A empresa caldense Gabinae, que se dedica à consultadoria a empresas e à formação profissional, está a celebrar o seu 20º aniversário. Corria o ano de 1993 quando a empresa arrancou com uma equipa de cinco pessoas, tendo iniciado a dar acções de formação apenas no Oeste. Passadas duas décadas, a empresa está presente em várias localidades das regiões Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve.
Com 10 funcionários a tempo inteiro e dois estagiários, a empresa labora actualmente com 150 formadores de uma bolsa que chega aos 3000 profissionais. Gazeta das Caldas conversou com Sabrina Ribeiro, a principal responsável e sócia maioritária do Gabinae, empresa cuja facturação se cifra actualmente nos dois milhões de euros e que nos últimos 10 anos já formou cerca de 12.500 pessoas (ver caixa).
O 20º aniversário desta empresa – que é PME líder – foi assinalado com uma actividade de team building que teve lugar a 31 de Maio, na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste.
Em 1990 Sabrina Ribeiro estudava Direito em Coimbra quando começou a trabalhar numa associação que desenvolvia cursos de formação profissional para desempregados. Cedo percebeu que era na formação que iria desenvolver o seu percurso profissional e quando terminou o curso decidiu arrancar com o seu próprio negócio nas Caldas da Rainha.
“Arrisquei tudo e com o apoio do IEFP criei a minha própria empresa”, conta a empresária. Assim nascia o Gabinae (Gabinete de Apoio ao Empresário) que primeiro começou por dar auxílio nas áreas da gestão e empresarial. “Nessa altura havia vários apoios para a criação de empresas e então criei uma equipa de consultores que desenvolviam os estudos de viabilidade económica e que definiam a estratégia para as novas empresas”, contou.
Em 1993, o Gabinae, abre e dedica-se a apoiar candidatos a abrir as suas próprias empresas. Sabrina Ribeiro tinha uma equipa de consultores desenvolviam os estudos de viabilidade económica e que definia a estratégia que deveria ser seguida.
A empresa tinha inicialmente cinco pessoas, chegou a ter 15 e neste momento tem 10, somando ainda dois estagiários à actual equipa em 2013.
Ao mesmo tempo que apoiava as empresas, começa a dar formação, qualificando jovens que tinham desistido do ensino tradicional. O primeiro curso destinava-se a formar Técnicos Comerciais e teve a duração de três anos.
O curso decorreu nas instalações do Gabinae assim que a empresa abriu portas em 1993 onde hoje está a sede e apenas os serviços administrativos da firma, na Praceta António Montez. De modo a dar resposta as solicitações de formação que entretanto iam surgindo, “começámos a sentir necessidade de alugar salas no exterior”, disse. Fê-lo primeiro em parceria com outras entidades, algumas das quais que já eram clientes da empresa pois “desenvolvíamos com essas entidades projectos de formação sobretudo para desempregados”, afirmou Sabrina Ribeiro.
Em 2005, a empresa adquiriu um espaço com várias salas de formação, situado na Quinta da Cutileira.
Cinco anos depois do início da empresa, o Gabinae desenvolveu um grande projecto de formação em parceria com a Segurança Social que permitiu à empresa caldense dar “um grande salto no que diz respeito à formação profissional”. Foram desenvolvidas acções do programa Integrar, destinadas a desempregados de longa duração. “Trabalhámos com seis grupos de 20 pessoas, durante um ano e meio, nos concelhos das Caldas e de Óbidos”, disse a directora.
A partir do ano 2000, a formação profissional “ganhou outra dignidade”, dada através do Sistema Nacional de Qualificação. Nesta altura surgem os cursos EFA (Educação e Formação para Adultos) com a vantagem de possuírem dupla certificação, isto é, através da formação profissional, os formandos faziam um ciclo escolar completo (todo o 2º ciclo ou o 3º ciclo) e ainda aumentavam um nível de qualificação profissional das áreas que tivessem escolhido.
Os pedidos para organizar estes cursos vinham do Oeste, mas chegavam também de outras zonas do país, como do Alentejo e do Algarve, onde ainda hoje o Gabinae mantém projectos. “Chegámos ao ponto de, em 2009, estarmos a gerir 43 cursos destes, com uma enorme estrutura que exigia muita responsabilidade”, contou Sabrina Ribeiro.
Era também necessário um grande envolvimento financeiro já que a empresa caldense tinha que assegurar, desde o início da formação, as bolsas aos formandos. Estas eram elevadas pois incluíam alimentação, deslocação e até subsídio de acolhimento.“Eram bolsas elevadas que eram interessantes para quem quis qualificar-se”, disse a formadora, acrescentando que estas existiram até 2010.
Ao longo do percurso esta empresa foi criando academias. A primeira de apoio ao estudo para os mais novos e que se dedica ao apoio escolar.
Há 12 anos que o Gabinae se dedica à formação para formadores, área de que se orgulha e que pretende continuar a desenvolver. Depois do apoio ao estudo, a empresa criou uma outra Academia destinada a apoiar os ex-formandos. “Muitos optaram por completar vários ciclos e alguns chegaram inclusivamente à faculdade”, disse Sabrina Ribeiro. Orgulhosamente, a directora diz que alguns “até criaram as suas próprias empresas”.
A FOTO DO PRIMEIRO E DO ÚLTIMO DIA
Esta responsável considera que nesta área “fazemos a mudança em muitas pessoas, mas, infelizmente, não conseguimos fazer em todas”. E acha que são cada vez mais aqueles que valorizam e tiram partido da formação profissional. Na sua opinião, as formações de longa duração “mexem com comportamentos e com personalidades” e por isso gosta de comparar a fotografia do primeiro e do último dia do grupo de formação, pois normalmente “os formandos muitas vezes mudam completamente”.
Actualmente as empresas têm uma maior consciência para a necessidade mão-de-obra qualificada e dão mais importância aos currículos dos candidatos. “Há áreas profissionais onde as empresas já não integram candidatos se estes não tiverem uma qualificação própria para o cargo a que se candidatam”, comentou.
Da actual politica governamental faz parte a qualificação de jovens. Por isso, estão a decorrer várias acções de formação para formandos entre os 15 e os 24 anos que já não frequentam o ensino regular. No entanto, Sabrina Ribeiro entende que não se está a adoptar a estratégia mais correcta relativamente ao sistema de aprendizagem. “Acho que os formandos deveriam ter uma pré-formação de competências básicas antes de integrar estes cursos porque temos constatado nalguns candidatos que há muita imaturidade”, disse, acrescentando que muitos precisam de “ter maior responsabilidade para depois integrar estas formações”.
A responsável acha que não é justo neste momento não estar a ser dada formação de dupla certificação aos adultos (são muito poucos esses cursos e as vagas escassas) enquanto que se aposta sobretudo nos jovens que, nalguns casos, “não valorizam os processos”.
A empresária considera que a formação profissional se justifica em pleno no Oeste pois “ainda há um baixo nível de qualificações e de escolaridade numa grande parte da população”. Na sua opinião, mesmo para quem consegue fazer o ensino superior, a formação profissional tem um papel complementar, sobretudo na aquisição de novas competências relacionais, comunicacionais e transversais como, por exemplo, na área da informática. Sabrina Ribeiro salientou ainda o facto de hoje a formação ao longo da vida ser um fator indispensável para qualquer profissional.
FORMAÇÃO É OBRIGATÓRIA NAS EMPRESAS
As empresas portuguesas têm a obrigação legal de proporcionar 35 horas por ano de formação contínua aos seus funcionários, mas muitas “não estão a dar o devido valor a este facto”, disse Sabrina Ribeiro. Outras já procuram os centros e empresas de formação e assim cumprem o seu dever.
A empresária salientou que há acções de formação financiadas por apoios comunitários e que as empresas, as IPSS’s e as associações “devem aproveitar esta oportunidade pois é 100% financiada, isto é, não trazem encargos para as firmas”.
Há várias áreas formativas que o Gabinae assegura, tais como Gestao, Informática, Comercio, Higiene e Segurança, Protecção Civil, Primeiros Socorros, Saúde, Serviços Sociais e de apoio às crianças e aos idosos, entre tantos outros.
A empresa vive actualmente uma fase estável em relação a recursos humanos e aos projectos de formação. “Estamos expectantes em relação às novas políticas da educação e da estratégia do governo em relação ao crescimento económico pois este necessitará de consultoria e de formação”, disse a empresária, sempre atenta aos novos desafios que possam surgir e ser desenvolvidos pela sua empresa.
Há, porém, um outro desafio que gostaria de encetar. “A maioria das nossas empresas (87%) são micro e os seus responsáveis não possuem as qualificações necessárias para a gestão de uma empresa”, disse a responsável. Esta era uma área a apostar a curto e médio prazo. É que, para se abrir uma empresa, “deveria ser obrigatório uma certificação, uma qualificação mínima para se ser empresário”, rematou.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
Dados relativos aos últimos 10 anos:
Nº de formandos: 12.500
Total horas de formação: 200.000
Total Volume Formação: 2.730.273,90
Cronologia































