Numa curta entrevista à Gazeta das Caldas, o presidente da CP, Manuel Queiró diz que não vai deixar cair a linha do Oeste e que esta é uma “bandeira” porque significa uma viragem na política de deixar definhar os serviços de reduzida rentabilidade.
Sem se comprometer com prazos claros, o gestor assegura que a envelhecida frota que circula na linha do Oeste será progressivamente substituída por automotoras espanholas que a CP alugou à Renfe.
GAZETA DAS CALDAS – Já viajou na linha do Oeste?
MANUEL QUEIRÓ – Não viajei mas estou perfeitamente ciente das condições de circulação que ainda aí vigoram. Refiro-me à ainda insatisfatória qualidade do material circulante e nível de conforto que pretendo para esse serviço, bem como à impossibilidade de conferir a essas viagens uma velocidade comercial verdadeiramente competitiva.
Tanto quanto possível tenho ido ao terreno para contactar de perto com o serviço que a CP presta e com certeza, em breve, terei as oportunidade de o fazer na Linha do Oeste.
GC – Em concreto o que tem no curto prazo para melhorar o serviço?
MQ – Por onde podemos actuar no curto prazo é por via da substituição de algum do material circulante. Poderemos desta forma, melhorar o nível de conforto e possivelmente actuar também ao nível da rapidez das viagens.
A médio prazo, em função do trabalho do GTIEVAS [Grupo de Trabalho das Infra-estruturas de Valor Acrescentado] está prevista na prioridades do PETI [Planto Estratégico dos Transportes e Infra-estruturas] a electrificação de toda a extensão da Linha do Oeste o que permitirá uma melhoria geral do serviço.
GC – As automotoras espanholas da série 592?
MQ – É uma possibilidade.
GC – Para quando? Ainda este ano?
MQ – Não lhe vou dar uma data precisa. Mas no decurso de um ano seguramente. Se falarmos daqui a 12 meses já teremos oportunidade de registar alterações.
GC – A introdução desse material circulante seria acompanhada de uma política comercial diferente?
MQ – Seguramente. Todas as alterações sensíveis aos níveis de serviço são acompanhadas de uma adequada campanha de promoção. Até porque há um natural empenho em exibir o sucesso por via das alterações introduzidas nesta linha. Porquê? Porque a Linha do Oeste é uma bandeira da viragem que a CP quer efectuar em relação à teoria que estava em aplicação de que as linhas de reduzida rentabilidade se deveriam encaminhar para um progressivo encerramento.
Quando o serviço pode ser melhorado, há sempre a esperança de obter vitórias na concorrência intermodal. É esse o sentido da viragem que queremos marcar nesta linha e isso passa também por instrumentos comerciais, novos e criativos.
Há problemas, contudo, que têm de ser resolvidos e que não dependem da CP. Nós fizemos junto das autarquias o pedido de melhorias que têm de ser feitas na conexão com as estações.
GC – Mas não houve uma única que pusesse autocarros a rebater sobre as estações.
MQ – Sim, mas a solução também não está necessariamente aí. E se insistirmos muito nisso estaremos a bater com a cabeça na parede. Por exemplo, em Leiria seria interessante – e vamos ter que falar com a Refer e com a autarquia – que houvesse um parque de estacionamento na estação. Isso é, de resto, um problema em toda a rede. Os parques de estacionamento são importantes porque o automóvel não tem de ser sempre concorrente do comboio, mas por vezes um transporte complementar. Hoje toda a gente tem o seu automóvel e uma forma de pôr as pessoas a apanhar o comboio é criar parques de estacionamento nas estações porque isso é um atractivo, facilita a opção pelo comboio.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
As automotoras que a CP alugou à Renfe ficaram conhecidas na gíria ferroviária como as “camellos” (camelos) em virtude de os aparelhos de ar condicionado instaladas no tejadilho se parecerem com as bossas daqueles animais.
São estes veículos – designados por automotoras 592 – que virão circular para a linha do Oeste em substituição das velhinhas Allan.
As 592 também não são novas. Datam de 1981 e 1984 e até já foram retiradas de serviço no país vizinho. Mas em relação ao material que a CP tem no Oeste representam, ainda assim, um salto qualitativo.
Cada automotora, com três carruagens, tem capacidade para 200 a 228 passageiros (consoante a série) e podem circular a 120 ou a 140 Km/h, também consoante a série de fabrico.
Manuel Queiró diz que a sua vinda para a linha do Oeste será acompanhada de mudanças na área comercial e na oferta para atrair mais passageiros.
C.C.


































