Um empresário caldense que estava em missão empresarial em Moçambique no início de Setembro, assistiu aos tumultos da chamada “revolta do pão” em Maputo.
Jorge Barosa passou a noite do seu aniversário, de 1 para 2 de Setembro, ao som de tiros. “Durante a noite toda ouvia-se tiroteio à volta de Maputo”, contou.
Curiosamente, o empresário do ramo alimentar nasceu naquele país, de onde veio aos três anos, e foi com alguma mágoa que viu as disparidades que existem. “Quem ganha o ordenado mínimo, gasta um terço só a comprar pão”, referiu.
Eram cerca das 8h45 quando o empresário ia a caminho de uma empresa para uma reunião e passou pela avenida de Angola (que dá acesso ao aeroporto).
Começou por ver muitas pessoas à beira da estrada, depois pneus a arder e assustou-se. O condutor do automóvel sugeriu que voltassem para trás. Ainda tentaram fazer outro caminho para o local da reunião, mas acabaram por encontrar uma multidão ainda maior nas ruas e decidiram regressar ao hotel. “Os passeios, do lado esquerdo e direito, estavam cheios de gente”, contou.
Quando voltaram para o hotel, viram a polícia e passado um pouco ouviram rajadas de metralhadora.
Embora soubesse que estava marcada uma greve, pensava que seria igual ao que acontece noutros países e nunca esperou que toda a situação tomasse aquelas proporções.
“Mas atenção, o povo não estava contra os visitantes e sim contra os aumentos. Nunca fui incomodado”, comentou. O único objectivo seria parar o trânsito em Maputo e houve até um dos empresários da delegação que regressou a pé, sem que nada lhe acontecesse.
“Moçambique é um país lindo e com pessoas muito amáveis, mas têm fome”, disse.
No hotel foram acompanhando o que acontecia, mas só na televisão privada local porque os canais públicos não falavam sobre a revolta.
Como toda a gente comunica por SMS, foram também sabendo o que ia acontecendo pelas gentes locais.
Exportar para o “mercado da saudade”
O sócio-gerente da Manuel Barosa, Lda, deslocou-se a Moçambique, com mais sete empresários, através da Nersant (Associação Empresarial da Região de Santarém).
Embora não seja sócio daquela associação, o empresário achou interessante o facto da missão empresarial organizada pela Nersant incluir uma presença na Feira Internacional de Moçambique.
Das nove visitas programadas naquele país, acabou por conseguir apenas fazer três. “Eu fui o mais prejudicado porque sou da área da alimentação e os empresários do ramo tinham medo dos saques, tendo encerrado as portas”, afirmou.
A Feira Internacional encerrou no dia 2, mas quando abriu a 3 de Setembro ainda havia pouca gente e só no dia seguinte a situação normalizou.
Outra curiosidade nesta história é que o pai do empresário, Manuel Barosa, iniciou a sua actividade nos alimentos congelados a importar camarão de Moçambique.
Jorge Barosa pretende agora começar a exportar para o seu país natal. “Este ano decidimos começar a exportar para os países onde estão os portugueses, para o chamado ‘mercado da saudade’”, adiantou.
Sardinhas, pastéis de nata ou rissóis podem ser congelados e enviados para os países onde estão os emigrantes portugueses. “Os produtos são congelados e não perdem as suas características”, adiantou Jorge Barosa.






























