
Em Janeiro de 2012, estava o país a debater-se com as medidas mais duras impostas pela troika, na sequência da grave crise económica que o mundo, a Europa e, ainda mais, o próprio país se debateu naquele período.

Num trabalho intitulado “Para um comércio local sustentável”, em que utilizávamos mais de 200 fotografias de lojas fechadas na nossa cidade, analisávamos a evolução da economia local dos últimos anos e especialmente o sector comercial.
Notávamos a certa altura no referido texto: “Quem percorrer a cidade das Caldas da Rainha vai confrontar-se com uma situação que, pela sua dimensão, nunca foi antes vivida entre nós. Trata-se do encerramento em escala impressionante de numerosos espaços comerciais em todas as ruas e mesmo nos centros comerciais (em maior escala nos de pequena dimensão).”
Ensaiava-se uma explicação: “Os dois fenómenos que terão contribuído para esta ocorrência, terão sido, por um lado, mas em muito pequena escala por ora, a abertura dos grandes centros comerciais (apesar de nas Caldas a abertura do Vivaci não ter causado – ainda – grande mossa no comércio tradicional local, até pelo contrário talvez) e, outro em muito maior escala, que é decorrente da actual crise económica e financeira que vive o país e os portugueses.”
E acrescentava: “Nos últimos cem anos talvez nunca tenha ocorrido um choque salarial tão grande e de tanto impacto na vida económica da região, como a actual crise, que teve a primeira emergência com o impacto no sector industrial (que levou ao encerramento nos últimos anos de várias unidades industriais locais), mas que agora está a tocar profundamente o sector comercial, verdadeiro coração económico e social da vida caldense.“
Propúnhamos então que “devia ser criado um observatório local ou regional que estudasse o problema e propusesse medidas para minimizar os efeitos da crise e evitar o seu agravamento, bem como alertasse o governo central para as consequências de algumas das medidas cegas que estão a ser tomadas.”
Pensamos que pouco ou nada foi feito, tendo-se agravado o que dizíamos na altura: “Para as Caldas da Rainha algumas dessas medidas estatais que se preparam como, por exemplo, a desclassificação ou transferência de alguns serviços públicos que sempre estiveram nas Caldas da Rainha, pelo menos nos últimos cem anos, agravará a prazo ainda mais todo este estado de coisas.”
E lançávamos um desafio: “Se Caldas da Rainha quer continuar a ser a capital do comércio tradicional (como se arvora timidamente no site www.capitaldocomercio.com) terá de fazer jus a esse título e não esperar passivamente que as coisas piorem. Assim, importaria, pelo menos, que houvesse uma grande operação de comunicação e de relações públicas que mostrasse bem alto esse objectivo e que fidelizasse aqueles que já o sabem e que preferem Caldas da Rainha como centro de compras semanal. Mas isso não poderá acontecer mantendo o aspecto que algumas ruas têm, com inúmeros espaços comerciais de portas fechadas, para além dos problemas de sujidade, desmazelo e desorganização.”
Entre essas medidas sugeríamos que “podiam e deviam valorizar o mercado da fruta, que também é um grande captador de visitantes, alargando essa operação de comunicação ao mesmo. E há muito na cidade, como o Parque e a Mata, algumas empresas industriais que fazem venda directa e mesmo a Lagoa de Óbidos, etc.”
Nesse texto chegávamos à seguinte constatação: “Demos uma volta pela cidade e encontrámos mais de uma centena e meia de estabelecimentos e espaços comerciais encerrados, mas julgamos que esse número deve chegar às duas centenas e meia em toda a cidade, incluindo alguns espaços que, mesmo depois de construídos, nunca viram qualquer utilização.” E em termos críticos afirmávamos a concluir: “Não vemos em nenhum lado a prossecução de uma estratégia activa e com resultados avaliados para perceber o fenómeno em curso e encontrar novas soluções. Parece-nos que a maioria está conformada com a situação e à espera de um milagre ou da desgraça final. Não sabemos qual irá ocorrer…”
Agora, cinco anos depois desse momento trágico, voltámos a fazer o mesmo percurso e encontramos uma nova realidade emergente, de certa forma positiva e animadora.
Primeiro – Nos eixos centrais do núcleo urbano verifica-se uma renovação e ocupação da maioria dos espaços comerciais, estando a ser ocupados aqueles mais centrais, que em muitos casos há cinco anos estavam desocupados. Refira-se que este fenómeno é inverso de algumas cidades médias do país, que com a proliferação de grandes superfícies comerciais nos arredores das urbes, estão mesmo a desertificar os centros históricos.
Segundo – Nas zonas circundantes do centro comercial tradicional, ainda se encontram muitos espaços encerrados, infelizmente muitos dos quais com um aspecto desolador, sujo e degradado. As autoridades autárquicas deviam motivar e ajudar os proprietários daqueles espaços a darem-lhe outra apresentação, como tem sido feito noutras cidades do país (como em Portalegre), aumentando o seu potencial de negociação e melhorando o aspecto da cidade.
Terceiro – Nos bairros limítrofes da cidade surgem dois fenómenos contraditórios. Por um lado, certos quarteirões com grande animação com espaços partilhados entre estabelecimentos de restauração e comércio e serviços, e outras partes completamente abandonadas. Devia haver também uma atenção especial para melhorar estas zonas de forma coerente.
Quarto – Uma das carências mais graves que encontramos foi o desleixo, a sujidade, as obras de pavimento inacabadas, parques e zonas de lazer ao abandono, que descaracterizam estes espaços e os tornam menos apetecíveis.
Julgamos que não caberá apenas às autarquias concelhia e de freguesia a responsabilidade na manutenção e valorização destes espaços, uma vez que os próprios utentes e residentes devem desempenhar um papel fundamental na sua preservação e beneficiação. Recordamos com alguma nostalgia a genuinidade e ingenuidade de tantos que se envolveram há mais de 40 anos, nas então criadas associações de moradores, mas hoje há fórmulas mais expedidas de partilhar estas experiências cooperativas.
Nos países ricos e “capitalistas” inventou-se mesmo novas nomenclaturas para a gestão destes problemas/oportunidades, como as experiências de crowdfunding, ou seja, de financiamentos partilhados para atingir objectivos comuns, ou de coworking, de espaços partilhados para trabalhar. Caldas da Rainha precisa de empenho, de ideias e de vontade dos autarcas e de todos.






























