Quando foi fundada, em 1997, a Barros & Moreira, S.A. era uma empresa de comércio de mobiliário, torneiras e acessórios de casa de banho. Mas nos últimos quatro anos iniciou o fabrico destes produtos, tendo investido mais de 4 milhões de euros na instalação de unidades fabris e na modernização da central de distribuição. A empresa detém as marcas BM, BMK, Ctesi e Bellian, que garantem uma oferta completa e integrada de soluções de casa de banho. Do que comercializa só não produz as louças sanitárias. Com uma força de trabalho de 150 colaboradores, facturou em 2015 cerca de 10 milhões de euros. Mais de um terço das transações são para o mercado externo, número que pode crescer até aos 50% até 2018.
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt
A última intervenção de modernização da empresa foi concluída já este ano e consistiu na duplicação da capacidade de armazenamento na sede, na zona industrial de Óbidos, no Alto das Gaeiras. O novo pavilhão dobrou a área do armazém, para um total de 7.500 metros quadrados e permitiu aumentar a capacidade de stock para 8000 referências e 6000 paletes.
“Investimos para crescer”, refere Carlos Barros, administrador da Barros & Moreira (B&M). Um crescimento que não é só físico pois passa também pelo aumento da capacidade de resposta. “Um bom serviço passa por ter stock para responder de forma rápida e eficaz às encomendas”, explica o empresário. Esta é uma vantagem comercial em relação a fábricas que apenas produzem sob encomenda e que têm, por isso, tempos de entrega maiores.
O centro de logística foi também dotado de um avançado sistema informatizado de gestão inteligente dos stocks. É um armazém semi-automático e basta uma pessoa para o controlar. Um sistema de código de barras controla a entrada das referências e faz com que a sua saída coincida com as encomendas. Os próprios empilhadores são parcialmente conduzidos de forma automática, através de laser, o que permite que o operador se concentre em exclusivo na encomenda que está a preparar e se minimizem incidentes.
“É um sistema que não existe no nosso sector. Estamos inclusivamente a servir de banco de ensaio para empresas de informática na elaboração deste tipo de sistemas”, sublinha Carlos Barros.
Por outro lado, este novo pavilhão permitiu concentrar a plataforma logística da empresa, que se encontrava dispersa por vários armazéns alugados.
As obras mais recentes dotaram também a sede da empresa de melhores condições para os colaboradores, que agora dispõem de cantina, sala de convívio e um gabinete médico onde podem ter consultas gratuitas. A empresa aposta numa política de benefícios para os colaboradores e constituiu uma série de parcerias para oferecer descontos em serviços como oftalmologia, saúde oral, ginásio ou explicações.
Carlos Barros defende que é missão da empresa retribuir em termos sociais, tanto a nível interno, como a nível externo. Apoia associações e no Natal de 2015 ajudou uma família carenciada, proporcionando uma remodelação da habitação e alguns bens.
DOS TRÊS AOS 150 COLABORADORES
A B&M foi fundada em 1997 por Marco Barros, que tinha já toda uma carreira neste ramo de negócio – o que viria a ser fundamental na evolução da empresa – e pelo filho, Carlos Barros, actual administrador. Trabalhavam em importação e distribuição de torneiras, móveis de casa de banho, cabines de duche e artigos de canalização, sobretudo para o mercado nacional, mas também já com uma pequena quota de exportação. O primeiro armazém tinha cerca de 200 m2. Para além de pai e filho, trabalhava na empresa mais uma pessoa, no escritório. No primeiro ano atingiu um volume de negócios de 43 mil contos (215 mil euros).
No início representava diversas marcas, principalmente espanholas e italianas. O desenvolvimento do projecto levou, contudo, à criação de marcas próprias. Lançou o seu primeiro produto no mercado há 15 anos. Foi nesta altura que se começou a reescrever a história da B&M.
O sucesso da marca própria, assente em produtos importados de fornecedores asiáticos, fez com que abandonasse a representação de terceiros. Mas um dos segredos do sucesso da empresa é a forma como se foi adaptando às necessidades e exigências do mercado. E essa adaptação levou, há cinco anos, a enveredar pela industrialização.
Foram constituídas quatro unidades fabris. Uma na sede da empresa, para fabrico de torneiras. Outras duas estão num raio muito próximo. Uma produz cabines de duche, a outra móveis de casa de banho. A quarta unidade, uma fábrica de injecção de plásticos, localiza-se em Aveiro, embora os planos sejam trazê-la para a região, o que pode iniciar-se ainda este ano.
Destes tipos de artigos, a B&M já produz praticamente 100% do que vende e o objectivo é atingir o pleno. “O que pretendemos é controlar cada vez mais toda a cadeia de valor nos artigos que comercializamos”, sustenta o empresário. A empresa só não tem planos de fabricar as louças sanitárias.
O processo de industrialização representou um investimento gradual nos últimos quatro anos, que ascendeu a cerca de quatro milhões de euros. Neste processo a empresa cresceu também em número de colaboradores, de 60 para 150.
Este investimento deixou a empresa preparada para continuar a crescer. Também ao nível da produção existe um elevado nível de automação, com o fim de aumentar a produtividade. “Temos uma capacidade instalada muito superior ao que estamos a produzir neste momento, em qualquer uma das unidades”, revela Carlos Barros.
Nestas fábricas estão implementados modelos de produção flexíveis, com soluções à medida do que o mercado exige. “Temos capacidade para parar uma fábrica e produzir um artigo diferente”, refere o empresário.
É que para além de produzir as suas próprias marcas, a B&M aposta em produzir para outras empresas, o que obriga a essa flexibilidade.
FALTA MÃO-DE-OBRA ESPECIALIZADA
A empresa é uma ilha na região, tendo em conta que a indústria neste sector se localiza principalmente no Norte do país. A decisão de manter o funcionamento no Oeste é puramente emotiva, pelas raízes do empresário. Mas traz custos. A causa é não haver mão-de-obra especializada, nem cultura industrial nos recursos humanos existentes, o que se deve à falta de indústria na região. A solução é formar.
“Era fácil e mais rentável mudar as fábricas para Aveiro, mas em todo o lado existem pessoas válidas, temos que formar e aproveitar as pessoas que achamos que têm essa cultura”, defende Carlos Barros. O empresário acrescenta que o maior desafio é “encontrar colaboradores que entendam que a produção tem que ser moderna, gerida à base de tecnologia, e que temos de olhar para a produtividade continuamente”.
Criar essa cultura demora tempo. “É um processo de melhoria contínua. No caso dos plásticos a solução foi mesmo trazer pessoas de Aveiro – onde essa cultura existe porque é um cluster industrial – para formar pessoas durante o tempo necessário”, sublinha.
O envolvimento com as instituições de ensino é também importante para dar a formação necessária ao pessoal e o Cenfim tem sido, nesse capítulo, um parceiro importante.
Tirar a produção do país não é, de todo, opção para melhorar essa produtividade. “O que estamos a fazer é precisamente o inverso, o que subcontratávamos no estrangeiro queremos produzir cá”, diz Carlos Barros. E a razão para o fazer é a qualidade.
Depois de ter estado alguns anos vocacionada para os PALOP em termos de exportação, o target é cada vez mais o mercado europeu e este não consome grandes quantidades. “Consome é diversidade e serviço e só comprando em países como Portugal é que o conseguem, porque a indústria asiática está mais vocacionado para a quantidade”, conta Carlos Barros. E essa foi uma das razões para a aposta na produção própria.
REFORÇAR A PRESENÇA NA EUROPA
A B&M facturou em 2015 cerca de 10 milhões de euros. As exportações representam cerca de 35% do volume de negócios.
O mercado nacional continua a ser o mais preponderante, o que Carlos Barros atribui ao serviço que acompanha a produção. “Temos uma frota própria atípica no sector [com mais de 20 carros só para distribuição], somos capazes de abordar muitas casas do sector da canalização e decoração do banho e temos produto para entrega, o que nos permite ter esta quota”, explica.
No entanto, embora haja margem para crescer a nível interno, é nas exportações que a empresa aposta mais forte para se consolidar nos próximos dois anos. Nessa altura, a B&M espera escoar para o estrangeiro metade da produção.
A empresa marca presença actualmente em 30 países, com forte presença no mercado africano. Mas a aposta de expansão passa pelos territórios europeu e asiático. “São mercados estimulantes”, considera o empresário. A Europa pela valorização do design e o Médio Oriente pelo volume de trabalho que proporciona.
A empresa detém quatro marcas próprias. A BM e a BMK comercializam acessórios de casa de banho e canalização, a Ctesi está vocacionada para as torneiras e a Bellian é dirigida para o banho e hidromassagem, para o mobiliário e para as louças sanitárias. Estas marcas têm uma gama completa e transversal, desde o médio baixo à gama alta.
“Cobrimos todos os segmentos do mercado excepto o primeiro preço, esse é impossível. Apostamos na qualidade e no serviço e claramente não podemos ser a empresa mais competitiva do mercado”, refere Carlos Barros.
Ao longo destes quase 19 anos de existência, a empresa tem tido um crescimento constante e sustentado. Apesar da crise no sector da construção ter levado ao encerramento de várias empresas do mesmo sector, Carlos Barros diz que a B&M conseguiu passar a crise “sem dar por isso” em termos de resultados.
“Obrigou a B&M a reinventar-se. Percebemos que era preciso criar valor, daí o investimento na indústria e na exportação. Apostámos forte no design, produtos que são desenvolvidos de raiz pela empresa”, sustenta.
REFERÊNCIA EM DESIGN DE TORNEIRAS
Os produtos são desenvolvidos pelo departamento de design gráfico e industrial permanente da empresa, que tem entre quatro e seis elementos. Existe ainda um gabinete de investigação, desenvolvimento e inovação, que é responsável pela passagem do desenho para a produção, o que nem sempre é fácil por serem produtos fora do comum, principalmente as torneiras. Este departamento também tem como missão criar a automatização dos processos de fabrico.
O empresário realça o envolvimento que a empresa tem tido com as forças vivas da região ao nível do design, patentes em duas torneiras desenvolvidas com a ESAD que foram para fabrico, que num concurso internacional receberam o ouro e a prata e foram receber a Itália.
A Barros & Moreira tem também preocupações ambientais nos seus produtos, o que é um factor de decisão cada vez mais importante, sobretudo na Europa. As torneiras são equipadas com sistemas de poupança de água. Nos móveis sanitários conseguiu recentemente a certificação FSC, que comprova que as madeiras são provenientes de florestas de abate controlado. “Somos os primeiros em Portugal com esta certificação e tudo isto é investimento”, refere Carlos Barros.
Prémio Ctesi 2016 em parceria com a Ordem dos Arquitectos
A Barros & Moreira lançou em conjunto com a Ordem dos Arquitectos o Torneiras Ctesi 2016, com o qual pretende promover a criação de novas séries de torneiras misturadoras, de design contemporâneo e original que serão acrescentadas ao seu portfolio.
Neste concurso, os participantes devem apresentar uma proposta para um conjunto completo de torneiras misturadoras (banho, lavatório, bidé, banheira e duche), que seja inovador mas não descure a exequibilidade e economia de fabrico e produção.
As equipas podem ser compostas por profissionais de diferentes áreas, mas têm que ser lideradas por um arquitecto inscrito na Ordem.
O júri é composto por dois arquitectos, Manuel Graça Dias e Nuno Mateus, e por um representante da B&M. O vencedor terá direito a um prémio monetário de 4.000 euros, correspondente à aquisição do direito de autor. Poderão ser indicadas, ainda, até três mensões honrosas e caso a B&M entenda que esses projectos têm potencial para produção, será negociada com os autores a aquisição desse direito.






























