
Pirotecnia do Bombarral, a maior do Oeste, rejeita que o setor seja o ‘bode expiatório’ dos fogos
O país esteve este verão em estado de alerta de incêndios florestais durante 18 dias e, no período compreendido entre 2 e 18 deste mês, vigorou um conjunto de restrições, entre as quais o impedimento da realização de fogos de artifício. Uma decisão que provocou no setor pirotécnico um rombo nas contas porque foi apanhado de surpresa e impediu a realização de inúmeros espetáculos contratualizados, que à última hora foram cancelados.
É na região Oeste que está localizada uma das mais importantes empresas do setor, a Fábrica de Fogos de Artifício do Bombarral, que devido a estas medidas governamentais, vai ter uma quebra de 20% do negócio no final do ano. Sem qualquer tipo de apoios para colmatar esta perda, tendo em conta a sazonalidade desta atividade, é no verão que se realiza a grande maioria das festas populares em todos os concelhos do país. Representam mais de metade da faturação anual, pelo que o ano é já considerado perdido para os empresários de um setor que emprega cerca de 15 mil pessoas e que continuam com a responsabilidades de assegurar e manter os postos de trabalho e dos respetivos impostos.
João Adelino Martins gere a empresa familiar bombarralense que vai já na quarta geração.
Fundada em 1934, conta com o pai e o filho na condução deste negócio que, na sua opinião, tem sido constantemente ignorado pelo Estado. Membro da Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos (ANEPE), concorda com a denúncia pública sobre a “aplicação indiscriminada” de despachos de alerta de incêndio em todo o país, os quais proíbem os fogos-de-artifício até em sedes de concelho e zonas costeiras, onde “o risco é praticamente nulo”. “Este ano tem sido muito complicado. Só queremos que nos deixem trabalhar”, afirma o empresário à Gazeta. Recorda, a propósito, que o primeiro estado de alerta foi decretado a um sábado e ninguém informou as empresas de pirotecnia, quando estavam dezenas de espetáculos a serem montados de norte a sul do país, “com todas as licenças e condições de segurança”. “A situação foi extremamente caótica porque nem nós percebíamos o que estava a acontecer, nem os próprios municípios, que licenciam os espetáculos”, descreve. Findo o período de alerta e com ele o fim da proibição do uso da pirotecnia, continua a existir impedimentos por parte de algumas autarquias, algumas das quais na nossa região, que não licenciam o lançamento de fogo de artifício. Injustificável porque são locais junto ao mar e a quilómetros de zonas florestais.
Para João Adelino Martins, esta atividade é fortemente regulamentada, sendo extremamente complexa mas que define o cumprimento de todas as medidas de segurança. Esta proibição decretada pelo Governo mais não foi, critica, que arranjar um responsável para o problema dos fogos florestais, que não têm origem na pirotecnia. “Não há foguetes em áreas florestais, no verão, há 23 anos porque foram criadas regras de segurança”, recorda. O empresário bombarralense lamenta também que a cobertura mediática dos fogos florestais tenha sido acompanhada por comentários de diversos responsáveis da Proteção Civil que foram “extremamente injustos e infelizes contra nós”. E acompanha a ANEPE na solidariedade do setor com o país neste momento de tragédia, reafirmando que a segurança é prioridade absoluta para o setor, mas não aceita ser visto como responsável por um problema que não tem origem na pirotecnia. “Não podemos ser culpabilizados pelas dezenas de ignições que houve mais uma vez neste verão, no meio dos montes, de noite ou a meio da tarde, em sítios onde não mora ninguém e onde não havia festa nenhuma, como se fossemos o ‘bode expiatório’ para as coisas”, conclui.






























