Empresa de Arruda dos Vinhos investe 1,5 milhões de euros na Adega Cooperativa do Bombarral

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Gazeta das Caldas
O empresário Júlio Barreto (à esquerda) durante o Festival do Vinho do Bombarral (Foto de arquivo)

As instalações da Adega Cooperativa do Bombarral foram compradas pela Condado Portucalense, uma empresa da Arruda dos Vinhos que investiu 1,5 milhões de euros na compra, legalização e revitalização daquela cooperativa. Aquela empresa tem vindo a crescer em produção e facturação, tendo atingido em 2017 os 17 milhões de litros de vinho vendidos, a que corresponde uma facturação de 8 milhões de euros. Até ao final de Julho de 2018 já estavam igualados esses números.

A Adega Cooperativa do Bombarral, que foi fundada em 1956, já foi a maior do país (em 1979 produziu 25 milhões de litros de vinho), mas com o passar dos anos tanto a quantidade como a qualidade foram decrescendo e as instalações foram-se degradando. A situação começava a ser insustentável e surgia o cenário da insolvência, já com duas campanhas por pagar.
É neste contexto que a Condado Portucalense S.A, uma empresa de Arruda dos Vinhos que se dedica ao vinho a granel, compra as instalações daquela adega em 2018.
A actual gestão iniciou-se em 2003 e é aí que nasce a Condado Portucalense, tendo a empresa começado a trabalhar no ano seguinte, no polígono industrial de Arruda, num armazém com 200 metros quadrados.
Os primeiros anos não foram fáceis. A empresa contava apenas com o sócio-gerente, Júlio Barreto, e um funcionário. O primeiro grande salto dá-se em 2008, com o mercado nacional e a entrada no mercado de Cabo Verde a fazerem crescer as vendas. Mas o grande “boom” foi em 2011 e 2012, em que a empresa se tornou o maior exportador nacional de vinho a granel para a China (estando entre as 10 empresas europeias do sector vinícola que mais exporta para aquele país).
Segue-se uma mais forte aposta no mercado nacional e na entrada noutros países e atinge-se, em 2012, os 4 milhões de litros vendidos.
Em 2014 a empresa, que compra e vende vinho em Portugal e Espanha, adquiriu a Adega Cooperativa do Sobral do Monte Agraço, para se tentar lançar na produção própria. “A adega está em obras porque estava muito degradada, começa a produzir para o ano”, esclareceu Júlio Barreto. Isto porque ali já se tinha chegado a um ponto de inactividade, a que a do Bombarral nunca chegou. Foi por isso que a adega do Bombarral “passou à frente” da do Sobral em termos de prioridades e terá já uma primeira produção este ano por conta da Condado Portucalense.

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“O BOMBARRAL É ESTRATÉGICO PARA NÓS”

“O Bombarral é uma zona estratégica para nós, devido aos vinhos leves. A adega estava degradada e o mercado parado, vamos pagar as uvas muito cedo, a 60 dias”. O preço a pagar varia “entre os 28 e os 34 cêntimos”, disse Júlio Barreto à Gazeta das Caldas.
“Se fizermos 15 milhões de litros de vinho é excelente”, disse o empresário, que não foge à luta, reconhecendo que “estamos um bocadinho restringidos pela má imagem que a adega tem” e que pretende apagar. “Creio que vamos fazer uma ‘sementeira’ para o próximo ano”, referiu.
Não tem complexos em relação à propriedade da adega: “creio que os produtores não se importam se a adega está em nome particular ou dos associados, o que é importante é que seja alguém que cumpra o que diz”.
Ainda assim, assegura que apesar de não ser uma cooperativa, a empresa quer “falar com os produtores pelo menos uma vez por ano e acompanhá-los”.
Júlio Barreto não duvida que com esta mudança “ganha o Bombarral e ganha a Condado Portucalense”.
O objectivo é voltar aos tempos passados, em que o Bombarral era conhecido pelos vinhos. Actualmente a adega tem entre 150 e 200 associados, mas já teve 2000. “Queremos trazer de volta os sócios”, afirmou o empresário.
Júlio Barreto assegura que com os lucros que se forem gerando, a adega será revitalizada num projecto a seis anos. As obras começaram logo para esta campanha. “Há coisas que estão obsoletas, creio que a adega não era pintada há 40 anos”. Já foi parcialmente pintada e há algumas máquinas novas a trabalhar. Além disso, a capacidade de armazenamento em inox foi aumentada.
Em tudo isso, no pagamento dos impostos e legalização de partes que não estavam legais, investiu-se mais de 1,5 milhões de euros.
A adega do Bombarral já teve capacidade para armazenar 50 milhões de litros de vinho. Actualmente tem perto de metade, em mais de três centenas de depósitos. Nas três adegas a Condado Portucalense tem capacidade para 60 milhões de litros.
A cooperativa mantém-se activa através do negócio do vinho leve à pressão que é vendido em barris de inox de 30 litros. Só que agora em vez de comprar as uvas aos sócios, compra-as à Condado Portucalense.
A adega tem dez funcionários, cujos empregos continuam assegurados.

UMA EMPRESA EM CRESCIMENTO

No último ano a Condado Portucalense vendeu 17 milhões de litros de vinho, o que representou um volume de facturação superior a 8 milhões de euros, num crescimento para o dobro do ano anterior, também devido à subida dos preços.
Até ao final de Julho deste ano já tinha movimentado a mesma quantidade de vinho que no ano passado e prevê-se que chegue aos 45 milhões de litros (22,5 milhões de litros vendidos). Em termos de facturação também já atingiu os valores de 2017. Cerca de 70% do vinho que movimentam é tinto.
As exportações – que representam praticamente um terço das vendas – cresceram em 2017 na ordem dos 450%. Os vinhos que comercializa estão presentes em 18 países, sendo o mercado principal o de Espanha (este ano pela primeira vez), seguindo-se a China, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, a França, a Inglaterra e a Holanda.
No mercado nacional a maior parte do vinho é vendido a granel para outras empresas, sendo o restante engarrafado e empacotado e, posteriormente, vendido pelos distribuidores. A Condado Portucalense tem quase 30 marcas, sendo as mais conhecidas a Instinto Forte, Terras do Monte, Condado Portucalense, Lendário, Matibel e Pedra Moura.
Também é detentora da sangria – branca e tinta – Pipalete e de bebidas aromatizadas à base de vinho, como um enlatado chamado Suki, com oito graus e que é direccionado ao mercado dos PALOP.

O PRIMEIRO VINHO REGIONAL

Além das instalações na zona industrial – onde há dois anos a empresa tem um armazém com os depósitos, os escritórios, a linha de engarrafamento e de distribuição -, a Condado Portucalense tem também alugada uma parte da adega de Arruda dos Vinhos e, como foi referido, comprou as adegas do Sobral e do Bombarral.
Emprega actualmente 40 funcionários e tem seis camiões-cisternas em constante movimento.
Júlio Barreto nota que a Condado Portucalense “é mais conhecida em Espanha do que em Portugal”.
Para Outubro está previsto o lançamento do primeiro vinho regional da Condado Portucalense: o Violino.
Vindo de uma família que trabalhava o vinho a granel, o empresário – que conta que nasceu no vinho – faz questão de notar que o sucesso da empresa é também da responsabilidade da sua equipa e agradece o acolhimento que encontrou no Bombarral.
A terminar deixa uma garantia aos produtores da região Oeste: continuem a produzir pois vai haver quem compre e pague as uvas.

 

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