
A Licóbidos, empresa responsável pela produção do licor de ginja Mariquinhas, comemora em 2017 os 25 anos de actividade e atravessa uma fase de grande crescimento. A família Cavalheiro, que produz o licor desde a árvore até ao engarrafamento, pegou numa receita com perto de 70 anos e levou-a da taberna da família no Sanguinhal (Bombarral) para o mundo. A empresa tricplicou nos últimos cinco anos a produção com um produto 100% natural e artesanal.
A empresa foi fundada em 1992, no Sanguinhal, de onde é originária a família de Cristina Cavalheiro e também o licor que produz. A receita remonta a 1949, do avô da empresária, Abílio Ferreira de Carvalho. “Ele fazia licores e com eles fornecia a mercearia e a taberna que tinha, que já era dos pais dele e ainda está na nossa família”, conta.
Quando em 1992 decidiu estabelecer-se juntamente com o marido, Pedro Cavalheiro, a aposta foi neste licor que era uma paixão da família e também uma bebida conceituada na região. “Achámos muito interessante crescer com este produto”, sustenta.
Foi em 2011 que a empresa deu, no entanto, passos decisivos para o seu desenvolvimento, a vários níveis. Mudou-se do Sanguinhal para a Zona Industrial de Óbidos, situada na Ponte Seca, onde passou a ter maior capacidade de armazenamento, produção e embalamento. Bernardo Cavalheiro, filho do casal, entrou na empresa para tomar conta do processo de produção do licor e também para liderar o processo de exportação, que também se iniciou nesse ano. E foi lançada a marca Mariquinhas, o que fez igualmente parte da estratégia de crescimento.
Inspirada no fado, a marca Mariquinhas apela às tradições portuguesas a pensar no mercado da saudade. O logótipo, um coração em filigrana, retrata a paixão da família neste produto. “Passámos de um licor regional a nacional e queremos que seja um produto mundial”, afirma Cristina Cavalheiro.
A Licóbidos tem crescido de forma gradual e controlada. Entre 2011 e 2016 triplicou a capacidade de produção, que ronda os 120 mil litros de licor. A meio do processo, em 2013, alargou as instalações a um segundo pavilhão, que visou dotar a unidade de uma linha de engarrafamento automatizada, capaz de encher 2000 garrafas por hora.
Todo o processo de produção é artesanal e está certificado como tal. A única fase que está parcialmente industrializada é o engarrafamento. “Entrar noutros mercados implica ter capacidade de resposta às encomendas e o processo industrial permite reduzir os custos e o preço final”, explica a empresária.
Constante tem sido o aumento da capacidade de maceração, que é hoje de 140 toneladas de fruta, que garantem a produção actual de licor.
NOVOS MERCADOS POTENCIAM VENDAS
O reforço da produção acompanhou o aumento da procura, o crescimento das vendas e a expansão da marca, que todos os anos chega a novos mercados.
Em 2015 a empresa teve um volume de negócios que rondou os 700 mil euros e este ano continua em expansão, o que em boa parte se deve à entrada em novos canais de distribuição.
Até agora as vendas eram feitas quase em exclusivo em lojas gourmet e garrafeiras. Mas entretanto a empresa entrou no canal de distribuição dedicado à hotelaria e restauração (Horeca) e nos super e hipermercados.
“As pessoas cada vez mais compram no hipermercado por facilidade. Não era o nosso objectivo há uns anos, mas para crescer temos que nos adaptar”, diz Cristina Cavalheiro.
Em apenas três meses, o mercado da grande distribuição passou a representar 30% das vendas, o que perspectiva que o crescimento pode continuar em 2017.
Mesmo assim, 70% do mercado da ginja Mariquinhas continua a ser o comércio tradicional e este não é, de todo, descurado. “Apostamos noutras linhas que não estejam na grande distribuição, linhas gourmet que se adaptem a vários tipos de mercado”, acrescenta. O produto é o mesmo, a diferença está na embalagem. Algumas destas garrafas destinadas ao comércio tradicional são inclusivamente enchidas em processos manuais.
São também desenvolvidas embalagens com design alternativo e kits que incluem os famosos copos de chocolate. Existe na equipa um designer interno para desenvolver de forma constante este tipo de embalagem apelativa.
O trabalho de promoção é extremamente importante para a empresa. “Há 25 anos ninguém sabia o que era licor de ginja no Norte do país e já lá estávamos a fazer promoção, ajudámos a tirar a ginja da região, passámos de um produto regional para nacional, queremos fazer o mesmo lá fora”, observa Bernardo Cavalheiro.
Um trabalho que está a ser feito de forma gradual. Em 2015 a exportações significaram 5% do total de vendas. Este ano a proporção poderá ser o dobro.
Hoje a empresa comercializa o seu licor para 20 países, sobretudo da Europa e da América do Norte, mas também Brasil, Angola, China e Japão. Aqui o processo é visto a médio e longo prazo. “Temos clientes que compram uma caixa, pode ser que no próximo ano comprem 10 caixas e daqui a uns anos possam comprar duas paletes”, sublinha Bernardo Cavalheiro.
Os prémios conquistados a nível internacional dão uma ajuda. “Torna mais fácil convencer quem não conhece a experimentar”, diz Cristina Cavalheiro.
SEMPRE EM BUSCA DE NOVOS PRODUTOS
O licor de ginja é o core business da Licóbidos, mas a empresa não descura a inovação. Tem lançado novos produtos e continua numa constante procura de diversificação. Relacionado com a ginjinha foi lançada uma bebida que junta o licor ao chocolate com um toque de picante, aproveitando o fenómeno de popularidade da ginja em copo de chocolate.
A empresa também produz uma trufa artesanal de chocolate preto que tem no recheio de licor e uma ginja descaroçada, que é produzida em parceria com uma doceira do Bombarral.
Existem mais produtos em desenvolvimento, que a empresa não quis para já desvendar. “Os nossos ginjais são novos, vão estar no auge de produção dentro de três anos, por isso temos que encontrar soluções para dar escoamento ao fruto, com licor ou outros produtos”, refere Bernardo Cavalheiro.
Este ano foi ainda lançado um primeiro produto que não está ligado à ginja, um licor de limão que se chama Limão do Céu. Trata-se da versão portuguesa da bebida italiana limoncello. É também uma bebida 100% natural, que resulta da maceração da casca de limão de Mafra numa solução hidroalcoólica. É uma bebida de Verão, que se pode beber com gelo ou em cocktails. Este ano foram produzidas cerca de 5 mil garrafas, no próximo a produção poderá ser maior.
Um negócio de família desde a árvore ao licor
A ginja Mariquinhas é um negócio de família, que integra pai, mãe e filho. Tudo começa com a produção agrícola, na qual a Licóbidos é autos-suficiente.
Esta é responsabilidade de Pedro Cavalheiro, que cedo começou a testar as espécies de ginjeira que melhor se adaptavam ao clima da região e às especificações do fruto para a receita.
São mais de 20 mil ginjeiras plantadas em três terrenos, no Salgueiro, na Vermelha e em A-dos-Ruivos, num total de 17 hectares. Pedro Cavalheiro desenvolveu pomares modernos e portes de enxerto próprios para serem árvores pequenas e produtivas.
Nem o processo de apanha fica ao acaso. A Licóbidos detém a única máquina de colheita de ginja do país, num investimento superior a 100 mil euros. “A ginja é um fruto cuja apanha manual é cara”, refere Bernardo Cavalheiro, pelo que o desenvolvimento a este nível rentabiliza custos.
Se o processo de maturação for uniforme, a máquina garante cerca de 90% da colheita, a restante será manual.
Colhido o fruto, este é limpo, seleccionado e colocado nas cubas de maceração, numa solução hidro alcoólica, com álcool proveniente de cereais, de produção nacional e que não tem aroma, de modo a não influenciar as características de sabor do produto final.
O processo de maturação nas cubas de inox dura no mínimo seis meses. “Tento que o consumidor não note diferença de lote para lote, mas é um produto natural e mesmo quando está na garrafa está sempre a envelhecer, pelo que uma garrafa de 2015 não vai ser igual a uma de 2014”, observa Bernardo Cavalheiro.
À solução é ainda adicionado um xarope de açúcar que também é produzido pela própria empresa. “É o que lhe confere a melosidade que caracteriza o nosso licor”, diz Cristina Cavalheiro.
Todo o processo é artesanal e não são acrescentados quaisquer aditivos. “A cor, o aroma e o sabor do nosso licor é dado pela ginja que cultivamos e o segredo é a acidez do fruto”, acrescenta Bernardo Cavalheiro.
Antes de ser engarrafado, é corrigido o teor alcoólico e feitas as análises laboratoriais necessárias.
Actualmente está a ser desenvolvida uma versão envelhecida da primeira colheita que recebeu a denominação de ginja Mariquinhas, da colheita de 2011. Trata-se de um lote de 1088 garrafas, das quais apenas 600 serão postas à venda e que são uma homenagem ao criador da receita, Abílio Ferreira de Carvalho.































