Mira Amaral diz em Alcobaça que Passos Coelho não estava preparado para governar

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Luís Mira Amaral, presidente do Banco BIC, foi o convidado de um jantar-conferência que decorreu na passada quinta-feira, 25 de Julho, no Hotel Real Abadia, em Alcobaça. A intervenção do convidado foi subordinada ao tema “O Impacto da Situação Política na Economia e na Competitividade das Empresas Portuguesas”. Mira Amaral foi ministro do Trabalho e da Segurança Social de 1985 a 1987 e ministro da Indústria desde 1987 a 1995, sempre durante governos de Cavaco Silva.
Durante a sua intervenção, disse que Passos Coelho não estava preparado para governar porque o actual primeiro-ministro, aumentou taxas, convidando à evasão fiscal, acabando por fazer o mesmo erro que fez o governo de Durão Barroso e Ferreira Leite.
Segundo o antigo governante, a austeridade foi mal desenhada por Passos Coelho, o que fez com que o défice não se conseguisse reduzir. Além disso, o anterior ministro da Economia do seu governo, Álvaro Santos Pereira, não tinha poder, ao contrário do ministro das Finanças, Vítor Gaspar. Este último, mesmo sem experiência governativa, tinha na prática quase todo o poder.
Sobre Vítor Gaspar, Mira Amaral disse ainda que este tinha grande credibilidade em Frankfurt e que conseguiu a extensão das metas do défice usando a sua credibilidade externa. No entanto, quem teve o mérito para se conseguir essa extensão foram as empresas exportadoras que começaram a exportar para os mercados emergentes.
Para Mira Amaral, convém que o país comece já a pensar no “pós-troika”, pois mesmo que a “troika” saia do país, Portugal vai precisar da ajuda do BCE para comprar dívida pública portuguesa. Ou seja, o país vai continuar com as mesmas restrições macroeconómicas.
O convidado disse ainda que, no caso do pagamento das reformas, o sistema distributivo está mal elaborado. Actualmente, os reformados descontam dinheiro do seu salário para a Segurança Social, de modo a terem direito à sua reforma. No entanto, há quem receba a reforma sem nunca ter feito qualquer desconto na vida. Além disso, as reformas são ainda financiadas pela geração anterior. No caso da geração anterior ter menos pessoas no activo do que pessoas reformadas ou desempregadas, pode não haver dinheiro suficiente para pagar as reformas.
Em consequência, disse Mira Amaral, este governo decidiu cortar nas reformas e teve a ideia de criar a TSU por, assim, ser mais fácil atacar os reformados.
Quanto aos acontecimentos causados pela demissão de Paulo Portas, o ex-ministro considerou que o Presidente da República não actuou partidariamente e que o acordo entre o PS, CDS e PSD se deve vir a fazer futuramente.

CRÍTICAS AO PREÇO DA ENERGIA

Um tema preocupante para as empresas da região é o da energia. Tendo já o país reduzido a quantidade de CO2 produzida de maneira sustentável, e tendo até alcançado o terceiro lugar mundial no ranking do combate a essas emissões, Portugal deve concentrar-se na redução dos preços da energia. Ora isso não tem sido feito, ao contrário do combinado com a “troika”, disse Mira Amaral, que alertou ainda para o facto de o distrito de Leiria ter a rede de electricidade mais deficitária do país. A EDP, que deveria de investir na rede eléctrica nacional, gasta o dinheiro que ganha em Portugal em investimentos feitos nos EUA.
Outro tema que afecta mais as empresas é o da banca. Mira Amaral, sendo presidente do BIC, afirmou que a banca não deve usar o dinheiro dos depositantes para fazer negócios de risco, devendo sempre salvaguardar o dinheiro das pessoas.
Esta conferência foi organizada pela NERLEI – Associação Empresarial da Região de Leiria, que  conta actualmente com mais de 750 associados. O objectivo desta associação é chegar em 2015 aos 1000 associados.
A NERLEI intervém junto das autoridades de forma ajudar a resolver os problemas dos empresários, como, por exemplo, licenças de publicidade, os preços da luz e do gás ou a burocracia. O slogan é “agregar e investir”.

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Tiago Mota
tmota@gazetadascaldas.pt

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