Mulheres arregaçam as mangas e dão exemplo nas empresas

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Há muitas líderes de empresas de referência no Oeste. Em comum, têm a ambição de fazer a diferença. Mesmo em áreas tradicionalmente ligadas aos homens

Sinal dos tempos. Há cada vez mais mulheres em cargos de liderança, nas empresas, nas escolas ou nas autarquias. E a velocidade a que a sociedade evolui só permite admitir que a tendência de empreendedorismo, nas próximas décadas, sobretudo no mundo dos negócios, se venha a acentuar.
Na região são muitos os exemplos de mulheres que estão ao comando, sobretudo nos negócios, alguns dos quais, tradicionalmente, estavam mais ligados aos homens. E muitas vezes sem que seja algo verdadeiramente planeado, como foi o caso de Marina Brás, que tomou conta da Frutóbidos após ter começado a colaborar com a empresa e recebeu um convite inesperado do fundador Joaquim Albano.
“Até por exemplos que tinha de pessoas próximas, que levavam sempre o trabalho atrás delas, tinha definido que sempre trabalharia por conta de outrém”, salienta a gerente da empresa, que teve um começo “complexo” no mundo dos negócios.
“Não sabia nada de negócios, não sabia nada de ginja, por isso foi um aprender muito rápido”, diz a empreendedora, que lidera uma das mais reconhecidas empresas da região na área da ginja e que procurou colher todos os ensinamentos do fundador da empresa, muitos dos quais ainda hoje aplica como empresária. “Sobretudo, saber ouvir o cliente”, adverte.

A entrada nos negócios é, deste modo, um ato de coragem, mas muitas vezes surge por impulso familiar. É o caso de Catarina Tacanho, proprietária do Grupo Correia Rosa, que, de resto, rejeita, por completo, o “estatuto” de empreendedora.
“Entrei no mundo dos negócios porque a farmácia era do meu avô, por isso tratou-se de uma continuidade. Ele é que era o verdadeiro empreendedor”, sublinha a farmacêutica, que apanhou “o comboio em andamento”, cabendo-lhe, todavia, “continuar a fazê-lo andar” e estar sempre atenta às novas tendências e da prestação de cuidados de saúde”.
O “berço” de Marta Pimpão, general manager da Ginja de Óbidos Oppidum, escancarou-lhe o caminho do empreendedorismo, mas, ainda assim, a obidense sentiu necessidade de testar outros limites, acabando, todavia, por dar sequência ao negócio familiar.
“Não decidi tornar-me empreendedora. Nasci numa família de negócios, pois a minha mãe tinha uma mercearia e o meu pai um táxi. Sempre os acompanhei, mas, mais tarde, decidi sair do mundo dos negócios. Fui estudar, tornei-me investigadora na faculdade, mas desiludi-me com a ciência e decidi voltar às origens”, recorda a empresária, fiel ao ditado que diz que o bom filho a casa torna.
Hoje em dia, Marta Pimpão gere a empresa e faz um pouco de todo, desde “criar uma estratégia de marketing” a “conduzir a empilhadora”, o que, por vezes, causa espanto em clientes e fornecedores, mas é mais uma prova de força e da capacidade das mulheres em áreas em que a tradição é masculina.
Também Manuela Sábio, gerente do Grupo Transwhite, se tornou empresária por influência familiar, acompanhando o marido na criação da empresa, em 2014, e fazendo uma formação em transporte de mercadorias.
“Foi nesse momento que sentimos verdadeiramente outro peso nos ombros e percebemos que seríamos empreendedores”, recorda a gestora, para quem a empresa que dirige tem “uma atitude diferenciadora” no mercado dos transportes, até porque tem várias mulheres como motoristas e casais a trabalhar em conjunto.
No caso de Carla Araújo, gerente da Calrai – Serviços de Restauração, o processo de tornar-se empreendedora foi, de certo modo, distinto. Depois de um percurso internacional em Angola, entendeu que “com o conhecimento que tinha adquirido e a maturidade pessoal e profissional”, era chegado o momento de ter uma empresa.Estudou as várias alternativas e decidiu, em 2019, adquirir o restaurante da McDonald’s nas Caldas, apostando no franchising para comprovar os dotes de empresária. A receita parece ter resultado, já que, entretanto, nem a pandemia a travou, dado que abriu mais um restaurante na cidade, em Santo Onofre, e outro na Nazaré.
Agarrar os desafios é uma característica que é comum a estas mulheres, com percursos de vida bastante diferentes. Porque ser empresária, nos dias que correm, é uma decisão que obriga a grande ponderação, sobretudo em setores tradicionalmente mais ligados ao mundo masculino.
Contudo, também há momentos em que a oportunidade faz o empresário, como sucedeu a Joana Tavares, que aceitou o “desafio do empreeendedorismo” e foi obrigada a tomar uma decisão rápida.
“Fui desafiada a fazer parte da empresa pela, agora minha sócia, Carla Mota e não tive muito tempo para decidir. Sabia que gostava de trabalhar na área da sustentabilidade e, por isso, quando surge o projeto como uma oportunidade, decidi agarrar a oportunidade. E foi assim há 12 anos”, relembra a sócia-gerente da PneuGreen Pavimentos, que continua apostada em “fazer diferente” num negócio próprio.

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Outras rotas para o sucesso
No caso da Auto Júlio, uma das maiores empresas da região, tem havido o que se pode dizer um casamento perfeito. Luísa Sousa gere o grupo com o marido, António Júlio, o CEO, numa parceria muito frutuosa.
“Trabalhamos juntos há mais de 20 anos, de dia e de noite. Cada um tem o seu gabinete, saímos de casa à mesma hora, mas em carros diferentes, por forma a evitar algum desgaste, que é normal que ocorra no meio desta atividade tão grande e tão complexa”, assume a empresária caldense, que muitas vezes esteve na retaguarda dos negócios. “O empreendedor é ele”, afiança Luísa Sousa, que não esquece os primeiros anos “difíceis” da empresa.
Ainda há muito caminho a percorrer e muita estrada para andar, mas uma coisa é certa: o lugar das mulheres no mundo dos negócios chegou para ficar, mesmo que alguns teimem em recusar a evolução dos tempos.
“Infelizmente, ainda continua a haver alguma discriminação, mas cabe a cada uma de nós demonstrar que merecemos estar em qualquer lado, temos capacidade e mostrar trabalho feito e obra feita”, considera Marina Brás.

Liderar equipas com homens é outro desafio

Empreendedoras consideram que sensibilidade feminina pode ajudar nalgumas tomadas de decisão

No mundo das empresas, a relação das mulheres empresárias ou gestoras com o sexo oposto nem sempre é fácil de gerir. Contudo, estas empreendedoras assumem que tomar decisões, liderar equipas e fazer negócios com homens não é um obstáculo intransponível.
“Trabalho com muitos homens, há respeito e, quando assim é, corre bem”, frisa Manuela Sábio (Transwhite), enquanto Luísa Sousa (Auto Júlio) diz que “felizmente, as mentalidades estão a mudar”. “Sou do tempo em que os homens não aceitavam de bom grado serem mandados por um elemento feminino, mas isso já está alterado”, afiança a empresária, que só por “mera casualidade” há mais homens que mulheres no ramo automóvel.
A discriminação negativa e positiva com as mulheres empresárias é algo que incomoda Marta Pimpão. “Estamos sempre sujeitos àquele piropo num evento, mas um homem também está, por isso temos de saber gerir as situações”, frisa a responsável da Oppidum, que quer estar no mundo dos negócios “por mérito próprio e competência e não por ser mulher”.
Nos primeiros anos enquanto empresária, Marina Brás (Frutóbidos) viveu “experiências do género de quererem negociar com o patrão”. “Quando me apresentava, a reação nem sempre era a melhor. Parecia que tinha de ser o patrão e o homem a agarrar as prensas, a carregar as caixas e a levar ao cliente. Mas não tem. O mundo é de todos”, nota a antiga bancária.

Diferenças na liderança
Mas, afinal, em que medida é, verdadeiramente, diferente a liderança entre homens e mulheres?
“Há diferenças, porque os homens e as mulheres são diferentes biologicamente, as mulheres são mais maternais, mas o que é positivo é quando homens e mulheres trabalham no mesmo sentido e conseguem ter o melhor de ambas as partes”, salienta Catarina Tacanho (Grupo Correia Rosa).
Já Carla Araújo identifica “características” nas mulheres, como a capacidade de adaptação, que “ajuda a enfrentar os novos desafios”, nomeadamente durante a pandemia, em que a empresária resolveu… manter os investimentos em curso, ajustando as operações nos três restaurantes McDonald’s que possui.
Na leitura de Joana Tavares (Pneugreen Pavimentos), as mulheres são mais resilientes. “Sei que a palavra resiliência está muito na moda, mas aplica-se mesmo neste caso. As mulheres têm de ter um jogo de cintura, saber gerir os problemas e seguir em frente”, salienta a gestora, para quem outro enorme desafio foi manter a atividade profissional durante a pandemia e continuar a cuidar da família.
“A pandemia foi muito difícil enquanto mulher-mãe, mas, enquanto empresária, estamos num setor de atividade que não foi afetado”, afiança uma das sócias da empresa de pavimentos em borracha reciclada, que no período de confinamento teve de lidar com dificuldades extra. “Tinha de ser uma boa mãe, mas também uma boa empresária. Creio que conseguimos carburar tudo isto. Parece que foi há muito tempo, mas foi só há uns meses”, salienta Joana Tavares.

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