
Esta é a Crónica número cem, o que significa que ao longo de quase dois anos, a Gazeta das Caldas acolheu nas suas páginas os meus dizeres referentes a livros que continham algo relacionado com as Caldas da Rainha, o Hospital Termal, a Cerâmica, Bordalo Pinheiro e mais um ou outro assunto condizente. Por ser esta a crónica 100, desejo apresentar algo diferente; mas o quê, já que sobre as Caldas tanto se pode dizer?
Por hábito e gosto, recorro inúmeras vezes a autores de textos descritivos que com sensibilidade e saber nos transmitem a sua surpresa na descoberta de algo inesperado. Lembro-me de Fialho de Almeida nos seus “Os Gatos”, quando nos descreve uma “pequena romaria” à fábrica de Faianças de Bordalo, nas Caldas da Rainha.
É evidente que não tenho a presunção de me comparar ao médico cronista, longe de mim tal pensamento, mas servindo-me dos meus limitados tributos literários, proponho-me desvendar e dar-vos a conhecer, um muito valioso tesouro acolhido no coração da nossa cidade, ou seja na Praça da Fruta.
No edifício onde em tempos idos existiam notas e moedas, o antigo Banco de Portugal, existe hoje uma riqueza, senão maior, pelo menos muito mais bela e diversificada.
Quando lá entramos a surpresa é total e quedamo-nos maravilhados. São centenas de peças de cerâmica, cada uma com a sua forma, a sua côr e o seu brilho. E também identificada por uma história, desde que imaginada pelo seu autor e criada pelas suas mãos, até ao momento atual onde faz parte desta belíssima coleção. De tamanho reduzido, ou de formas imponentes, todas elas têm um encanto que nos faz sentir que a beleza existe ali ao alcance das nossas mãos e para deleite da nossa sensibilidade.
Mas onde estamos nós? Temos o prazer e o privilégio de estarmos de visita à coleção de Cerâmica Caldense do Sr. João Maria Ferreira, que desde há muito vem juntando as peças de todos os autores da nossa cerâmica, sendo hoje o possuidor de um incomparável acervo cerâmico de uma variedade e beleza incomensuráveis. Os colecionadores são os verdadeiros amantes e guardiões das peças que colecionam sejam elas cerâmicas, livros, selos, quadros, pois fazem-no por puro gosto e prazer, além de que investem na sua aquisição e manutenção. Esta coleção que abriga as peças mais antigas até às contemporâneas, é merecedora de uma atenção muito especial. Há museus que em comparação com esta coleção, ficam muito além, quer em espólio quer em apresentação. Esta peça aqui transcrita, a Jarra Pimpão da autoria de Bordalo Pinheiro homenageia os jornalistas d’O Pimpão, cujo cabeçalho é também de Rafael.
Resta-me felicitar o Sr. João Maria Ferreira, por esta obra de incomensurável valor e beleza que foi construindo ao longo dos anos, e agradecer-lhe em nome de todos por ser o guardião deste acervo tão belo e tão caldense.






























