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Ana Sobral, Elsa Rebelo, Francisco Correia, Bolota, Cláudia Canas e Mário Reis são os ceramistas contemporâneos caldenses que assinam os quartos do novo boutique hotel, situado no nº 46 da Rua General Queirós, num edifício do século XIX. O nome 19Tile é inspirado nos azulejos verdes da fachada da casa, produzidos na então Fábrica de Sacavém e catalogados com o número 19.
Propriedade do casal Pedro Felner e Maryna Dias Felner, este novo projecto abriu portas a 15 de Agosto e três dias depois as reservas já estavam esgotadas.
Treinador de ténis, Pedro Felner viaja mais de 20 semanas por ano a acompanhar os seus atletas em provas por todo o mundo. Com tantos anos a ficar alojado em hotéis, o caldense sempre acalentou o sonho de criar um espaço feito à sua medida e com o qual se identificasse. Agora, sentiu que nas Caldas havia mercado neste sector e avançou com o projecto.
A paixão pelo edifício do século XIX, com uma fachada de azulejos da Fábrica de Sacavém foi o primeiro passo. Adquirido o imóvel, Pedro Felner percebeu que este, apesar de durante muitos anos ter sido residência de uma família caldense, inicialmente tinha sido projectado para ser um hotel e tinha todas as condições para o voltar a ser, agora apostando num conceito diferenciador: a cerâmica de autor.
“A cerâmica faz parte da história da cidade e é a sua arte mais representativa”, considera o proprietário, que entende como um meio de excelência para fazer uma decoração única e diferenciada, envolvendo os artistas locais. Ana Sobral, Elsa Rebelo, Francisco Correia, Bolota, Cláudia Canas e Mário Reis foram convidados a conceber peças para cada um dos quartos, que têm o seu nome.
Grande parte da decoração feita em madeira, pela empresa Natural Craft, que instalou o seu atelier na casa e, durante cerca de dois meses, produziu dezenas de peças de mobiliário e decoração. Também os Mini Designers (empresa de design caldense) teve um papel determinante na execução do projecto. “Eu tinha ideias muito claras sobre o conceito que queria implementar, mas não tinha nem disponibilidade nem capacidade para operacionalizar muitas delas”, explica Pedro Felner, salientando que os designers Ricardo Fonseca e Andreia Querido deram um contributo, desde a concepção da marca até à decoração e produção de peças de mobiliário.
Em apenas três meses foi desenvolvido o conceito, feitas as obras e decorada a casa. “Acho que conseguimos dignificar um imóvel histórico da cidade”, afirma Pedro Felner, destacando o “trabalho fantástico” de recuperação da casa pelo seu anterior proprietário, nomeadamente na recuperação dos azulejos da fachada do prédio que remontam à antiga Fábrica de Sacavém. E foram esses mesmos azulejos da fachada, catalogados como “azulejo número 19” na Fábrica de Sacavém, que deram nome ao hotel, 19Tile.
O espaço foi inaugurado a 15 de Agosto e recebeu os primeiros hóspedes no dia seguinte. “No dia 18 já tivemos a felicidade de não ter mais quartos disponíveis”, disse o proprietário do hotel que já está no booking e que em breve estará nas principais plataformas digitais.
O 19Tile dispõe de várias tipologias, desde quartos duplos, até suites familiares para quatro ou cinco pessoas. As tarifas dependem da época do ano e do quarto escolhido, podendo variar entre os 70 e os 200 euros por noite.
O hotel, cujo investimento o empresário não quis revelar, tem oito quartos e permitiu a criação de três postos de trabalho.
“As pessoas cada vez mais valorizam as experiências, as sensações, os momentos, as histórias que temos para contar. Para muitos viajantes, entre os quais eu próprio me incluo, esse é o maior “luxo” que um alojamento pode oferecer”, resume o proprietário.
Excelente combinação entre a cerâmica e o turismo
Durante a inauguração foram vários os ceramistas que passaram pelo local e enalteceram a aposta que alia a cerâmica de autor ao turismo.
Elsa Rebelo foi uma das ceramistas convidadas a conceber um quarto, onde colocou uma escultura da “mulher guerreira”, uma figura que caracteriza a sua produção cerâmica e que é um tributo à mulher. Na cabeceira da cama está o painel “eterno retorno” e existem ainda algumas máscaras, que a ceramista apelida de “nature people”, que possuem orifícios onde se pode colocar verdura.
“Gente de todo o mundo em contacto com a natureza, é esse o meu conceito”, disse a ceramista à Gazeta das Caldas. O quarto de Elsa Rebelo tem também um baloiço, pormenor que agradou bastante à ceramista.
A autora destacou a “ideia soberba” do proprietário ao convidar os artistas a representar os quartos e que estes são uns “resistentes e apaixonados pela arte”. Elsa Rebelo considera que a cidade precisa de se afirmar nas suas diversas valências e que este hotel é um excelente exemplo da combinação entre várias áreas.
Também Mário Reis considera que este projecto faz todo o sentido numa cidade cerâmica e que é uma forma de divulgar o que por cá se faz. É da sua autoria a escultura que se encontra à entrada do edifício – uma gaivota -, assim como vários painéis na parede do quarto, uma escultura de um gato, um candeeiro de mesa e azulejos num pequeno quarto de anexo. Há ainda duas peças suas na varanda, a fazer a ligação entre os quartos.
“São várias peças que estão expostas, está aqui uma parte representativa do meu trabalho”, disse Mário Reis, que considera toda a decoração do novo hotel de muito bom gosto.
