Manuel Rodrigues Ferreira SA vende materiais de construção do Oeste para o mundo

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DSEm 1954, quando Manuel Rodrigues Ferreira começou a construir a sua casa na terra onde nasceu, no Pó (Bombarral), estava longe de imaginar como iria construir um império ligado ao comércio de materiais de construção. Este mês o empresário assinala 60 anos de actividade e apesar de ter passado a liderança da empresa a familiares ainda hoje vai à Zona Industrial e dá conselhos sobre o que fazer.
Actualmente a sua empresa deu a volta à crise apostando na reconstrução e recuperação de casas e na exportação, continuando, assim, a crescer. Tem 30 colaboradores e a facturação do ano passado atingiu os seis milhões de euros.

Manuel Rodrigues Ferreira tem 78 anos e é natural do Pó (Bombarral). Aos 18 anos, com a ajuda dos pais, começou a construir a sua casa na terra natal, ainda longe de saber que iria criar um império dedicado à venda e distribuição de materiais de construção.
Como o Pó era uma terra um pouco isolada e havia mais gente a querer construir, alguns vizinhos pediram ao jovem Manuel para lhe dispensar um ou dois sacos de cimento ou 50 tijolos. Viviam-se os anos 50 do século passado e à medida que comprava materiais para si, Manuel Rodrigues começa também a aumentar as encomendas para poder vender a outros. Deste modo, devido à construção da sua própria casa “acabei por me viciar em vender”, contou à Gazeta das Caldas.
Sem nada dever à memória, Manuel Rodrigues Ferreira lembra-se bem que no início do seu negócio “comprava o tijolo a 28 escudos o cento e depois vendia a 32. O saco de cimento custava 28$50 e eu vendia-o pelos mesmos 32”. Ganhava pois quatro escudos (dois cêntimos hoje), mas na época “era muito dinheiro”.
A obra da construção da sua casa foi concluída numa altura em que era o único que vendia materiais de construção no Pó. “Já tinha o meu próprio stock para vender e fui único durante uns sete ou oito anos”, contou Manuel Rodrigues Ferreira.
Em 1956, o empresário casou com Maria Eugénia, que era do Pó, e o casal teve duas filhas.
A empresa liderada por este empresário bombarralense vai passar por uma nova fase em 1962, “altura em que eu comprei esta menina”, conta, apontando para a fotografia de uma camioneta Bedford. Passados 50 anos, Manuel Rodrigues Ferreira ainda sabe a matrícula do carro de cor (HD-98-58).
A estima pela viatura é tanta que esta foi toda recuperada pelos serviços da firma. A partir do momento em que a adquiriu, “já era eu que levava o material aos clientes”, disse.
A partir de então Manuel Rodrigues Ferreira alarga a sua área de influência e passa a vender também no Reguengo Grande, Amoreira, Roliça, S. Mamede, conquistando sempre mais localidades. Ao fim de três anos de trabalho, “o carro já era pequeno” e, em 1965, o empresário trocava a Bedford por outro veículo com mais tonelagem. Passa dos 3500 quilos para 6804 quilos. Em 1970 esta camioneta foi substituída por uma outra com capacidade para 10.433 quilos e que continha uma báscula (braço mecânico para a descarga), que era uma novidade para a época. Entretanto foi adquirindo mais carros, aumentando sempre a sua frota. À Gazeta das Caldas revela ainda que depois teve um veículo com capacidade para 16 toneladas e foi sempre crescendo, vendendo e transportando materiais como areia, telha, brita, no fundo, “tudo o que dizia respeito à construção”.

Genros entram no negócio

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Durante os anos 70 a empresa continuou a crescer, mas no final da década a esposa de Manuel Rodrigues Ferreira adoece gravemente.
Carlos Monteiro e José Leal – genros e sócios da empresa – passam então a assumir o papel de liderança na firma do sogro sobretudo quando este tinha que se deslocar a Londres “na tentativa de proporcionar mais tratamentos à minha esposa”, disse o empresário.
Os genros acabam por deixar os seus empregos e negócios de família para passarem a dedicar-se a tempo inteiro aos materiais de construção.
Segundo Carlos Monteiro, 61 anos, um dos genros de Manuel Rodrigues Ferreira, “ambos tínhamos o nosso trabalho, mas com a doença da minha sogra viemos ajudar na continuidade do serviço”.
O patriarca afastou-se dos negócios naquela altura e acabou por começar a desvincular-se dos assuntos da firma.
Apesar de tudo, actualmente “dá-nos sempre uma ajuda e vem cá confirmar que tudo corre bem”, disse Carlos Monteiro, referindo às visitas do sogro e ao interesse que sempre manifestou pela firma.
Entretanto, com o segundo casamento do patriarca e com a entrada de mais familiares na empresa, os dois genros acharam melhor separar-se e, em 2005, José Leal sai da Manuel Rodrigues Ferreira para criar a LealMat passando a dedicar-se aos materiais de construção, decoração e bricolage.“ Hoje encaminhamos clientes para eles e vice-versa. Temos um bom relacionamento familiar e comercial”, disse Carlos Monteiro.

Entrega de materiais de construção por todo o país

A Manuel Rodrigues Ferreira possui na Zona Industrial 55 mil metros quadrados de área total, sendo que 3000 são de área coberta.
Já em preparação está a cobertura de mais 4300 metros quadrados, que são necessários para a protecção dos materiais destinados à reconstrução tais como pladurs, argamassas, tintas e isolamentos. Apesar de terem transferido a sede fiscal da empresa para as Caldas em 2013, a empresa tem um pólo da empresa no Pó, onde a firma teve origem, que possui 10.000 metros quadrados de área total, sendo 2.000 metros quadrados de área coberta.
“Todos os dias tentamos ir um pouco mais longe e apostamos muito na exportação”, disse o administrador, acrescentando que a empresa vende os seus materiais de construção para as empresas portuguesas que estão a operar em Angola, Moçambique, Brasil, Guiné, Guiné Equatorial e Cabo Verde.
A firma possui carros com descarga automática de materiais e fazem entregas nas ruas estreitas da Baixa ou na Mouraria (Lisboa). “Temos veículos dos mais variados tamanhos que correspondem às necessidades dos clientes”, disse o responsável. Não raras as vezes é preciso entregar material às três ou quatro da manhã e lá estão os funcionários da empresa caldense para fazer as entregas nos locais onde os clientes precisam.
“Não nos deixámos acomodar aos materiais tradicionais da pedra e tijolo e diversificámos por toda a gama de novos produtos e inovações ligadas à construção”, afirmou Carlos Monteiro, acrescentando que foram, por exemplo, os primeiros na região a ter grua com descarga automática.
A empresa dedica-se também à revenda e “oferecemos boas condições e descontos consoante a quantidade adquirida”.
Segundo o administrador, “40% do nosso volume de negócios dedica-se ao pequeno construtor, aquele que se dedica à reconstrução e renovação de casas”. E se há cinco anos a empresa trabalhava num raio de 50 quilómetros, para ultrapassar a crise “tivemos que apostar em entregas por todo o  país”, afirmou o responsável.
A empresa actualmente possui 30 colaboradores directos e facturou em 2013 um pouco mais de 6 milhões de euros (contra 5,9 milhões em 2012). Possui ainda uma frota própria de 13 viaturas (a maioria com grua e báscula) às quais se juntam mais quatro viaturas de aluguer permanente.
Carlos Monteiro orgulha-se ainda de que nenhum colaborador se tenha ido alguma vez embora incompatibilizado com a empresa. Há vários trabalhadores com 20 e 15 anos de casa, além de que actualmente 70% dos funcionários têm uma idade média de 30 anos. “Este ano entraram dois funcionários novos”, contou o administrador, acrescentando que se requer polivalência nos novos trabalhadores.
Entre os funcionários há a um engenheiro civil, um engenheiro informático, assim como elementos de gestão e do balcão com o 12º ano. Há vários motoristas e operadores de máquinas com formação especializada. A empresa tem sido anualmente distinguida com os prémios PME Excelência ou PME Líder.
Carlos Monteiro diz que actualmente “o mercado da construção nova está praticamente parado”. Há 15 anos nas Caldas “estavam a trabalhar cerca de três a quatro dezenas de construtores e hoje há dois ou três e apenas um a construir de novo”. Ao todo contavam-se nesse época 60 gruas no ar “e hoje não há nenhuma”.
É o mercado da reconstrução que agora mais conta no que diz respeito ao mercado nacional onde já pesa “70% do volume de negócios”. Além do mais, é preciso andar atento às novas tendências do sector “de modo a estar sempre na linha da frente para disponibilizar materiais inovadores aos clientes”, disse o administrador.
Carlos Monteiro contou ainda que teve que haver mudanças nas atitudes também no que se refere aos negócios.
Manuel Rodrigues Ferreira, que iniciou a sua actividade há 60 anos não imaginava o quão iria crescer a sua empresa. Os seus familiares e administradores da empresa, diz, são os primeiros a entrar e os últimos a sair. Todos têm cartas de condução de pesados, mesmo as mulheres da família.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

1954 – Início da actividade de Manuel Rodrigues Ferreira
1962 – Transporte dos materiais com primeiro veículo pesado
1982 – Gestão é assumida pelos genros, Carlos Monteiro e José Leal
2000- Empresa constitui-se como Sociedade Anónima
2005 – José Leal sai da firma e cria a Lealmat
2013 – Alteração da sede fiscal para as Caldas da Rainha

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