O presidente da Câmara das Caldas sublinhou que nesta causa não há partidos porque estão todos de acordo em defesa da linha do Oeste
Um estudo realizado em 2009 pela empresa suíça SMA und Partner AG destinado a melhorar a oferta ferroviária a nível nacional, preconizava para a linha do Oeste a introdução de quatro comboios diários em cada sentido entre Lisboa e Figueira da Foz e outros quatro em cada sentido entre Lisboa e Coimbra.
Deste modo Caldas da Rainha seria servida por 16 comboios diários que ligariam a cidade à capital, à Figueira da Foz e também ao nó de Coimbra, onde o estudo previa que os horários estivessem articulados com os da linha do Norte.
A CP, contudo, nunca implementou esse estudo, apesar de ter pago 380 mil euros aos consultores suíços para a sua realização. A empresa também nunca explicou por que motivo o mesmo ficou na gaveta.
O referido trabalho prometia uma autêntica revolução nos horários da CP a nível nacional, com os comboios a partirem ao mesmo minuto em cada estação e todos devidamente integrados num funcionamento em rede, à semelhança, aliás, do que existe na Suíça, Holanda, Alemanha e, desde Dezembro, em França.
Cadeiras vazias tornaram bem presentes as ausências do secretário de Estado dos Transportes, Refer e CP
Para a linha do Oeste esta foi a oportunidade perdida de a integrar verdadeiramente na rede ferroviária nacional.
Segundo Nelson Oliveira, autor do estudo de sustentabilidade sobre esta infra-estrutura, se estes horários tivessem sido implementados há dois anos, de certeza que não se colocaria hoje a hipótese do encerramento do serviço de passageiros a norte das Caldas pois seguramente teria havido um significativo aumento da procura.
O especialista em Engenharia Ferroviária foi um dos intervenientes num debate organizado pelo nosso colega Região de Leiria que se realizou no passado sábado, 14 de Janeiro, em S. Martinho do Porto, que contou com uma massiva presença de autarcas e de deputados da Assembleia da República de todos os partidos, demonstrando assim a unanimidade que existe em torno desta causa.
A sua intervenção foi precedida pela do investigador da História do caminho-de-ferro, Gilberto Gomes, que contou que a linha do Oeste foi desenhada inicialmente para entroncar na linha do Norte em Pombal.
A seguir a Leiria, o traçado da linha acabaria, afinal, para ir até à Figueira da Foz, por forma a potenciar o porto marítimo e a ligação à linha da Beira Alta.
No mesmo debate, o aspecto mais relevante foi a ausência de contraditório visto que nem o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, nem a CP, nem a Refer, aceitaram o convite para nele participar.
Sérgio Monteiro alegou que o estudo sobre a linha do Oeste adjudicado pela Câmara das Caldas ainda não estava terminado (falta introduzir alguns elementos resultantes da entrega tardia de alguma informação da CP), preferindo esperar pela sua conclusão para se poder pronunciar.
Quanto à Refer e à CP, Gazeta das Caldas apurou que não houve qualquer restrição da tutela à presença daquelas empresas públicas no debate, tendo sido as respectivas administrações que decidiram não comparecer.
Aquilo que era para ter sido um debate acabou por se transformar quase numa “missa” devido à unanimidade criada contra a decisão de suspender o serviço de passageiros da linha do Oeste a norte das Caldas.
Em vez de confronto de ideias houve um desfilar de intervenções institucionais, tendo usado da palavra os presidentes de Câmara da Figueira da Foz (João Ataíde), de Coimbra (Barbosa de Melo), de Pombal (Narciso Mota), Leiria (Raul Castro), Alcobaça (Paulo Inácio), Nazaré (Jorge Barroso), Caldas da Rainha (Fernando Costa), Peniche (António José Correia) e o vice-presidente da Câmara de Óbidos (Humberto Marques).
Bruno Dias (PCP), Manuel Isaac (CDS/PP) e Paulo Batista Santos (PSD) foram alguns dos deputados presentes que também intervieram, bem como o director executivo da NERLEI, Pedro Neto, a presidente da ADLEI, Anabela Graça e o responsável da Turismo do Oeste, António Carneiro.
Uma sintonia invulgar em torno de uma questão que parece despertar a simpatia de todas as forças vivas da região a oeste da Serra dos Candeeiros.
O contributo das autarquias
Nelson Oliveira voltou a defender a continuidade do serviço ferroviário entre o sul e o norte da linha do Oeste e as ligações directas a Coimbra
Foi Fernando Costa, porta voz da Plataforma de Defesa da Linha do Oeste quem lançou um repto aos seus colegas autarcas. Que podem as Câmaras fazer pela linha do Oeste para que não se diga que os municípios só exigem e nada dão em troca?
O presidente da Câmara sugeriu que as autarquias financiassem os passes dos seus munícipes (sobretudo dos jovens) que viajam na linha do Oeste, por forma a aumentar as receitas para a CP e assim tornar o serviço menos oneroso.
Por seu turno, os presidentes de Câmara de Leiria, Alcobaça e Nazaré não rejeitaram a ideia de poderem vir a suportar um serviço rodoviário de rebatimento sobre o caminho-de-ferro nas estações de Leiria e Valado dos Frades. Uma forma de dar continuidade a quem, vindo de comboio, se dirija ao centro de Leiria ou às localidades de Alcobaça e Nazaré.
Propostas que tornarão mais difícil, por parte do governo, a manutenção da decisão de encerramento.
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RTP viaja de comboio entre as Caldas e Coimbra
Foi uma viagem com várias paragens e em vários comboios a que uma equipa de reportagem do programa Biosfera, da RTP 2, realizou na passada segunda-feira na linha do Oeste, destinada a recolher imagens e testemunhos sobre a problemática do seu encerramento.
Nelson Oliveira falou para o programa sobre o estudo de que é autor, defendendo as medidas que nele propõe – e que nunca implicam custos para a CP – como uma boa maneira de evitar o encerramento da linha, dado que esta tem potencial para captar mais mercado.
O programa vai para o ar no dia 7 de Fevereiro e, além de imagens do interior das automotoras, foram filmadas no exterior as estações de Caldas da Rainha, S. Martinho, Leiria, Bifurcação de Lares e Coimbra.