Falta menos de um mês para que a nova unidade de transformação de pescado da Luís Silvério & Filhos SA comece a trabalhar. Este é um investimento
de 16,5 milhões de euros, apoiado por fundos europeus de 6,5 milhões de euros. A obra resulta do “sonho” do empresário Luís Silvério, que ambicionava “ter a fábrica nº1 na Península Ibérica”. No último ano, a empresa da Nazaré viu a facturação subir 1,5 milhões de euros para os 23 milhões de euros
É no dia em que se inicia a primeira congelação, operação que permite a limpeza do túnel, que visitamos a nova unidade de transformação de pescado da Luís Silvério & Filhos, SA, na Área Empresarial de Valado dos Frades, um dos maiores investimentos do Mar2020 a nível nacional.
Fundada em 1987, a empresa está prestes a entrar numa nova era. O espaço, num terreno de 33 mil metros quadrados e com uma fábrica com 9500 metros quadrados de área coberta, permite sonhar alto. As antigas instalações, no Porto de Abrigo da Nazaré, vão dar apoio às lotas e às vendas a retalho.
“Gosto de fazer petiscos e idealizei esta fábrica como se fosse para eu consumir os produtos. O peixe não leva sal, é salgado com água do mar, como faço para mim”, conta Luís Silvério, que instalou na nova unidade fabril um tanque com capacidade de 150 mil litros de água, que é depois tratada.
A capacidade de produção da nova unidade é de 15 mil toneladas de peixe congelado, 10 mil toneladas de peixe refrigerado e 840 toneladas de peixe salgado ou seco. Tal aumento da capacidade de armazenamento e congelação permite à empresa não depender da inconstância da pesca, equilibrando, desse modo, os níveis entre a oferta e a procura.
A mudança será gradual. Primeiro arrancam os serviços que a empresa já presta e só depois as novas apostas, entre as quais está a “já famosa” Sala Branca, uma sala para embalar peixe fresco que tem atmosfera renovável, o que impede a existência de bactérias.
A unidade de transformação da Luís Silvério & Filhos, SA resulta de um investimento a rondar os 16,5 milhões de euros e conta com uma comparticipação de 6,5 milhões de euros, através do Programa Operacional Mar 2020: 4,875 milhões do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas e 1,625 milhões de euros de comparticipação nacional.
A nova unidade fabril está coberta com 1250 painéis solares fotovoltaicos com capacidade de 360 megawatts cada um. Os painéis conseguem gerar 30% das necessidades energéticas da fábrica, que também tem uma estação de tratamento de resíduos.
Facturação subiu 1,5 milhões de euros
A facturação da Luís Silvério & Filhos, SA subiu de 16 milhões de euros para 22 milhões de euros em 2017 e em 2018 caiu cerca de meio milhão, dada a fase de transição da empresa. No último ano, as vendas registaram novo aumento, atingindo os 23 milhões de euros.
A exportação para países como Espanha, Itália, Canadá e Estados Unidos da América representa 10% do volume de negócios, mas com a nova fábrica deverá atingir os 30%. Para tal a empresa quer, por um lado, ganhar quota de mercado e, por outro, alargar a rede exportadora a outros destinos.
A empresa compra em todas as lotas nacionais e também no Sul de Espanha e na Galiza. Tem também três armazéns de frescos em Peniche e posto de venda no MARL. No grupo, que inclui uma empresa ligada ao turismo e um barco de pesca, já se empregam 80 funcionários.
A Luís Silvério e Filhos tem uma frota própria de camiões, com dois tractores com mais de 30 toneladas cada, três de três eixos e cinco ligeiros. Actualmente a família gere os destinos do grupo. Os três filhos, um genro, uma nora e dois netos trabalham para as empresas do “chefe” de família. “Os netos estão a começar de baixo, para aprenderem todo o negócio e para subirem”, conta.
Uma vida dedicada ao peixe
Nascido em 1954, em Torres Vedras, Luís Silvério deu continuidade ao que é uma herança familiar do avô e também do pai. “A distribuição era feita com carroças puxadas por burros e eu, com 8 anos, nas férias da escola, ia em cima de um burro fazer vendas de peixe às aldeias juntamente com os funcionários que ele tinha”, recorda o empresário.
Depois de o irmão se ter lançado por conta própria, o torreense quis começar a trabalhar também. Tinha 15 anos e transportava o peixe que comprava na lota de Peniche para vender na Ribeira Nova, em Lisboa. Assim fez durante cerca de quatro anos, até casar com uma nazarena e se mudar para a vila que agora é conhecida pelas ondas gigantes. Estávamos em 1973 e Luís Silvério estabelecia-se num armazém que os sogros tinham. Três anos mais tarde adquiriu a sua primeira viatura para vender peixe, uma Fiat Iveco.
Depois, em 1978, constituiu uma sociedade com o irmão em Peniche com duas fábricas de congelados e uma de conservas, mas acabaram por seguir cada um o seu rumo. Em 1984 regressou à Nazaré para começar uma nova vida.
Tinha 15 mil contos [75 mil euros] e, em pouco tempo, montou a sua primeira fábrica (1986), no porto de pesca e abriu os armazéns em Peniche. Em 1989 começa a congelação. Em 1996 viria o armazém de frescos, na lota nazarena. No início do milénio, pouco depois da inauguração do MARL, a empresa abriu o ponto de venda na capital.































