Jovens empresários desenvolvem pastelaria saudável no Landal

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Pastelaria Saudável no Landal - Gazeta das Caldas
Miguel Santos e Tiago Cardoso estudaram juntos no Estoril e acabaram por se tornar sócios na empresa com sede e actividade no Landal - Joel Ribeiro

A Quinta da Senhora do Ar, Lda. foi fundada há cerca de um ano e meio nos Rostos (freguesia do Landal) e tem como sócios dois jovens de 22 anos, Miguel Santos e Tiago Cardoso, que propõem uma oferta de produtos que podem revolucionar a pastelaria doce e salgada. Comer um bolo ou um pastel é visto como um “pecado”, devido ao excesso de açúcar, sal ou gordura destes produtos tão típicos dos hábitos alimentares portugueses, mas esta empresa tornou-os saudáveis ao reduzir drasticamente estes ingredientes inimigos da saúde.

A investigação para o desenvolvimento de sobremesas doces com baixo teor de açúcar e de pastelaria salgada com menos sal e pouca gordura, foi potenciada pela publicação de um despacho do Ministério da Saúde no ano passado. O documento passou a proibir nas cafetarias das unidades de saúde produtos como rissóis, croquetes, pastéis de bacalhau, ou pastéis de massa folhada, pães com recheio, croissants e outros bolos com teores de gordura e açúcar superiores a 20 gramas por cada 100 gramas de produto.
“Para o mercado em geral foi um grande desafio, porque nunca se resistiu a esses produtos e as empresas não estavam preparadas para responder à exigência desta mudança”, conta Miguel Santos à Gazeta das Caldas.
Os dois empresários tiveram a seu favor neste desafio o facto de serem jovens e terem formação em hotelaria. “Ter formação foi fulcral para esta reformulação estratégica de pegar no que existe, no que as pessoas gostam de consumir nestes locais e de os adaptar com base na legislação”, refere Miguel Santos.
A empresa tem já no mercado uma gama completa que substituiu os tradicionais rissóis e pastéis fritos de carne, peixe, camarão e bacalhau. “Mantivemos as bases dos sabores tradicionais, mas são pastéis integrais, nos quais eliminámos a fritura”, explica Miguel Santos. O empresário nota que a Quinta da Senhora do Ar é “pioneira nesta área, que parece simples, mas que é muito complexa ao nível da conjugação dos sabores com redução drástica do sal. Foi um desafio tremendo”, acrescenta.
Estes produtos estão já a ser distribuídos através do “maior distribuidor ao nível das cafetarias de hospital do país”, observa. A procura por este tipo de produto tem tido um forte crescimento e Miguel Santos diz que a empresa está capacitada para dar uma resposta ainda maior.
No mercado está também já uma “vasta gama” de pastelaria com baixo teor de açúcar, que continua em desenvolvimento. E se reduzir o sal nos salgados foi difícil, “reduzir o açúcar, num país em que a pastelaria o usa em grandes quantidades foi um desafio ainda maior”, admite. Nestes produtos a empresa utiliza produtos bem distintos dos tradicionais, como a stevia (um adoçante natural) e a alfarroba, pelos quais “há alguns anos ninguém dava nada”, realça.
A Quinta da Senhora do Ar também disponibiliza pastelaria convencional, pastelaria fina e pastelaria francesa. Estas duas últimas são também resultado da investigação da empresa caldense e em breve vão chegar ao mercado. Destinam-se a preencher uma carência na oferta para um tipo de cliente mais exigente, quer com a qualidade, quer com a apresentação.
Há ainda uma outra área em exploração: a padaria. Nesta, a empresa não produz, mas aposta na revenda dos produtos da padaria Limas, de Sobral de Monte Agraço. Aqui a diferença faz-se com uma linha de pão de saúde, com vários cereais e sabores, como pão de chia, beterraba, ervilha, ou linhaça.

A QUINTA DA SENHORA DO AR

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Miguel Santos lançou a empresa depois de concluir a sua formação na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, em gestão hoteleira, seguindo assim a tradição familiar, que já tinha histórico no sector alimentar na freguesia do Landal.
Fê-lo em sociedade com Tiago Cardoso, com quem estudou e fez amizade no Estoril. “Vimos que havia necessidades no mercado nas áreas da doçaria, padaria e dos salgados, coisas que podiam ser aperfeiçoadas com os conhecimentos que tínhamos”, conta Miguel Santos.
Além de terem estudado juntos, também foram escolhidos para estagiar em simultâneo em duas unidades hoteleiras no Algarve, o que ajudou a aprofundar o entendimento em termos profissionais. Logo nessa altura souberam que queriam apostar “na tradição, mas com inovação”, sustenta.
Enquanto Miguel Santos optou pelo ensino superior, Tiago Cardoso entrou no mercado de trabalho e desenvolveu os conhecimentos ao trabalhar de perto com o reputado Chef Kiko, de quem chegou a ser o “braço direito” num dos seus restaurantes.
Miguel Santos escolheu a quinta que está na família há várias gerações, nos Rostos, para montar a empresa, também porque ali tinha tudo o que precisava para lançar o negócio. Adoptou o nome Quinta da Senhora do Ar, com o qual também tinha baptizado aquele espaço. “Há ruínas de uma capelinha que se diz que era da Senhora do Ar, porque um dia vinha um avião a despenhar-se ali, conta-se que o piloto ele pediu ajuda à Senhora do Ar e que esta o salvou”, recorda Miguel Santos.
Na quinta localiza-se a sede, a fábrica e os armazéns. Ali trabalham quatro pessoas, duas na distribuição, uma no desenvolvimento e outra na produção.
O mercado alvo da empresa é o da distribuição, que depois coloca os produtos na rede de hotelaria e restauração. As gamas são abrangentes e podem ser encontradas em cafetarias, pastelarias, restaurantes e hotéis.
A aposta na diferença manifesta-se ainda na personalização dos produtos. “Conseguimos fazer muitas coisas a pedido, coisas muito pormenorizadas que são exclusivas para cada cliente, por exemplo na pastelaria fina, o que é bom tanto para eles como para o nosso produto e o futuro é um bocadinho por aí”, considera Miguel Santos.
A empresa já distribuiu para todo o país e, sem divulgar o volume de negócios no primeiro ano de actividade, Miguel Santos destaca que todos os meses esta tem vindo a crescer, mesmo em alturas do ano que são tipicamente mais fracas. “Tem sido uma evolução rápida, mas muito esforçada”, destaca.
De resto, a exportação já está no horizonte da empresa, que define 2019 como o ano para dar esse importante passo.

SER JOVEM NÃO É OBSTÁCULO

Miguel Santos afirma que sentiu alguma resistência inicial quando formou a sua empresa por ser jovem. “Em Portugal aceitamos com dificuldade que os jovens vêm com muita genica, com vontade de trazer algo novo e com valor acrescentado”, lamenta.
Contudo, sublinha que isto nunca foi um obstáculo para a afirmação da Quinta da Senhora do Ar no mercado. “A confiança também se conquista e fizemos esse trabalho junto dos nossos clientes, muitos estavam longe de saber que a empresa é nossa quando os contactávamos”, acrescenta.
E deixa um conselho a jovens que se sentem com força para iniciar os seus próprios negócios: “não deixem de o fazer por serem jovens, temos que ser lutadores, ambiciosos e andar para a frente de uma forma responsável”.
Miguel Santos diz que existe ambição para desenvolver a empresa, tanto ao nível da expansão da oferta, como na capacidade de produção. “Queremos alargar o que é da nossa criação e produção e ser detentores da nossa própria oferta”, uma vez que, por exemplo, a doçaria convencional é entregue a fornecedores.
A Quinta da Senhora do Ar vai também alargar a sua actividade à exploração agrícola, o que deverá acontecer a partir do próximo ano. “A quinta tem uma estrutura agrícola grande que está desprezada, temos agora um projecto de agricultura sustentável que foi aprovado no mês passado”, conta Miguel Santos. O objectivo é que parte da produção agrícola seja absorvida pela pastelaria.

O vereador mais novo do país

Miguel Santos acumula a actividade profissional com a de político. Foi eleito vereador da Câmara de Rio Maior nas autárquicas do ano passado, com apenas 21 anos, o que o torna o vereador mais novo do país.Miguel Santos acumula a actividade profissional com a de político. Foi eleito vereador da Câmara de Rio Maior nas autárquicas do ano passado, com apenas 21 anos, o que o torna o vereador mais novo do país.Filiado desde os 16 anos na Juventude Popular, o jovem empresário diz que é movido  pelo sentido de serviço. “Sempre fui muito reivindicativo contra o poder instalado e acredito que a descredibilização da política existe por causa da sede de poder de alguns políticos, que lhes tira a ética com que devem exercer as suas funções”, disse à Gazeta das Caldas. Miguel Santos acredita que os jovens trazem valor acrescentado às organizações em todas as áreas e, também por acreditar na equipa formada na coligação PSD/CDS, decidiu aceitar o convite para integrar a equipa de Isaura Morais, apesar de ter já a empresa a trabalhar em pleno. O jovem político e empresário sublinha que, apesar de ser natural do concelho das Caldas da Rainha, é “um riomaiorense muito apaixonado” pela sua terra “e senti que podia dar o meu contributo para que esta evolua”.

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