O Grupo de Acção Local Pesca Oeste ainda tem 910 mil euros para apoiar projectos ligados ao mar, revelou Jorge Abrantes, da Associação para o Desenvolvimento de Peniche – que gere o grupo – nas Sea Talks do festival Sabores do Mar, que está a decorrer em Peniche. O aviso está aberto até ao final do mês e inclui a inovação em espaço marítimo, o reforço da competitividade da pesca e do turismo, a promoção de produtos locais de qualidade e a melhoria de circuitos curtos de bens alimentares e mercados locais no âmbito do mar.

 

O Grupo de Acção Local Pesca Oeste abriu “um novo aviso de concurso até ao final do mês para serem utilizadas com alguma rapidez verbas de 910 mil euros”, revelou Jorge Abrantes, da Associação para o Desenvolvimento de Peniche – ADEPE (que coordena o GAL Pesca Oeste), numa das sessões das Sea Talks, que decorrem no festival Sabores do Mar, em Peniche.
Este é o valor remanescente dos 2,5 milhões de euros que foram atribuídos a este grupo, que com 43 candidaturas (20 de organismos públicos e 23 de privados), “foi o que recebeu mais candidaturas dos 12 grupos que existem em Portugal continental”.
A maioria dos projectos (14) destina-se ao reforço da competitividade do turismo, seguindo-se a inovação em espaço marítimo, com 11 candidaturas aprovadas. Ainda assim, a maior parte dos 1,6 milhões de euros já aprovados foi utilizada na área da preservação, conservação e valorização do património (mais de 600 mil euros). Nas áreas da melhoria dos circuitos curtos e do reforço da competitividade os avisos ficaram desertos.
O GAL Pesca Oeste é o sucessor do Grupo de Acção Costeira do Oeste, que vigorou no anterior quadro comunitário e que juntou 22 parceiros diversificados (empresas, municípios, associações e escolas). “No quadro das parcerias nacionais aprovadas nos grupos locais, a nossa é a mais representativa, a mais ampla em termos de parcerias, porque tem representados todos os sectores de actividade ligados ao mar”, referiu Jorge Abrantes.
Este grupo do Oeste abrange as áreas costeiras entre a Nazaré, a Norte, e Peniche, a Sul. O GAC recebeu 72 candidaturas, das quais 49 foram aprovadas, num apoio de quase 2,3 milhões de euros.
O apoio destina-se a entidades singulares ou colectivas, dos sectores público, cooperativo, social ou privado, com ou sem fins lucrativos. O investimento máximo elegível vai até 200 mil euros por projecto. “Não são os milhões que ouvimos falar dos fundos estruturais, mas são apoios muito importantes para a sustentabilidade e o desenvolvimento local”, resumiu.
Ainda não se sabe que tipo de sucessão terão estes grupos de acção local, nem se será obrigatório mudar a designação, como aconteceu quando deixou de ser GAC para passar a ter a denominação de GAL Pesca. “Achávamos que o GAC deveria ter continuado e neste momento que já estamos a olhar para o novo quadro comunitário, esperamos que não haja necessidade de criar novos concursos e que seja aproveitado o sucesso conseguido”, salientou.

Smart Fish – um selo que garante a sustentabilidade

Durante a sessão das Sea Talks que decorreu no dia 6 de Setembro, a chef penichense Patrícia Gomes apresentou o projecto Smart Fish. Trata-se de um selo que garante que os restaurantes de Peniche vendem espécies sustentáveis.
A ideia surgiu da observação da chef que notou que “muitas vezes nas montras dos restaurantes de Peniche não havia espécies sustentáveis, só havia o robalo e a dourada, muitas vezes de aquacultura, o linguado, o cantarilho e o salmão”. Depois conheceu um restaurante cujo proprietário se recusava a vender salmão e peixes de aquacultura e pensou que era um bom exemplo.
O selo deverá ser implementado até 2021.
Patrícia Gomes considera que esta “é uma mensagem para o consumidor e para a restauração, para se lembrarem da sustentabilidade das espécies marinhas que são descarregadas nesta lota”, faz notar Patrícia Gomes, acrescentando que “não podemos continuar a consumir desmesuradamente certas espécies”.
Para ter este selo, os restaurantes só têm de vender duas espécies consideradas sustentáveis em Peniche, como o carapau, a faneca e a cavala, sendo que variam consoante a época. Patrícia Gomes acredita que alguns restaurantes irão aderir, até porque já cumprem o regulamento. Entre as ideias para a divulgação do selo está a impressão de individuais e toalhas de mesa a contar a história da criação deste projecto.
“Infelizmente acho que vamos provar que Peniche não é sustentável ao nível da utilização das espécies marinhas”, antecipou a chef explicando que “este selo está muito centrado em Peniche, mas poderá servir de exemplo e ser replicado noutros sítios”.
Entre os objectivos deste projecto está a valorização de espécies diferentes, permitindo, por exemplo, que os armadores continuem a ir ao mar (e a gerar rendimentos) quando pesca a sardinha está interdita.

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IPL tem sido das entidades mais interventivas

“O Instituto Politécnico de Leiria (IPL) tem sido das entidades mais interventivas e activas na utilização das potencialidades do GAC e do GAL Pesca”, fez notar Jorge Abrantes, da ADEPE.
Sérgio Leandro, sub-director da Escola Superior de Tecnologia e Turismo do Mar (ESTM Peniche), que pertence ao IPL, apresentou duas das ideias aprovadas (o Smart Fishing e o Do Mar ao Prato) e, posteriormente, falou à Gazeta das Caldas de outros projectos que aquela instituição está a desenvolver nestas áreas.
A valorização do pilado, através da sua utilização na biotecnologia e não na alimentação, é um deles, mas também a “criação da marca” do Percebe da Berlenga, identificando-o, com recurso a análises e evitando que se venda percebe de outros locais como se fosse proveniente daquela reserva.
Já no campo das algas existe o projecto Amália, que estuda como as transformar de uma ameaça numa oportunidade, através da exploração económica, mas também o Seaweedfeeds, que coloca isso em prática através da produção de ração de algas para peixes de aquacultura.
Tudo isto além do Smart Ocean, o parque de tecnologia que custará 3,5 milhões de euros e que pretende fazer a ponte entre a investigação e a economia do mar.

 

Do Mar ao Prato – mais que um livro de receitas

Na mesma sessão das conversas do mar foi apresentado o projecto Do Mar ao Prato, um livro de receitas, que é muito mais que um livro de culinária.
Esta obra apresenta novas formas de confeccionar as receitas tradicionais com os produtos do mar e aliar a essa informação a ilustração científica (da autoria de Pedro Salgado) e a informação biológica sobre cada espécie utilizada (dando a conhecer dados como a relação tamanho-idade do peixe e os benefícios de cada espécie, por exemplo).
O objectivo é levar a uma diversificação do consumo do pescado, aprendendo a cozinhar e a apreciar espécies que normalmente não se comem.
O livro ainda não está à venda, até porque recebeu fundos comunitários que não se destinavam à sua comercialização. No entanto, no próximo ano deverá começar a ser comercializado.

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