A fileira de produção da maçã de Alcobaça (cuja área geográfica se estende de Leiria a Torres Vedras) facturou 40 milhões de euros em 2010 e emprega 2500 pessoas. Produtores dizem que a distribuição tem um peso excessivo na formação do preço e queixam-se também da banca e do preço da energia.
Desde os pomares aos armazéns, da calibragem à produção de sumos e polpa, o cluster da maçã de Alcobaça dá emprego a 2500 pessoas, das quais, cerca de 500 são trabalhadores qualificados da área da engenharia agrícola e alimentar. O ano passado foram produzidas 40 mil toneladas desta maçã que representaram uma facturação de 40 milhões de euros.
Ao contrário da pêra Rocha, que exporta quase 80% da produção, a maçã de Alcobaça fica-se com 15% de vendas para o estrangeiros, tendo Inglaterra, Irlanda, Angola e Cabo Verde como principais destinos.
Jorge Soares, presidente da Associação dos Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), diz que a internacionalização não é uma aposta estratégica porque ainda há muito espaço em Portugal para este mercado crescer, substituindo até a maçã importada.
Graças ao associativismo dos produtores e ao maior peso da componente agro-alimentar, este sector de actividade oestino tem vindo a crescer. Hoje em dia procura-se acrescentar valor à produção que sai dos pomares e daí a existência, por exemplo, de maçã fatiada em embalagens de plástico e em sumos com elevada densidade de polpa.
Não admira, assim, que haja cada vez mais engenheiros e técnicos de qualidade à saída das linhas de produção agro-industriais que este fruto proporciona.
Mas nem tudo são rosas. Apesar de o volume de negócios deste sector ter vindo a aumentar e de a recessão não estar a afectar as vendas, Jorge Soares aponta alguns constrangimentos que exigem uma maior intervenção do Estado.
“Não reclamamos subsídios nem somos a favor deles. Mas queremos que o governo regule o mercado e os oligopoderes que nos espartilham”, diz Jorge Soares.
E que oligopoderes são esses? As energias, a banca e a distribuição. Sem energia não há regas, não há tractores no campo, nem unidades de armazenamento nem linhas de produção. Sem banca não há crédito. E sem a distribuição não há escoamento do produto, sobretudo para as grandes superfícies.
“Só que os três atingiram uma posição assustadora que violenta a relação com os produtores. Sobretudo a distribuição tem um peso excessivo contra o qual nós nada podemos. São eles que ditam os preços”. Jorge Santos diz que em 1992 havia 15 insígnias de supermercados para os quais vendiam maçã de Alcobaça, mas hoje há apenas cinco.
“É um processo de concentração que não foi favorável aos produtores nem aos consumidores”, desabafa o presidente da AMPA.
Esta associação conta com apenas 13 associados, mas estes representam por sua vez produtores de maçã de Alcobaça. São cooperativas agrícolas, sociedades anónimas, sociedades por quotas, agrupamentos de produtores que resultaram de um processo de fusão nos finais da década de oitenta de uma miríade de pequenos produtores.
“Quando abriram as fronteiras fomos invadidos nos primeiros tempos por maçãs espanholas e francesas, mais baratas, mas de pior qualidade. Ora a maçã de Alcobaça é mais saborosa e mais aromática. Tem características únicas no mundo que fazem dela um produto ímpar. A solução foi associarmo-nos e criarmos massa crítica para enfrentar este desafio”, conta este dirigente.
Um primeiro passo foi dado com a criação de uma área protegida que agrupava os concelhos de Alcobaça, Porto de Mós, Nazaré, Caldas da Rainha e Óbidos, ou seja, o equivalente aos coutos de Cister, evocando-se um tempo em que os monges de Alcobaça dominavam este território.
Mas o pragmatismo levou a considerar uma área mais alargada e em breve também os concelhos de Bombarral, Cadaval, Torres Vedras, Lourinhã, Peniche, Rio Maior (este só parcialmente), Batalha, Marinha Grande e Leiria passaram a integrar a área protegida deste fruto.
“A maçã de Alcobaça é um fruto que é produzido numa especificidade climática e de solos que se situa entre a Serra do Montejunto, a Serra dos Candeeiros e o mar”, explica o também engenheiro agrónomo Jorge Santos.
O clima do Oeste, com orvalho, arrefecimento nocturno e sem calor excessivo, e solos férteis com 150 milhões de anos, propiciam um fruto muito rico, não em água, mas em sais minerais e em substâncias fitonutrientes. Uma das suas características é o aroma, difícil de encontrar noutro tipo de maçãs.
A produção desta maçã – que existe nas variedades Casa Nova, Golden, Granny Smith, Jonagored, Reineta, Galaxy e Starking – obriga a regras muito apertadas para os agricultores, entre elas o não uso intensivo de pesticidas e a adopção de biotécnicas na captura de insectos maus.
Por exemplos, as joaninhas, que quase desapareceram dos campos, comem 50 piolhos por dia e hoje proliferam pelos pomares como um meio de combate às doenças que afectam as árvores.
Além de fruto biológico, esta maçã só é comercializada para os supermercados e para a exportação nas categorias “extra” e 1, sendo as categorias 2 e 3 escoadas para os mercados tradicionais, marcas brancas e indústria agro-alimentar (sobretudo sumos e iogurtes).
É graças a estes cuidados e a uma rigorosa escolha que esta maçã do Oeste é consumida em Inglaterra nas escolas públicas daquele país.
A importância dos pomares no sequestro de dióxido de carbono
Um camião carregado com 22 toneladas de maçã transporta consigo o equivalente a 220 dias de trabalho, ou seja, um posto de trabalho anual.
Portugal importa 5000 camiões de maçã por ano, o que significa que se essa fruta fosse produzida no país, haveria mais 5000 postos de trabalho, o mesmo é dizer, menos 5000 pessoas desempregadas.
É nestes cálculos – que resultam de um estudo da APMA – que Jorge Soares se baseia para afirmar que a exportação não é uma aposta estratégica para o sector. Na verdade, há em Portugal muito espaço para crescer no consumo de maçã de Alcobaça que, indirectamente, criaria postos de trabalho.
Outra razão para o consumo de fruta portuguesa envolve questões ambientais. Um pomar do tamanho de um campo de futebol (1 hectare) sequestra 30 toneladas de dióxido de carbono por ano, “o que significa que a nossa actividade tem um balanço ambiental positivo”, diz o mesmo responsável.
Daí que, se em vez de Portugal importar os tais 5000 camiões de maçã por ano, a produzisse cá, isso equivaleria a sequestrar uma maior quantidade de dióxido de carbono. Para já não falar nas emissões provocadas pelo transporte rodoviário de fruta.
Como o transporte ferroviário de mercadorias em Portugal é residual (apenas 4% das mercadorias importadas viajam de comboio), o transporte da fruta tem um forte impacto ambiental. Desde Alcobaça para Lisboa, um quilo de maçãs produz 200 gramas de CO2 para percorrer os 100 quilómetros entre as duas cidades. Mas se essas maçãs forem franceses o seu transporte do centro de França para Lisboa libertou quatro quilos de CO2 para a atmosfera.
Pior ainda é o transporte de fruta em avião. Uma manga de 1 quilo que viaje de avião do Brasil para Portugal produz 40 Kg de CO2.
E é com alguma ironia que Jorge Santos deixa a pergunta: “ainda é preciso insistir sobre a importância de consumirmos produtos agrícolas portugueses?”
Campotec – a empresa de poucos lucros que existe para acrescentar valor às matérias-primas
Há uma empresa em Silveira (Torres Vedras) que existe não para maximizar o lucro para os accionistas, mas sim para acrescentar valor aos produtos que compra …aos próprios accionistas.
Complicado? A Campotec – Comercialização e Consultoria em Hortofrutícolas SA é detida por 80 produtores agrícolas, dos quais 30 são fruticultores e 40 horticultores. Recebe dos seus associados os produtos que estes produzem, classifica-os, conserva-os, normaliza-os e comercializa-os.
Alguns são transformados, como é o caso das bolsinhas de plástico com maçã fatiada que são vendidas nos Mac Donalds. Em 2010 a empresa produziu 1 milhão destas embalagens, cujo interior tem uma atmosfera modificada, isenta de oxigénio e devidamente higienizada para poder manter as fatias de maçã tão frescas como se acabassem de ser cortadas.
Este produto entra no conceito de snack saudável e é uma aposta ganha do ponto de vista conceptual, mas com um longo caminho ainda a percorrer na distribuição para poder vender-se de forma massificada em cafés, pastelarias, supermercados.
Jorge Santos, administrador da empresa, reconhece que há dificuldades na distribuição e refere uma experiência, fracassada, de venda nas escolas, no âmbito de uma campanha de alimentação saudável.
Actualmente a Mac Donalds é cliente de mais de metade da produção destas embalagens.
Outra componente da Campotec é a produção de saladas de fruta e de legumes, cenouras fatiadas e soupas. Possui ainda uma linha de 50 referências de legumes descascados e cortados para vender directamente a restaurantes e hotéis. No total são processados nas suas instalações em Torres Vedras 30 milhões de quilos de produtos por ano.
Com 160 trabalhadores, que chegam aos 220 na altura das colheitas, a empresa escoa 95 por cento da sua produção para cinco clientes: Sonae, Pingo Doce, Lidl, Mac Donalds e Frustock.
A empresa facturou 18 milhões de euros em 2010 e só obteve lucros de 100 mil euros. E é esta a resposta sobre a sua missão de gerar valor acrescentado aos seus fornecedores-accionistas.
“Criamos a Campotec para servir as empresas agrícolas que não teriam viabilidade se trabalhassem isoladamente. O nosso objectivo é valorizar os produtos dos nossos accionistas e repassar o máximo de valor obtido para as matérias-primas”, explica Jorge Soares.































