Duas empresas caldenses totalmente viradas para o mercado externo – a Schaeffler e a Molde – estão neste momento com encomendas para vários meses e perspectivas optimistas de crescimento.
A Schaeffler até já receia que lhe falte a mão-de-obra e a Molde só lamenta a dificuldade no acesso ao crédito para poder produzir mais.
Dois bons exemplos, a que se podem juntar mais algumas empresas exportadoras da região, que contariam o pessimismo geral que se vive no país, especialmente nos sectores produtores de bens não transaccionáveis (ou seja virados para o mercado interno) e no funcionalismo público.
A Schaeffler Portugal (antiga Rol) deverá atingir este ano um duplo recorde de produção de rolamentos (60 milhões de peças) e de facturação (40 milhões de euros), disse à Gazeta das Caldas o seu director-geral, Carlos Gouveia.
Depois de em 2009 ter estado em lay off devido à recessão mundial, esta empresa já tem a produção vendida para os próximos sete meses e tem um curso um investimento para aumento da capacidade industrial de 15,4 milhões de euros a realizar durante dois anos.
Por via disso, a empresa, que já trabalhou com um mínimo de 300 pessoas, emprega agora 380 (dos quais 15 são temporários), mas espera recrutar nos próximos dois quase mais 100 trabalhadores. “Admito que não vai ser fácil pois não há mais cursos técnicos das escolas comerciais e industriais e não há assim tanta gente com vontade de trabalhar”, diz Carlos Gouveia.
Neste momento a fábrica trabalha em 18 turnos, ou seja, seis dias por semana (sábado incluído) e 24 horas por dia.
A Schaeffler tem encargos salariais anuais no valor de 8,7 milhões de euros, o que representa 5,4 milhões de euros de ordenados líquidos pagos aos seus trabalhadores. A empresa tem grande parte dos seus fornecedores em Portugal, aos quais paga 9 milhões de euros por ano. Dois milhões são gastos em empresa das Caldas da Rainha e concelhos limítrofes (essencialmente Óbidos e Alcobaça). No concelho das Caldas da Rainha a antiga Rol tem relações comerciais com 76 firmas.
Um aspecto curioso desta unidade industrial portuguesa é que produz e vende para países de mão-de-obra directa de onde até seria de esperar uma feroz concorrência. É o caso da China, Indonésia, Vietname e da Índia, que recebem rolamentos made in Caldas da Rainha, com a qualidade dos países mais desenvolvidos.
A Índia, por exemplo, é um mercado que compra um milhão de motorizadas por mês. “E cada motorizada consome 11 rolamentos diversos”, explica, divertido, Carlos Gouveia. Além disso a maior fábrica de automóveis da Suzuki é em Nova Deli, onde se produzem um milhão de veículos por ano, incorporando cada um cerca de 60 rolamentos. Não surpreende, assim, que da fábrica caldense para aquele país sigam entre oito a dez milhões de rolamentos por ano.
A fábrica, inicialmente conhecida por Rol, está a comemorar este ano meio século de existência.
CRÉDITO É A MAIOR DIFICULDADE PARA A MOLDE
Também a empresa Molde Faianças Lda. está com um grande acréscimo de encomendas, embora lute com uma dificuldade característica das pequenas e médias empresas que é o acesso crédito. Um problema que não tem paralelo com a Shaeffler, que tem os patrões alemães a cuidar dos “pormenores” das vendas e do financiamento.
A Molde cresceu 60% no primeiro semestre deste ano face a igual período em 2009 e, segundo o seu administrador, Joaquim Beato, já tem encomendas até Março de 2011 perspectivando-se muitas mais para esse ano.
“Nos Estados Unidos há uma retoma grande e um crescimento constante, na França tem estado estável mas nota-se que tem crescido um bocadinho”, diz este responsável. Só o mercado inglês parece ainda não ter deslocado.
A Molde – que também esteve em lay off há pouco mais de um ano – contratou em Setembro mais sete funcionários e labora actualmente com 87 pessoas. Em 2009 facturou 1,4 milhões de euros e espera para 2010 um volume de negócios de 2,1 milhões.
Os seus principais mercados são os Estados Unidos, França e norte da Europa. A empresa é quase cem por cento exportadora, sendo as vendas para Portugal residuais, limitando-se a alguns trabalhos de azulejaria.
Mas o facto da haver encomendas e de se ver claramente inícios de retoma no sector da cerâmica não parece ter tornado os bancos mais generosos. Joaquim Beato queixa-se de enormes constrangimentos no acesso ao crédito. “O nosso negócio não consegue financiamento e quanto mais encomendas temos, mais necessitamos de fundo de maneio”, diz o administrador.
E como é que uma empresa trabalha sem crédito? “Olhe, com o dinheiro dos clientes e dos fornecedores. Atrasamos no pagamento aos fornecedores e nos salários. Pagamos ordenados quando os clientes nos pagam, reduzimos stocks e os tempos de espera para os embarques”.
Segundo este empresário, a falta de crédito não só dificulta o dia a dia das pequenas empresas, como as impede de crescer e de se consolidarem, aproveitando de uma conjuntura favorável como está a ser o caso. “Há futuro para a cerâmica, há encomendas. E mesmo nos mercados europeus já se percebeu que a concorrência da China não vai ser fatal porque, com os custos de transporte deles, a diferença de preço entre uma peça chinesa e uma nossa é de apenas 20%. Uma diferença mínima comparando com a qualidade do que é feito cá”.































