O ateliê de cerâmica de José e Amélia Sá Nogueira, em A-dos-Francos, foi totalmente renovado. O casal, que se dedica à produção de azulejaria – e que faz grandes painéis e os aplica em peças utilitárias como caixas -, viu o mercado interno de portas fechadas, o que o obrigou a olhar para o mercado exterior. É com este último que se encontra de momento a trabalhar. “Era um caminho que já tínhamos traçado anteriormente e que se tornou mais interessante”, disse à Gazeta José Sá Nogueira, que teve como primeira preocupação assegurar que tinha matéria prima para poder trabalhar para as fases de confinamento. Assegurado o barro, foi altura de começar a criar novas linhas e coleções.
“Ficámos a viver numa bolha criativa, mais dedicados a novas produções e que, pelo ritmo de trabalho anterior, ainda não nos tinha sido possível”, disse Amélia Sá Nogueira, enquanto se prepara para dar a conhecer as novidades.
Neste momento, estão a desenvolver a coleção “Arte do Fogo”, caracterizada pela aplicação de vidrados de alto fogo feitos e adaptados pelo casal. Segue-se “Matilde”, uma nova linha de peças utilitárias e decorativas.
Amélia Sá Nogueira explicou que é tudo feito “com muito amor e afetos”, tanto que foi atribuído o nome da filha de ambos a esta nova vertente. As primeiras experiências, feitas a partir de velhos moldes, tiveram o intuito de fazer prendas de Natal para familiares e amigos. O sucesso foi tal, que as ditas peças deram origem a novas linhas de produção.
Pandemia em cerâmica

Há uma nova coleção que está a ser desenvolvida em parceria com o cartoonista Bruno Prates. Intitula-se “Pandemia à Portuguesa”, inclui desenhos de uma fadista, que está de máscara e à sua volta esvoaçam andorinhas e também o coronavírus.
Este ateliê caldense abastece as lojas dos museus de Sintra e outros espaços que têm como público principal os turistas. “Trabalhamos em Portugal, mas sobretudo para o público que vem de fora”, dizem os empresários, explicando que os estrangeiros valorizam o trabalho manual de qualidade e o saber-fazer luso.
Estes ceramistas não se consideram artistas e têm uma visão comercial do negócio. “O que produzimos é para vender”, asseguram os autores, que não pretendem aumentar a pequena estrutura que têm. Atualmente dedicam-se a trabalhar com clientes particulares, oriundos dos mercados dos Estados Unidos e do Reino Unido, criando peças para projetos privados. Fazem peças que vão desde as áreas decorativas até às utilitárias, sem esquecer a forte incidência na produção de azulejo. Neste momento, o atelier de A-dos-Francos produz trabalhos em barro vermelho, grés e faiança. “Estamos também em contracorrente”, disse José Sá Nogueira, explicando que fizeram investimentos em equipamento como fornos necessários para a concretização das novas linhas de produto.
O ateliê Sá Nogueira, em A-dos-Francos, tem condições para receber workshops e residências artísticas
O Atelier Sá Nogueira foi alvo de reportagens recentes por parte da RTP e da SIC (esta última ainda não foi transmitida), nas quais foi possível constatar que a renovação da área transformou o espaço oficinal numa área “onde é possível constatar que aqui se trabalha com paixão”, disse Amélia, salientando que o espaço se encontra decorado com vários dos seus projetos.
Antes do segundo confinamento, ainda receberam – seguindo as regras impostas pela DGS – oito crianças de um ATL local que, acompanhados por duas educadoras, vibraram ao criar e pintar os próprios azulejos. Tanto que até queriam regressar na semana seguinte. “Temos agora espaço adequado para organizar mais workshops e também para residências artísticas”, garantem os empresários, que entendem que a cerâmica já não é o parente pobre das artes.

“Não temos essa visão”, disseram, acrescentando que há nas Caldas, e por todo o país, autores a produzir “peças incríveis com muita qualidade e apostando na diferenciação”. E salientam que Portugal ainda é dos poucos países onde ainda possível adquirir peças de autor a preços em conta. Nos seus horizontes está também viajar pelo mundo, para aprender diferentes técnicas do trabalho com a cerâmica pois consideram essencial a partilha de saberes. ■































