Empresários reconhecem dificuldades para o sector

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O ano de 2020 é, no entender dos empresários do sector do turismo, “para esquecer”. Avizinham-se meses dificeis, mas mostram-se optimistas com a retoma quando abrirem as fronteiras e garantem que possuem todas as condições de segurança para receber os clientes. Pedem também mais apoios ao Estado para fazer face aos prejuízos

 

Proprietário de duas unidades hoteleiras, o Rio do Prado (Arelho) e o The Literary Man, e do restaurante The History Man (ambos na vila de Óbidos), o empresário Telmo Faria “fechou” portas a 15 de Março, tendo já reaberto o Rio do Prado a 7 de Maio. E foi feita campanha de promoção, que “deu frutos”, com a venda das primeiras 100 reservas numa semana, por parte de clientes nacionais.
Para a reabertura da unidade hoteleira, para além de baixar preços, foram feitas várias adaptações, como a criação de um restaurante-pátio, à frente de cada suíte, que permite aos clientes fazer as suas refeições em segurança.
O restaurante Maria Batata, com capacidade para receber 40 pessoa, passou agora a albergar oito, e a ementa está agora debaixo de um vidro que cobre a mesa. Também foram colocados novos pavimentos, de fácil lavagem, reduzidas as superfícies de contacto e tomadas uma série de medidas de higienização para dar confiança às pessoas, que terão que andar de máscara nos espaços comuns.
“Quando comparamos com as reservas do ano passado estamos com uma ligeiríssima redução”, diz o empresário, referindo que a quebra que têm na receita por vender mais barato, é compensada no serviço de restauração e bebidas, pois as pessoas deslocam-se menos. A grande quebra regista-se ao nível dos eventos. “Os casamentos foram todos cancelados, com excepção de um, e transferidos para 2021. Não criámos nenhuma penalização, os sinais pagos transitaram, as pessoas escolhem a nova data, facilitámos ao máximo”, explica Telmo Faria à Gazeta das Caldas.
Em Óbidos a situação é mais dramática. “É preocupante, porque é um destino muito internacionalizado e compensado por uma política de eventos”, explica, dando conta que a conjugação do fecho das fronteiras e da decisão pela não realização de eventos até 30 de Setembro, é complicada em termos turísticos. As reservas na unidade da vila são anuladas e canceladas diariamente, tendo a gerência aproveitado este tempo para fazer as adaptações necessárias e dar todas as garantias de que as pessoas podem estar em tranquilidade. “Não há objectivamente nenhuma razão para que o mercado nacional não venha, os restaurantes, esplanadas e espaços de Óbidos estão com todas as condições para as receber”, garante o empresário.
O antigo presidente da Câmara lamenta que o governo, que decretou a possibilidade das empresas recorrerem à suspensão dos contratos de trabalho e garantiu-lhes apoio, ainda que não o tenha efectivado. “Foi uma contenção feita à custa das empresas”, denuncia, acrescentando que o Estado “pode condenar à falência várias empresas do concelho de Óbidos se não cumprir o apoio que prometeu” e diz que as autarquias e a própria OesteCIM devem defender os empresários junto do governo.
“Temos que passar a mensagem que somos um sítio seguro e maravilhoso, até porque agora há um mercado de concorrência interno muito forte”, disse, defendendo que a Câmara de Óbidos faça uma campanha promocional deste destino, a nível turístico.

TURISMO NACIONAL NÃO DEVERÁ SER SUFICIENTE

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Na Nazaré, os empresários acreditam que o sector vai voltar a ser o que era antes da crise pan-démica, mas que isso não deverá acontecer antes de meados do próximo ano, o que terá con-sequências para as empresas.
Miguel Sousinha, proprietário do Hotel Maré diz-se consciente que “os próximos meses serão muito difíceis” para a sua unidade hoteleira, com quebras superiores a 50% em relação a 2019.
Para o empresário, a dependência do turismo não é exclusiva do concelho e recorda que o sector foi um dos grandes impulsionadores do crescimento económico do país até Fevereiro.
As quebras vão ser acentuadas, mas quanto existir uma vacina ou o vírus passar a endémico o turismo pode voltar a ser o que era. “Alguma oferta vai cair, porque as empresas não têm capacidade para um prolongar desta situação, mas acredito que em dois anos a situação poderá normalizar”, acrescenta.
O que o último presidente da Região de Turismo Leiria/Fátima não acredita é que uma subida do turismo nacional possa compensar o decréscimo do internacional, até porque a perda de rendimento das famílias vai alterar a forma como estas fazem as suas férias.
Marco Portugal, proprietário da Taberna da Adélia, refere que os dois meses e 10 dias de estado de emergência não foram fáceis para as empresas de restauração, assim como não se afiguram fáceis os tempos em que o sector só poderá trabalhar a 50% da capacidade.
Aquele restaurante abriu a 22 de Maio e o primeiro fim-de-semana até superou as expectativas do empresário. “Temos muita clientela fidelizada e alguns novos, que sabem que a casa tem condições para os acolher”, refere. No entanto, o mercado nacional não será suficiente para manter todos os operadores, o que é válido para a restauração e para os outros ramos do turismo.
O que ambos os empresários consideram é que poderá ser favorável para o concelho ter poucos casos de covid-19 registados até ao momento. “As pessoas que pensem em férias vão olhar para onde é seguro”, realça Miguel Sousinha. Mas Marco Portugal alerta que fluxos demasiado grandes podem ter um efeito reverso: o aumento de casos de infecção na região.
O presidente da Associação Comercial Industrial e de Serviços da Nazaré (ACISN), João Paulo Delgado, reclama, nesta fase, maior interacção das entidades públicas com as organizações que representam os profissionais. O dirigente refere-se ao processo de criação da plataforma de divulgação de serviços da OesteCIM, no qual as organizações deviam ter estado presentes em todas as etapas, mas só foram informadas depois de concluído. “Com mais diálogo e reflexão colectiva, podem surgir outras medidas para melhor servir as empresas”, considera.
João Paulo Delgado acrescenta que algumas das medidas já implementadas são positivas, mas é preciso desburocratizar os processos, nomeadamente no acesso sem entraves às linhas de crédito na banca, ao qual aponta falhas.

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