Excesso de chuva, frio e calor leva a quebras de produção agrícola no Oeste

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Gazeta das Caldas

Falta de chuva até Janeiro e chuva a mais nos meses seguintes, acrescentada à humidade e temperaturas baixas até pleno Verão e agora uma vaga de calor abrupta, constituíram-se num autêntico pesadelo para os produtores hortícolas, frutícolas e vinícolas. Há já garantia de quebras de produção em todas as culturas. Na vinha estas podem chegar aos 20% e nos hortícolas aos 30%, enquanto na Pêra Rocha as perdas não estão ainda contabilizadas. A excepção é a Maçã de Alcobaça, que deverá registar perdas apenas residuais.
Os diversos problemas criados por doenças infestantes e pragas – motivadas por um ano meteorológico anómalo – também aumentaram os custos de produção. Estima-se que o reflexo nos preços se vá manifestar sobretudo nas margens, já reduzidas, dos produtores.

No sector dos hortícolas, cuja produção no Oeste é uma das mais significativas do país, as alterações do clima têm provocado quebras de produção médias entre os 20% e os 30%, consoante as culturas.
António Gomes, presidente da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste, explicou à Gazeta das Caldas que o clima tem vindo a afectar a produção desde o Outono passado. “Foi preciso regar até Janeiro, o que foi um grande problema para quem não tinha água”, começou por referir. Seguiram-se meses de chuva contínua e prolongada, com queda de granizo. A água a mais e o frio criaram dificuldades no desenvolvimento das plantas.
“Os frutos, como o morango, o tomate, a abóbora, a courgette, ou o melão, requerem calor durante a Primavera, o que não existiu”, realça António Gomes. Estes problemas sentiram-se sobretudo na produção ao ar livre, uma vez que em estufa o ambiente é mais controlado.
O final de Primavera e início de Verão com muita humidade, neblinas e orvalhos trouxeram doenças, como o míldio e o oídio, provocou a propagação de plantas infestantes mais difíceis de controlar, e trouxe também pragas.
Os problemas estenderam-se a todas as culturas, acrescenta o presidente da associação, que dá como exemplos a couve, a cenoura e a batata. No caso desta última, António Gomes sublinha que as perdas rondam os 50%, embora haja agricultores com perdas totais.
“Temos tido um clima muito adverso, veio tudo fora de tempo”, lamenta António Gomes.
Mesmo o calor, que até é normal nesta fase do ano, veio de forma abrupta e provocou queimaduras nos frutos.
Além da diminuição da produtividade, estes problemas implicaram um aumento de custos para os produtores. No entanto, os preços não se irão reflectir no consumidor, o que acaba por ser mais um golpe para os profissionais. “Não vão faltar produtos no mercado por via das importações, por isso os preços devem manter-se, mas a margem do agricultor será ainda mais reduzida”, explicou António Gomes.

VAGA DE CALOR QUEIMOU PÊRA

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Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha, disse à Gazeta das Caldas que a meteorologia “afectou muito” a campanha da fruta deste ano. É que se até à passada semana o clima húmido proporcionou o aparecimento de doenças como a estenfiliose, com o golpe de calor que se fez sentir “as coisas complicaram-se mais ainda, porque queimou a fruta e parou o crescimento”.
O dirigente ainda não conseguiu estimar as quebras, mas já antevia “um impacto muito grande” na produção desta fileira que vale cerca de 130 milhões de euros.
Emídio Silva, engenheiro agrícola, observa que há 10 anos atrás o problema da estenfiliose atingiria proporções graves, mas lidar com este mal que afecta as pereiras começa a ser algo normal para os produtores.
Quanto ao clima, houve vários factores que contribuíram para que a produção não tenha crescido este ano. O tempo seco prolongou-se até muito tarde. Depois veio a chuva, pelo que o regresso do sol em Maio, “até ajudou”, realça o engenheiro agrícola, mas a partir daí tem chovido praticamente todas as semanas, “o que complica ao nível das doenças”.
Além disso, os poucos dias de calor atrasaram o ciclo da pêra e da maçã cerca de 10 dias e um pouco mais nos frutos com caroço, como o pêssego e a ameixa. Nestes, além do atraso, como choveu durante toda a fase de maturação, os frutos “não têm muito poder de banca”, refere Emídio Silva. Isto significa que estes frutos, depois de colhidos, podem apodrecer mais rapidamente.
Na pêra e na maçã este problema do curto poder de banca não se coloca porque entretanto o tempo secou e também porque são frutos conservados no frio. Emídio Silva acrescenta que a chegada do calor não deverá concentrar em menos dias o processo da colheita, uma vez que as árvores “estão em bom estado e têm água disponível”.
Apesar da onda de calor ter provocado estragos na fruta, Emídio Silva diz que o facto de existir pomar novo a produzir pela primeira vez este ano acaba por atenuar as perdas.
Emídio Silva disse ainda que, apesar do clima ter sido bastante irregular, este foi um ano relativamente pacífico em relação a doenças e pragas, e um dos motivos é que os agricultores estão hoje mais bem preparados para lidar com estes problemas e até para agir em antecipação.
No entanto, há especialmente duas doenças a afectar as culturas da região: a já referida estenfiliose na Pêra Rocha e o míldio na vinha e na batata. Este último tem sido o mais difícil de controlar.

MAÇÃ ESCAPOU AO CALOR

Gazeta das caldas
A Comissão Vitivinícola de Lisboa anunciou quebras de 15 a 20% na produção

O mais optimista é Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça, que explicou que, salvo algumas excepções em terrenos com menos água, os pomares conseguiram escapar sem grandes estragos.
O dirigente esclareceu que os produtores utilizaram várias técnicas para anular esta vaga de calor e que isso – combinado com o facto de a radiação solar não ter sido directa – permitiu que não houvesse uma catástrofe. Entre as técnicas utilizadas estão a colocação de redes para fazer sombra e a compensação hídrica, fazendo as plantas transpirar menos e reter mais água.
Jorge Soares frisou que esta vaga de calor “também era importante” para que a maçã ganhasse açúcares. “Foi benéfico para contrariar uma Primavera fresca, chuvosa e com poucas horas de sol”, referiu o dirigente, notando que isso atrasou o crescimento da fruta, obrigando a começar a colheita cerca de duas semanas mais tarde.

Calor intenso também afecta a vinha

A vaga de calor que se fez sentir em todo o país no final da semana passada poderá provocar perdas na produção vinícola da região de Lisboa – onde se inclui o Oeste – entre os 15% e os 20%, anunciou na passada terça-feira o presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, Bernardo Gouvêa.
A comissão adianta que, apesar da contabilidade não estar ainda concluída, as perdas ascendem a centenas de milhares de euros, “devido a quebras sobretudo em determinadas castas (como a Castelão) e vinhas mais novas”, refere em comunicado. Esse levantamento será feito até 15 de Agosto, no sentido de se procurarem apoios para os viticultores da região. É que se as perdas globais não devem ultrapassar os 20%, para alguns produtores as perdas foram totais.
Bernardo Gouvêa realça que a vaga de calor afectou a quantidade, mas não a qualidade. “Mantemo-nos absolutamente convictos de que o ano será de elevadíssima qualidade em toda a região”, adiantou.

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