Hoje em Espanha há a funcionar tantas centrais nucleares quantas estiverem previstas, nalguns momentos menos, noutros mais (chegaram a ser 23!), para Portugal, há 7.
Estivemos contra os planos espanhóis, hoje guardados, mas ainda presentes nos aterros nesses locais, de construir em Valdecaballeros, na Andaluzia, e em Sayago nos contrafortes de Miranda do Douro, e depois em frente a Freixo de Espada à Cinta, o cemitério geológico para resíduos de alta actividade (radioactiva), de Aldeadávila. Foram mobilizações fantásticas que envolveram todos os grupos ecologistas e também as autarquias e contaram com um apoio firme e empenhado do Carlos Pimenta, mas também do Nuno Ribeiro da Silva, então secretários de Estado. Não posso deixar de mencionar a Associação Amigos da Terra, que informou as nossas autoridades deste, que Espanha construía …à socapa. Na altura ouviram-nos a tempo!
Mas tínhamos estado contra a mineração de urânio, desde o início dos anos 80 e a partir do fecho das minas com os ex-mineiros (ou as suas famílias pois muitos, demasiados, morreram de leucemias e neoplasias cancerígenas!) pelo adequado ressarcimento e recuperação das terras devastadas, e, na altura através do FAPAS, contrariámos o estudo de impacto Ambiental para a mineração de urânio em Nisa, nos anos 90 e depois estivemos com a população local e a autarquia no empenho contra as novas tentativas já este século.
Também estivemos nas lutas contra o enterramento de resíduos radioactivos na fossa Atlântica, (entre os Açores e a Galiza) com acções não violentas históricas, e denunciámos o urânio enriquecido e a sua articulação com a morte de soldados portugueses.
Com outros grupos não violentos enfrentámos em Lisboa ou Berlim-leste e os falecidos SS-20, mas fomos implacáveis na denúncia dos Pershing e do escudo anti-míssil (a guerra das estrelas que agora querem ressuscitar).
Nuclear, uma tecnologia deficiente, problemática, e que como sabemos é responsável por um maior número de mortos que qualquer outra (e excluo Hiroxima e Nagasáqui!), e por um legado de milhares muitos milhares de anos de contaminação e desastre, pela Terra.
Nestas actividades, nunca estivemos sozinhos, aqui não quero também deixar de mencionar Delgado Domingos, Afonso Cautela, José Carlos Marques, mas também Gonçalo Ribeiro Telles, figura maior do ambiente português, mas também a generalidade dos grupos ecologistas, o Geota, Quercus, Fapas e agora a Zero.
E com todos os partidos políticos que agora se empenham na preocupação, e aqueles que mais activamente se envolvem o Bloco da Esquerda, o P.A.N., os Verdes, e num quadro de referência que é uma agenda temporal para encerrar as centrais nucleares da Ibéria, desde Novembro de 2015 o M.I.A. (Movimento Ibérico Antinuclear) defende: não a mais extensões de funcionamento das nucleares, isto independentemente de gostarmos de as fechar já, e sermos os 1ºs a não querer que isso seja real (uma central nuclear só fecha já… se… boum)…
Portugal e Espanha são povos irmãos e geminados na mesma luta.
Almaraz não é só um problema ambiental, é sim o maior, neste momento claramente o maior risco para a sobrevivência das nossas culturas, das nossas identidades e da continuidade da Ibéria e dos seus povos.
E se esse risco se concretizar…,
e não é que o historial de Almaraz, com mais de 100 paragens, incidentes, problemas, acidentes, acidentes mesmo, peças defeituosas ( em França ainda há centrais paradas por causa dessas, em Almaraz foi a cuspo! o conserto),
e mesmo que seja só ameaça… mas mesmo sendo só ameaça de risco, o nosso rio Tejo/Tajo, a nossa atmosfera, e ninguém refere a taxa extraordinária de problemas de saúde na zona da central… já é preocupante, muito preocupante, já estão com rádio-isotopos acima do fundo natural, muito acima.
Não podemos, não podemos mesmo continuar com Almaraz a pesar sobre os nossos sonhos, mais de 10 incidentes/acidentes, média dos anos mais recentes mostram que não é delírio nosso alertar, para as questões de prevenção.
Mas Almaraz é também o bocadinho que podemos fazer, nas escolas, nas colectividades, nas autarquias, e também através dos média discutir o nuclear, as questões climáticas e a suficiência energética.
E mudar de operador, mas sair da EDP e não passar para a Endesa (36% de Almaraz!) mas ligar-se à Cooperativa Coopérnico que em Portugal (www.coopernico.org) vende energias renováveis!
E dar voz, dar empenho, dar participação, mais participação, mais democracia.
António Eloy
Coordenado do MIA para Portugal

































