Dez milhões de euros para modernizar o regadio da Cela

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A apresentação do projecto contou com a presença do ministro da Agricultura, Capoulas dos Santos | Isaque Vicente

O regadio da Cela vai ser modernizado, num projecto avaliado em mais de 10 milhões de euros. O preço e caudal da água, os custos de manutenção e o transporte da água até às propriedades foram as preocupações levantadas pelos agricultores na sessão pública organizada pela Associação de Beneficiários da Cela, no dia 1 de Julho, destinada a explicar este projecto e que contou com a presença do ministro da Agricultura, Capoulas dos Santos.

 

A rede de rega da Cela data dos anos 40 do século passado | Isaque Vicente
A rede de rega da Cela data dos anos 40 do século passado | Isaque Vicente

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O Governo publicou a 28 de Junho em Diário da República a abertura do concurso para a primeira fase de modernização do regadio da Cela, avaliada em 3,6 milhões de euros. Mas o projecto final prevê um investimento total superior a 10 milhões de euros.
A primeira fase, a execução da rede de rega, deverá demorar 15 meses e custar 3,6 milhões de euros. O concurso está aberto durante um mês, havendo depois uma avaliação das propostas, antes do início da empreitada.
A segunda fase é a criação da estação elevatória e a recuperação dos açudes, que deverá custar 3,3 milhões de euros e demorar 12 meses. O concurso para esta fase deverá arrancar em Julho, de forma a que ambas terminem na mesma altura, faltando depois recuperar a rede de drenagem e, por fim, pavimentar os caminhos.
A obra, financiada pelo Plano de Desenvolvimento Regional, deverá estar concluída até à Primavera de 2019.
Alberto Freitas, da Direcção-Geral da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, apresentou o projecto, esclarecendo que, apesar dos benefícios, com a nova solução poderá ser preciso distribuir a rega por um período mais alargado de tempo, visto que o caudal mínimo é inferior ao actual. Garantiu ainda que todos podem regar à mesma hora que o caudal não será afectado.
Com a modernização, a água continuará a vir do rio Alcobaça. Serão instalados 2,7 quilómetros de ferro fundido dúctil com revestimento de poliuretano e, para os caudais mais pequenos, 17,2 quilómetros de tubos de polietileno de alta densidade.
Estão previstas ventosas para tirar o ar dos tubos e câmaras com válvulas de seccionamento (para fechar apenas áreas seleccionadas e não toda a rede). Os hidrantes permitem manter a pressão idêntica em toda a rede.
Serão também criadas 208 bocas de incêndio com contador, cada uma para 2,2 hectares de terreno. O caudal mínimo da rede será de 10 metros cúbicos por hora.
Uma campanha de rega será afectada pela obra (2018), ainda que o sistema actual apenas seja desmantelado quando o novo estiver a funcionar.

Reduzir gastos da água em 30%

Carlos Malhó, presidente da associação de beneficiários da Cela, disse que se prevê uma poupança de água de 30%, salientando ainda que a modernização vai permitir automatizar as explorações (porque hoje o perímetro não tem energia eléctrica). “Temos 10% do campo inculto e esperamos que com esta obra fique completo”. Dos 454 hectares cultivados, cerca de 300 são de horticultura e 150 de fruticultura, estando mais de 40 hectares por cultivar.
A água passará a ser distribuída por pressão, quantificando a água usada. O volume gasto será pago pelos agricultores por metro cúbico, a um preço que deverá ser o semelhante ao de outros regadios (5 a 6 cêntimos por m3 de água). Para poupar, os agricultores poderão jogar com os preços da energia, regando nas horas em que esta é mais barata.
Este projecto abre também as ‘portas’ do regadio à agricultura 4.0, ou seja, à tecnologia neste sector. Usar sensores para monitorizar a água no solo ou as necessidades reais das plantas são alguns dos projectos tecnológicos que poderão aparecer no regadio, bem como tirar partido das energias renováveis para suportar o sistema de transporte de água.
Questionado pela Gazeta das Caldas acerca da importância económica do regadio, Carlos Malhó esclareceu que “antigamente faziam-se todos os registos do que se produzia aqui”, mas que actualmente não se fazem, pelo que não tem números concretos. “É outra etapa em que iremos começar trabalhar”, assegurou. Ainda assim, estimou que diariamente trabalhem no regadio 30 a 40 pessoas, embora nas campanhas esse número suba para as duas centenas.

 

Um supermercado a céu aberto

O regadio da Cela é uma área com 454 hectares espalhados pelos concelhos de Alcobaça (Bárrio e Cela) e Nazaré (Valado dos Frades e Famalicão). Nos seus campos há uma grande diversidade de produções. “É quase um supermercado”, disse Carlos Malhó. E esta até poderia ser uma ideia a aproveitar.
A associação – que é responsável pelo regadio desde 1943 –  conta com 487 associados, mas esse número não corresponde ao número de explorações, visto que há proprietários que têm feito o emparcelamento dos campos para arrendar.
O perímetro de rega é uma obra com mais de 70 anos que resultou em pleno nos anos 40 do século passado, mas que hoje está degradada e que, à luz da tecnologia que existe, é pouco eficiente no transporte da água.
Paulo Inácio, presidente da Câmara de Alcobaça, fez notar que este é um projecto que se impunha há várias décadas e salientou o papel do Oeste na agricultura nacional. A concluir pediu que, no âmbito dos fundos comunitários, não seja prejudicado quem produz agricultura de ponta. O autarca relevou o peso do sector na economia de Alcobaça e os postos de trabalho que representa. “Muitas famílias tiram o seu rendimento daqui”, fez notar.
Já Rita Varela, vereadora da Câmara da Nazaré, mostrou-se expectante em que o projecto traga uma melhoria da qualidade e um aumento dos rendimentos.
Por sua vez o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, afirmou que “a reabilitação deste perímetro era prioritária” e que vai de encontro a um dos quatro pilares da política agrícola do governo: água e regadio, florestas, modernização das explorações e internacionalização.
Anunciou que até 2020 o Governo pretende “aumentar a área de regadio em cerca de 90 mil hectares” através da reabilitação de perímetros de rega e da criação de novos.

 

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