iniciativa incluiu uma visita guiada à fábrica, durante a qual os participantes puderam perceber como a empresa está a modernizar os seus métodos de produção
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