
A Promol – Indústria de Velas S.A. completa em Setembro 40 anos de existência. A empresa, que integra um grupo económico sueco, atravessa um período de vitalidade. Em 2015 atingiu os 18 milhões de euros de volume de negócios e trabalha para atingir os 20 milhões num período de dois anos. A empresa ultrapassou as dificuldades criadas pela concorrência da Polónia e da China e pela forte subida do preço da parafina, recorrendo à criatividade e a matérias-primas alternativas. O futuro é encarado com optimismo.
A data vai ser assinalada internamente durante a festa de Natal da empresa. “Queremos recordar como era em 1976 quando a empresa foi fundada, e em 1982, quando construímos esta fábrica, e a diferença para o que é hoje”, conta o administrador Hans Bopp.
“Hoje temos cá a trabalhar netas de avós que também cá trabalharam, temos colaboradores há 25 anos, e outras há 40 anos, que começaram aqui com 18 ou 19 anos, e vai ser engraçado ver como tudo mudou”, refere Hans Bopp.
E mudou mesmo tudo. A empresa na sua origem era puramente artesanal. Os processos industriais surgiram em finais da década de 1980, quando se massificou o consumo de velas no norte da Europa. “Até então produzia-se para pequenos consumos, eram velas artesanais em poucas quantidades”, recorda Hans Bopp. O resultado tem sido, de lá para cá, velas “muito mais perfeitas”, explica.
Mais recentemente a produção tem sido obrigada a adaptar-se a normas comunitárias cada vez mais apertadas e a clientes cada vez mais exigentes. “Hoje o sector é tão regulado que as velas fazem menos mal que algumas comidas”, graceja Hans Bopp, para dizer a seguir que os critérios em relação à perigosidade se assemelham aos dos brinquedos para crianças. Cumprir estes requisitos obriga a empresa a ter uma série de certificados que somam ao custo do produto final.
O que também obrigou a empresa caldense a mudar a sua estratégia foi a concorrência que surgiu dos países do leste europeu e da China em produtos que só a Promol fazia até 2004.
A empresa teve que se reorganizar. Passou dos 300 efectivos para os 130 que hoje tem. No pico do trabalho sazonal, entre Maio e Outubro – quando a fábrica tem que responder à procura para o Natal, a Passagem de Ano e a Páscoa – chegava a atingir os 600 funcionários e era um das principais empregadoras do concelho. Hoje atinge entre 250 a 280 contando com os postos temporários.
“Em 2006 começámos a diminuir o número de colaboradores”, recorda o administrador. Nesse ano o grupo sueco Midway, que anos antes tinha vendido a Promol a uma empresa norte-americana, voltou a integrá-la no grupo. A empresa ainda sentiu dificuldades em 2010, num ano de reorganização do grupo, mas a partir daí tem vindo a recuperar. “A pouco e pouco voltámos a fazer lucros e estamos no bom caminho agora, com muitas encomendas”, acrescenta o administrador, de origem alemã.
Hans Bopp refere que tem consciência da responsabilidade que a empresa tem enquanto empregadora. “Temos muitas famílias. Marido e mulher, mãe e filha, é uma responsabilidade” e por isso a estabilidade atingida nos últimos anos é uma mais-valia, realça.
Em 2015 a empresa facturou 18 milhões de euros e está a trabalhar para atingir os 20 milhões de euros dentro de dois anos, de acordo com as encomendas que já tem em carteira. Estes valores garantem o suporte da estrutura de custos fixos, que é bastante elevada e “lucros estáveis”, acrescenta.
Nesse período, a empresa conta ainda aumentar a sua capacidade empregadora em 20%. Hans Bopp prefere ver a fábrica com muita gente do que com pouca e manifesta também preocupação da empresa no bem-estar do pessoal.
Um mercado quase exclusivo
A forma de ripostar face à concorrência consistiu na aposta num segmento ao qual os concorrentes do leste e da China não podem chegar.
A empresa mantém a produção indispensável de velas fabricadas através de processos automatizados para garantir volume de vendas. Mas para subsistir a aposta foi na criatividade. “No passado lançávamos dois, três produtos novos, agora estamos felizes quando mantemos dois antigos pois para ser competitivo é preciso uma criatividade enorme todos os anos”, explica Hans Bopp.
Esta diferenciação é feita por uma equipa que trabalha tanto a parte criativa, como implementa todas as novidades nos processos de produção, garantindo a qualidade.
Este binómio qualidade versus criatividade tem forçosamente que andar sempre junto. “A vela sem pavio é fácil de fazer, mas tem que queimar bem”, realça Hans Bopp. Esta exigência é generalizada, mas assume maior relevo no mercado escandinavo. “Lá as pessoas usam as velas numa altura muito escura, têm muitas velas a arder ao mesmo tempo, se elas deitam fumo as pessoas têm que pintar a casa duas vezes por ano”, observa.
O principal negócio da Promol são os produtos de promoções, conjuntos sortidos que são vendidos em grandes superfícies e lojas de descontos, produtos de saída rápida, que são vendidos em três a quatro dias.
São produtos que obrigam a ter mais recursos de mão-de-obra e, por isso, é um sector em que as empresas concorrentes têm mais dificuldade em chegar. “Não gostamos de fazer coisas fáceis porque senão as fábricas automatizadas também conseguem fazer. Gostamos de ver muitas pessoas aqui, gastamos menos parafina e temos melhor margem”, diz Hans Bopp.
O principal mercado continua a ser o original – a Alemanha – que fica com cerca de 70% da produção. O Aldi, grupo que fundou a fábrica, continua a ser o principal cliente, absorvendo entre 30 a 40% das velas produzidas nas Caldas. O segundo mercado mais importante é a Escandinávia, representando 15% das vendas. No ano passado a Promol conseguiu entrar no mercado da cadeia Ikea.
Portugal vem a seguir na lista de clientes, com cerca de 10% da produção. Aqui a empresa vende sobretudo produto semi-acabado a pequenos e médios produtores, que fabricam velas para fins religiosos. “Descobrimos esta oportunidade, temos capacidade para transformar parafina líquida em pó e vender de forma eficaz para estes produtores pequenos e médios fazerem velas diferentes das nossas”, explica o administrador da empresa.
Preço da parafina
Outro factor que contribuiu para alguma dificuldade no sector das velas foi a subida do preço da parafina, um subproduto que resulta da refinação do petróleo e que sofreu com a subida significativa da matéria-prima durante este milénio. A parafina é o maior custo da empresa, entre 56 e 60% dos custos totais.
Um problema que a Promol combateu também através da inovação. “Fomos das primeiras fábricas a aplicar em larga escala as ceras alternativas”, de origem animal e vegetal, refere Hans Bopp.
Para além do preço da parafina, a fábrica caldense debate-se com outro problema que na Polónia não existe: o acesso limitado a esta matéria-prima.
Os fornecedores da Promol são a refinaria da Petrogal em Matosinhos e uma outra refinaria da Cepsa, mas não cobrem as necessidades, pelo que é preciso importá-la da China, do Brasil e por vezes de Itália.
Para combater estes limites, e o problema de competitividade, a empresa desenvolve desde 2001 produtos com cera vegetal ou animal. Começou com cera produzida através da refinação de gordura de porco. Mais tarde começou a utilizar também cera com origem no óleo de palma, de origem indonésia. “Neste momento, cerca de um terço do nosso consumo de cera é não parafínica”, adianta Hans Bopp.
Estes produtos têm como vantagem o preço, que chega a ser inferior em 30%, e como a fábrica fica próxima do porto de Lisboa e a cera chega por mar, a empresa caldense consegue-a a preços mais vantajosos que as fábricas da Polónia, que ficam muito distantes do mar.
No entanto, estes produtos obrigam a um desenvolvimento mais trabalhoso. “São produtos desenvolvidos por fornecedor, por material, por tipo de vela”, sustenta.
Actualmente a Promol já substitui a parafina por ceras naturais em um terço da produção, cerca de 4 mil das 10 mil toneladas. “Estes materiais alternativos são uma grande oportunidade”, considera. É importante, por isso, que o porto de Lisboa não encerre. Os recentes problemas na infra-estrutura portuária preocuparam Hans Bopp. “Estarmos perto de um porto é muito importante, ir para o porto de Leixões custa mais 150 euros por contentor”, acrescenta.
A presença do porto é importante tanto para a chegada de matéria-prima, como para a saída do produto acabado. A subida do preço dos transportes levou a Promol a procurar no transporte marítimo uma alternativa que lhe fica mais em conta. “É mais difícil carregar e descarregar, mas o custo é à volta de 25% mais barato e conseguimos assim ter um custo de transporte razoavelmente baixo tendo em conta a distância a que estamos dos mercados”, explica.
Ao fim de 40 anos Hans Bopp considera que seria difícil projectar em 1976 a empresa que a Promol é hoje, mas também não quer fazer conjecturas em relação aos próximos 40. “A tecnologia está a mudar mais rapidamente que nunca, projectar o futuro ainda é mais difícil”, diz, mas acredita que ultrapassar a crise 2006 foi o mais difícil, agora é manter o caminho.































