Donald Trump ameaçou a União Europeia com um aumento das taxas alfandegárias a vários produtos, entre os quais o vinho. O precioso néctar tem no mercado americano um dos maiores consumidores, pelo que os produtores portugueses estão a acompanhar a situação de perto. Carlos da Fonseca, da Companhia Agrícola do Sanguinhal, disse à Gazeta das Caldas que quem pode beneficiar com esta medida são os vinhos da Austrália, Chile, Argentina e África do Sul. Luís Vieira, da Quinta do Gradil, salientou que nos Estados Unidos não é dada primazia ao preço, mas sim à qualidade.
O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump ameaçou uma subida das taxas alfandegárias a produtos da União Europeia como o vinho, azeite, queijo e bens relacionados com a indústria aeroespacial.
Esta é uma retaliação pelo que os americanos consideram que foram ajudas públicas dadas à europeia Airbus em incumprimento das regras do comércio internacional, deixando assim a americana Boeing com menos competitividade. A resposta foi a abertura de um processo na Organização Mundial do Comércio que pode então culminar no aumento das taxas a produtos europeus para os Estados Unidos.
Portugal exporta quase 3 mil milhões de euros de produtos para o mercado americano. No caso dos vinhos, que nem serão o sector mais afectado, o mercado americano foi em 2018 o segundo mais importante para Portugal (logo a seguir à França), com um peso superior a 10% do total, ascendendo a mais de 80 milhões de euros.
Na região Oeste os produtores de vinho estão expectantes em relação a possíveis agravamentos e têm acompanhado a situação de perto.
Carlos João Pereira da Fonseca, responsável pela Companhia Agrícola do Sanguinhal (que é proprietária das Quintas do Sanguinhal, das Cerejeiras e de São Francisco) disse à Gazeta das Caldas que “todos estamos preocupados com qualquer aumento de taxas aduaneiras em qualquer mercado relevante para as nossas exportações”.
Salientando que ainda não se sabe qual o agravamento das taxas e se este virá mesmo a ocorrer, o empresário contou que o seu sobrinho, Diogo Reis, esteve recentemente nos EUA, onde visitou vários clientes “e ninguém se mostrou preocupado com esta questão”.
O empresário esclareceu que a Companhia Agrícola do Sanguinhal está a crescer naquele mercado e que esperam que este ano os Estados Unidos sejam o segundo país para onde mais exportam, logo a seguir à Alemanha. Carlos da Fonseca explicou que “um aumento das taxas de importação se reflectirá nos preços de venda no mercado, mas não nos podemos esquecer que o mesmo acontecerá com todos os produtores europeus nomeadamente espanhóis, franceses, italianos, etc”.
Por outro lado, “os vinhos produzidos nos EUA, com a mesma qualidade, são muito mais caros que os nossos”, pelo que acredita que “podemos continuar a ser competitivos, dependendo claro do valor das taxas a aplicar, se for caso disso”.
O empresário identifica que quem poderá eventualmente beneficiar de um aumento de taxas para os vinhos europeus poderão ser os produtores de Austrália, Chile, Argentina, África do Sul, etc. Aí será a capacidade negocial e a importância da Europa como mercado para os produtos dos EUA que poderá ajudar, analisou, fazendo notar que a Europa é a grande importadora dos cereais americanos e que isso é “uma moeda de troca importante”.
“Não nos podemos esquecer que a Comunidade Europeia é um mercado de 500 milhões de consumidores e que haver uma guerra comercial com os EUA não aproveita a ninguém e acho que nem à própria administração Trump”. Carlos da Fonseca compara esta situação com a saída do Reino Unido da UE e também com a ameaça de uma guerra comercial feita pelos EUA à China.
MERCADO NÃO PRIVILEGIA O PREÇO
Luís Vieira, da Quinta do Gradil, explicou ao nosso jornal que não está demasiado preocupado com esta questão, porque o mercado americano “não é dos mais sensíveis ao preço e a primazia é dada à qualidade”.
O empresário esclareceu que o mercado americano “tem uma importância crescente”, sendo neste momento o terceiro para onde mais exportam.
Luís Vieira acrescentou que nos contactos que mantém com os importadores nos Estados Unidos da América, explicam-lhe que “está longe de ir haver aumento de taxas alfandegárias” e que “estão muito tranquilos por lá”.
Gazeta das Caldas contactou ainda as adegas cooperativas da Vermelha, do Cadaval e de Alcobaça, mas não obteve resposta.






























