Maçã e pêra rocha com quebras de 30% na produção deste ano

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Pera

O INE divulgou na semana passada as previsões da produção agrícola para este ano, nas quais se esperam colheitas com menos 30% daquela fruta do que no ano passado. A comparação com 2009, no qual se bateram picos de produção, e razões climatéricas explicam esta diminuição.

“Esses dados estão correctos. O INE não tem equipas de campo e esses números são os que nós [produtores] lhes fornecemos”. Torres Paulo, da Frutus, uma empresa do Peral (Cadaval) que produz 15 mil toneladas por ano de pêra rocha, maçã e ameixa, diz que ao nível da pêra a quebra até é capaz de ser um pouco mais acentuada do que os 30% previstos pelo INE, mas na maçã é mesmo isso.

Para o também dirigente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha, esta descida explica-se por duas razões: “no ano passado a produção atingiu um valor recorde e era difícil haver outro ano assim. Estávamos à espera de uma quebra de 10 por cento. Os outros 20 por cento explicam-se por razões climatéricas, sobretudo na altura da floração, em Abril”.

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Esta descida na produção acompanha uma tendência europeia para este ano, embora seja mais acentuada em Portugal. Numa reunião havida em Kiev em 6 de Agosto, os representantes dos produtores europeus já tinham feito um prognóstico que apontava para uma quebra global média de 19% da fruta em Portugal, Espanha e Itália.

Apesar de tudo, a situação portuguesa não é dramática “porque quando a produção é demasiada os preços descem e no ano passado, devido ao pico de produção, tivemos pela primeira vez dificuldade em escoar tudo, coisa que não tinha acontecido nos anos anteriores”. A Frutus, que factura cerca de 7 milhões de euros por ano, exporta 80% da sua produção, sobretudo para Inglaterra, Irlanda, França e Brasil.

Torres Paulo diz que uma das coisas boas que tem acontecido ao seu sector nos últimos anos é ter andado em contra-ciclo com os países concorrentes (França, Espanha e Itália) com grandes produções em Portugal a coexistirem com quebras naqueles mercados. Mas não se pode ter sorte todos os anos.

Joana Arroz, secretária geral da ANP corrobora a opinião deste produtor e dirigente associativo. No ano passado houve um pico de produção e, por outro lado, a floração este ano não correu muito bem porque o Inverno não foi muito frio e houve chuva na época que fez cair a flor das árvores.

As consequências desta situação ainda não se podem saber bem. “Se os preços subirem em virtude da menor produção, a situação não é dramática; mas se não subirem devido à crise, aí a situação já pode ser dramática”, diz.

“Ao nível do sabor a fruta portuguesa é a melhor”

Há seis anos dedicado ao cultivo da pêra rocha, Dário Hermenegildo, de 33 anos, acredita que este ano não irá ser muito prejudicado com a descida na produção. “Pelo que vejo nas minhas árvores, não me parece que a descida seja muito grande”, diz, admitindo, contudo, que irá haver menos pêra do que o ano passado em que se atingiram recordes de produção.

Apesar das condições climatéricas da região Oeste serem consideradas quase ideais para a agricultura, Dário Hermenegildo referiu que este Inverno deveria ter chovido mais. A falta da água de chuva tem sido uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos agricultores. “As pessoas podem fazer furos para retirar a água, mas se não chover, a pouco e pouco começa também a faltar”, disse.

Em 2009 recolheu cerca de 240 toneladas daquela fruta. “Eu trabalho com a Granfer, uma central fruteira da região, e tudo o que produzo consigo vender para exportação”, referiu Dário Hermenegildo. Por isso, não tem sentido qualquer dificuldade no escoamento da fruta. No entanto, lamenta os preços pagos aos produtores, em comparação com aquilo que os consumidores finais pagam.

Por outro lado, o agricultor lamenta que a pêra rocha à venda em Portugal pareça ser de qualidade inferior à que é exportada. Na sua opinião, a melhor fruta vai para o estrangeiro e o que é português parece ser menos apelativo no mercado nacional, principalmente quando comparado com os produtos vindos de fora e que estão expostos ao lado. “Ao nível de sabor a nossa fruta é melhor, mas o aspecto do que se vende em Portugal é pior”, afirmou.

O empresário agrícola trabalha em conjunto com o seu pai e ambos estão actualmente a trabalhar sem parar, para a época da apanha. A maior parte dos 20 hectares cultivados são de terrenos arrendados junto à Lagoa de Óbidos, Serra do Montejunto, Cadaval e Bombarral.

Mão-de-obra da Tailândia para o Cadaval

“A falta de pessoal já levou a que tivéssemos de atrasar encomendas para o estrangeiro”, queixa-se Torres Paulo, da Frutus, que emprega 120 pessoas. Dezassete desses trabalhadores foram “importados” da Tailândia e estão desde Setembro de 2009 a viver no Peral.

“Foi tudo tratado através da embaixada. São quatro casais e nove senhoras. O embaixador da Tailândia até já os veio cá visitar duas vezes e estão todos satisfeitos. Nós e eles”. Torres Paulo diz que a opção por tailandeses se explica pela “cultura de trabalho” dos povos asiáticos e pela sua religião budista.

“Infelizmente, apesar de haver desemprego, os centros de emprego da região não conseguem suprir-nos as necessidades. Há pessoas que vêm trabalhar dois dias e desistem”, conta.

O empresário diz que paga “um bocadinho acima do salário mínimo” mais subsídios de refeição e que a empresa tem à disposição do trabalhador cantina e instalações sociais.

“Pago a 35 euros ao dia”

Por sua vez Dário Hermenegildo contrata 17 pessoas durante a época da apanha, a maioria das quais imigrantes dos países do Leste a quem paga 35 euros por dia (oito horas). Nos primeiros dois anos em que se dedicou a esta actividade contratava mais portugueses, mas tinha dificuldades em encontrar pessoas. Agora, há quatro anos que mantém uma equipa coesa que lhe tem dado mostras de fazer o melhor trabalho. “Nunca mais tive problemas de falta de mão de obra”, afirmou.

Este empresário agrícola diz que o preço pago por dia na apanha da pêra é em muitos sítios de 30 euros, mas prefere pagar um pouco melhor para que as pessoas trabalhem satisfeitas. “Antes de ser produtor também andei a apanhar pêra e acho que o trabalho deve ser bem pago”, considera.

Maçã de Alcobaça mais pequena e em menor quantidade

O presidente da Associação de Produtores da Maçã de Alcobaça (APMA), Jorge Soares, estima uma quebra de 30% em algumas variedades daquele fruto, nomeadamente na Royal Gala e em todas as variedades deste grupo, que são as mais exportáveis, e em todas as variedades de maçãs vermelhas.

A culpa é da chuva. “Muita humidade nos solos no início da Primavera, altura em que as plantas iniciam o seu ciclo biológico e brotam”. Esta é a explicação para esta quebra na produção. Já nas variedades não vermelhas, a diminuição não se deverá sentir tanto na quantidade de fruta, mas sim no calibre, o que fica a dever-se a duas semanas, no passado mês de Julho, de temperaturas acima dos 34 graus, “o que é nefasto para o crescimento e para a macieira”, explica este engenheiro agrónomo.

A APMA agrega 12 organizações de produtores numa área geográfica que se estende entre Torres Vedras e Porto de Mós. Um número que corresponde a um universo de 600 produtores, responsáveis por 1.500 postos de trabalho permanentes e por mais alguns milhares na altura da colheita. Uma pequena parte destes iniciou a colheita de maçã a 9 de Agosto e Jorge Soares prevê que em Novembro se dê por terminada a campanha, tendo em conta as variedades mais tardias. A colheita deverá rondar as 30 mil toneladas, menos 10 mil que no ano passado.

Mas a diminuição na quantidade de fruta não implica obrigatoriamente uma quebra nos ganhos dos produtores. É que no ano passado a sobreprodução registou-se ao nível da Europa e demasiada oferta acabou por se traduzir em “preços abaixo do normal e até do que é justo para a actividade decorrer normalmente”. Os cerca de 100 mil de toneladas de maçã produzida no Oeste em 2009, mais 10% do que em 2008, traduziram-se em menos cerca de 15 milhões de euros de receita (quebra de 20% relativamente ao ano anterior).

Uma das organizações de fruta que integram a APMA é a Narc Frutas – Cooperativa de Fruticultores da Região de Alcobaça, C.R.L. Sedeada em Alfeizerão, a Narc conta com nove produtores dos concelhos de Alcobaça e Caldas da Rainha.

Se no ano passado aquela cooperativa contou com uma colheita de cerca de 7 mil toneladas de pêra e maçã (o que corresponde a receitas na ordem dos três milhões de euros), este ano deverá contar com uma produção a rondar as 5 mil toneladas. “Vamos ter fruta mais pequena, logo com menos peso”, explicou ao nosso jornal uma fonte da organização de fruticultores. E a quebra rondará os 25% relativamente a 2009.

Os produtores da Narc iniciaram a apanha da fruta na passada segunda-feira, dia 23, duas semanas depois do que é hábito. A empreitada deverá prolongar-se até meados de Outubro e envolve largas centenas de pessoas. Grande parte da fruta que está neste momento a ser apanhada destina-se ao mercado estrangeiro, uma vez que a Narc exporta entre 40 e 60% da sua produção.

 

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