Desde 2009 o Caldas Empreende já incubou 30 empresas

0
1617
Caldas Empreende
Os autarcas locais visitaram os negócios instalados no Caldas Empreende | Beatriz Raposo

Actualmente são 15 as empresas que estão instaladas no Caldas Empreende. Este projecto, lançado pela AIRO e pela Câmara em 2009, destina-se a apoiar novos negócios e a estimular o empreendorismo local. Como? Cedendo às empresas um gabinete para poderem desenvolver as suas actividades que é gratuito nos primeiros seis meses de incubação.
Desde 2009 que o Caldas Empreende já foi casa para 30 empresas, tendo a maioria (80%) continuado com o seu negócio fora da incubadora. Além do Caldas Empreende, a AIRO prestou em 2016 atendimento a 130 empreendedores e apoiou 36 novos negócios. Isto só nas Caldas da Rainha.

 

O Sunset serviu de pretexto para um convívio entre empresários, autarcas e população interessada | Beatriz Raposo
O Sunset serviu de pretexto para um convívio entre empresários, autarcas e população interessada | Beatriz Raposo

- publicidade -

Matheu’s, New Energy, Mariana Sampaio Studio, Cerveja Bordallo, Quatorze Colectivo, Xpress Portugal, Lisdesigner, Uau.Toys, Tiago Claro, Cláudio Graça, Mapo.pt, Liliana Alves Jewelry, Chefes em Casa, Datasafe e Diamonds. São estas as 15 empresas que actualmente estão incubadas no Caldas Empreende, ocupando todos os gabinetes disponíveis.

Desde 2009 já foram incubados 30 projectos e actualmente há quatro em lista de espera para poderem instalar-se no edifício. Do artesanato à eficiência energética, passando pela reparação de bicicletas eléctricas. Há também quem produza cerveja, restaure móveis ou fabrique joias e peças de cerâmica. Noutros gabinetes funcionam empresas ligadas à beleza, ao aluguer de brinquedos, a serviços informáticos e à entrega de refeições ao domicilio.
A diversidade de negócios no Caldas Empreende é um sinal de como o edifício está preparado para receber actividades de sectores muito diferentes. Por baixo de um piso com escritórios, há outro em que estão instalados ateliers, oficinas e até uma mini fábrica de cerveja.

“SEM A INCUBADORA NUNCA TERÍAMOS AVANÇADO”

Pedro Azevedo é um dos sócios da Cerveja Bordallo, empresa que há dois anos e meio se instalou no Caldas Empreende. Afirma convicto: “sem a incubadora nunca teríamos avançado com o negócio”. A produção de cerveja artesanal começou há cinco anos na sua garagem – um hobby entre amigos – mas os pedidos pela sua comercialização começaram a surgir. Cada vez mais.
“Para darmos resposta era preciso constituirmos empresa e foi com o apoio da AIRO que conseguimos. Caso contrário não poderíamos, de início, suportar uma renda de 500 euros alugando um espaço”, diz o empresário, revelando que actualmente pagam 200 euros pelos metros quadrados que têm no Caldas Empreende. Mas os primeiros seis meses foram gratuitos.
“A cedência do espaço é a grande mais valia, mas a facilidade de obtermos um crédito com taxas de juro muito baixas também nos permitiu investir em equipamentos”, acrescenta Pedro Azevedo, realçando que investiram 20 mil euros em maquinaria, o que lhes permitiu aumentarem a produção de 30 para 500 litros.
Já Hugo Borga, Diogo Massena e Marcelo Amaral têm 25 anos e pagam 30 euros por mês pelo gabinete no Caldas Empreende. Decoraram-no com paletes. Faz em Agosto um ano desde que lançaram a Mapo.pt (Mercado Agrícola Português Online), uma plataforma que é uma espécie de montra digital de produtos agrícolas (agroindustriais, cereais, ervas aromáticas, florícolas, frutícolas, hortícolas e viveiros). Os produtores não pagam para anunciar (a não ser que pretendam aparecer em primeiro lugar nos motores de busca) e encontram na plataforma mais uma alternativa para escoarem a sua produção.
“Esta plataforma é especialmente indicada para os jovens agricultores, que têm formação na área, mas não têm a carteira de clientes que os produtores mais antigos têm”, diz Hugo Borga, acrescentando que a pesquisa na Mapo é personalizada, pois os produtos estão subdivididos por categorias. Actualmente a Mapo é consultada em 95 países e serve uma rede de 300 produtores. São procurados por restaurantes, mini-mercados e pessoas que compram os produtos para consumo próprio, entre outros.
A incubação no Caldas Empreende também trouxe mais valias para estes jovens. Principalmente porque “nos primeiros anos de uma empresa é difícil ter lucros”, realça Diogo Massena, acrescentando que graças à incubadora “podem receber clientes num espaço credível a qualquer hora [antes faziam-no no sótão da casa de um dos sócios], conciliar a empresa com os estudos, receber conhecimentos de colegas com mais experiência na área administrativa e estabelecer parcerias”.
Recém-chegada, Mariana Sampaio acaba de inaugurar o seu atelier no Caldas Empreende. É aqui que passará a produzir as suas peças de cerâmica e vidro. “Se tivesse que pagar a renda de um espaço não conseguiria suportar o investimento de 18 mil euros que fiz em máquinas e equipamentos”, diz a jovem formada na ESAD, frisando que no caso da área artística, “o retorno do investimento ainda é mais demorado, porque os projectos de criação levam algum tempo”.
Da experiência que já teve na incubadora, Mariana Sampaio destaca o contacto com os outros empresários. “No meu caso, que não me sinto muito à vontade com a parte financeira ou no modo como tratar os clientes, tenho recebido uma grande ajuda”, realça.

“INSUCESSO É NORMAL”

Os contratos dos empreendedores instalados no Caldas Empreende são renovados de seis em seis meses, sendo quatro anos o período máximo de incubação. Durante este período os seus membros são acompanhados pela AIRO e podem usufruir de formação e aconselhamento para melhor gerirem os seus negócios.
Cerca de 80% das empresas que iniciam a sua actividade no Caldas Empreende tem conseguido manter-se “mas é normal que exista taxa de insucesso”. Quem o diz é Sérgio Félix, secretário da AIRO, explicando que a “incubação serve precisamente para experimentar um negócio sem ter o senhorio à perna, sem ter a pressão dos custos, minorando o seu risco. Por isso é natural que nem todos os negócios resultem”.
A DP Soluções, o Laboratório d’Estórias e a Edifreitas são exemplos recentes de empresas que já saíram do “ninho” mas conseguiram voar. Um ano e meio depois de terem deixado o Caldas Empreende, Paulo Ferreira e Dinon Silva, da DP Soluções (informática), defendem que é essencial encarar a incubadora como um espaço de trabalho próprio enquanto lá se está. “O gabinete até pode ser cedido nos primeiros tempos e depois as rendas serem baixas, mas é preciso tratá-lo como se fosse nosso, com a mesma responsabilidade”, dizem, numa crítica aos empresários que estão na incubadora mas raramente lá metem os pés.
“As regalias que são dadas têm que ser aproveitadas para estabilizar e cimentar as empresas, até porque a incubadora é temporária e há mais gente que espera para entrar”, acrescenta Paulo Ferreira. Nos três anos que a DP Soluções esteve incubada investiu 10 mil euros em equipamentos informáticos e softwares e passados cinco anos da sua criação, a empresa cresceu 50% em volume de negócios.

 

Evento de networking

Muitos caldenses ainda não sabem o que é o Caldas Empreende. Conhecem o edifício por ter sido uma antiga fábrica de calças, mas não sabem que já há oito anos funciona como um berçário para novas empresas. Que projectos lá estão instalados de momento? Que tipos de negócios ali são desenvolvidos? São perguntas às quais a maioria não sabe responder. Foi com esta consciência que os empresários do Caldas Empreende resolveram dinamizar o I Caldas Empreende Network Sunset, um evento para darem a conhecer os seus negócios que se realizou no dia 15 de Julho.

O convite foi feito aberto à população e os visitantes apenas tiveram que preencher à entrada um autocolante que os identificava pelo nome e profissão. Isto porque outro objectivo do evento era criar uma base de contactos – que agora ficará disponível a todos os empreendedores – e quem sabe captar novos clientes.
Além disso, também foram convidadas outras empresas locais (Marta’s Place, Mercearia Pena, Garrafeira Bago d’Ouro, Maju e Ana Duarte) num espírito de partilha dos produtos.
Liliana Alves, incubada no Caldas Empreende desde Abril, foi quem lançou o mote para a iniciativa. “Tenho ido a vários eventos de networking em Lisboa e acho que faltava criar esta dinâmica no Caldas Empreende”, disse a designer de jóias. Em Lisboa, muitos destes encontros entre empresários realizam-se às sextas-feiras num hotel, ao final do dia. O tempo é curto, por isso os empresários são obrigados a ser proactivos para se conhecerem uns aos outros e trocarem contactos entre si.
O Sunset nas Caldas também teve esse propósito, mas decorreu num ambiente mais familiar e informal que os eventos de networking em que Liliana Alves costuma participar. “Pretendemos agora repetir a iniciativa em Novembro e aproveitar para convidar empresários que também possam dar formação no evento”, acrescentou Liliana Alves, que destacou a adesão de cerca de 200 pessoas na primeira edição.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, também fez uma visita ao I Caldas Empreende Network Sunset e salientou que o espírito de trabalho em rede tem crescido naquela incubadora. “Geralmente o empresário português é individualista, mas estas novas gerações têm mentes mais abertas e percebem que podem ganhar mais se trabalharem em conjunto”, afirmou. Como todos os gabinetes estão ocupados, Tinta Ferreira acrescentou que se justifica ponderar o investimento numa estrutura semelhante – “uma espécie de Caldas Empreende II” – que possa prestar apoio a mais novos negócios.
Em 2009 a Câmara das Caldas investiu mais de 30 mil euros para requalificar o edifício da antiga fábrica das calças. Actualmente paga cerca de 1600 euros por mês pelo seu arrendamento e suporta todas as despesas de água e luz.
Embora o Caldas Empreende só tenha surgido há oito anos, a actividade de incubação já existe nas Caldas desde 2004 (na Expoeste) e o nosso concelho foi mesmo o primeiro do distrito a prestar este tipo de apoio às empresas.
No dia-a-dia a AIRO também trabalha em parceria com outras incubadoras da região, situadas em Óbidos, Torres Vedras e Alcobaça. Só em 2016 foram criados 76 novos negócios na região com o apoio técnico da AIRO: Caldas da Rainha (36), Peniche (10), Alcobaça (9), Óbidos (8), Lourinhã (2), Bombarral (2), Nazaré (4), Torres Vedras (2), Cadaval (2) e Almada (1).

- publicidade -