Fábrica na Sancheira Grande produz mais de 60 toneladas de fruta para o Bolo Rei

0
6458
O empresário Heitor Conceição
O empresário Heitor Conceição a fazer doce de gila, que é o ex-libris da casa | Fátima Ferreira

A quadra natalícia que se estende até ao Dia de Reis, a 6 de Janeiro, é a época por excelência para o Bolo Rei e raras serão as mesas em Portugal que não o ostentam nesta quadra festiva. A abóbora cristalizada em tons de esmeralda, rubi e diamante embeleza os bolos como as joias verdadeiras guarneciam as coroas reais. Na Sancheira Grande (Óbidos) há uma pequena indústria, de Heitor Conceição, que garante que não falta fruta cristalizada de qualidade para o Bolo Rei, tendo uma produção anual na ordem das 60 toneladas.

Foi um desafio do cunhado que levou Heitor Conceição a iniciar-se na produção de fruta cristalizada. Até então trabalhava na antiga Sodicel, mas nas férias e aos fins-de-semana acompanhava Amílcar Carreira numa produção que este tinha de frutas cristalizadas. “Houve uma altura que ele me incentivou a começar a fazer alguma coisa neste ramo”, recorda Heitor Conceição, desafio que resolveu aceitar em 1991.
Lançou-se então, como empresário em nome individual para descascar abóbora carneira, a que é utilizada para cristalizar. “Ele mandou alguns agricultores plantarem um pouco de abóbora carneira a mais, eu despedi-me da Sodicel e fui experimentar”, recorda.
Nessa fase inicial o projecto, que envolvia o empresário e a esposa, não contemplava toda a fase do processo de cristalização da fruta, apenas a parte de descascar e picar.
Na segunda campanha, a do ano seguinte, teve uma proposta para transformar casca de laranja para a Calimenta, e no ano seguinte esta empresa encomendou também abóbora. E outros clientes surgiram.
Nos primeiros anos só comercializava a fruta fresca e, depois começou a visitar pastelarias para vender a fruta cristalizada produzida por Amílcar Carreira. “As vendas cresceram além do que ele conseguia produzir e a partir daí começámos a cozer e dar banhos de calda de açúcar para conservar alguma fruta”, conta Heitor Conceição.
A unidade industrial que fica na Sancheira Grande, freguesia de A-dos-Negros (Óbidos), transforma 60 toneladas de fruta escorrida por ano, que segue para pastelarias e armazenistas de Norte a Sul do País.
A abóbora é o principal fruto processado. Além da que sai da empresa já cristalizada, também vende para a indústria abóbora carneira descascada ou parcialmente processada. No total, a empresa processa cerca de 400 toneladas de abóbora por ano. A esta juntam-se mais oito variedades de fruta cristalizada, como pêra, laranja, tanjerina, figo ou cereja.
As frutas são adquiridas directamente aos agricultores  com pequenas produções, a maioria dos concelhos da Caldas, Óbidos, Torres Vedras e Rio Maior, o que permite também criar uma dinâmica na economia local.

- publicidade -

DOCE DE GILA É EX-LIBRIS

O trabalho com a fruta cristalizada é sazonal e movimenta as vendas entre Setembro e Dezembro. A partir dessa altura começa a campanha do doce de gila, um produto que  a empresa começou a fazer para estender a actividade da empresa a todo o ano.
“Fazemos um doce de gila muito bom, que dá um pouco de alma à casa, porque sai durante o ano inteiro e tem aplicação numa grande variedade de bolos. Dá muito trabalho a fazer mas é o nosso ex-libris”, realça Heitor Conceição.
A unidade tem um volume de negócios anual próximo dos 350 mil euros e garante nove postos de trabalho. “É um volume de negócios razoável, mas também tem uma despesa grande”, refere Heitor Conceição. Isto porque a gestão dos stocks obriga a adquirir a fruta fresca muito antes da venda, ou seja, a partir dos meses de Março e Abril.
Os principais clientes são armazenistas que trabalham com produtos de pastelaria, mas também algumas pastelarias adquirem directamente os produtos.
A produção actual da empresa já atingiu a capacidade máxima das actuais instalações e do próprio processo de fabrico, que ainda tem muito de artesanal. Crescer não está nos planos mais próximos, até porque Heitor Conceição divide o seu tempo entre o trabalho de empresário e o cargo de presidente da Junta de Freguesia de A-dos-Negros.
“É uma ocupação que me consome muito tempo. Servir a causa pública é um bichinho que tenho, que me realiza como pessoa, mas também me desvia um bocado da empresa mas a minha esposa acaba por aguentar o barco”, conclui.

- publicidade -