Como co-Investigadora da rede CREATOUR, Rede de Turismo Criativo de Portugal, um projecto coordenado pela Doutorada Nancy Duxbury, e com a parceria da Associação Destino Caldas sediada nos Silos Contentor Criativo, desenvolvida em paralelo com quatro universidades por todo o país, apraz-me dizer a propósito das palavras de Francisco Dias, que são um desejo comum, de uma transformação social milagrosa. (…) O turismo criativo, sendo o resultado de experiências eminentemente sensoriais que apelam aos 5 sentidos mais a intuição, é o contraste que poderá trazer algum equilíbrio a esta ressaca social global. A oportunidade de posicionar a experiência e vivência de produtos turísticos de nano turismo e de relação social e humana 1×1, permite a possibilidade de um posicionamento e gestões sustentadas de micro negócios, de jovens, famílias e pequenos empresários que em circuito local desenvolvem as suas atividades profissionais. Desde a gastronomia, cerâmica, ilustração, pintura, desenho, caminhadas sensoriais ou mesmo birdwatching, estas actividades em que a relação entre os indivíduos pressupõe uma aprendizagem poderá ser a resposta a este paradigma social da ressaca pós covid-19 que permitirá uma maior sustentabilidade ambiental, social e económicas locais de cada comunidade. O exemplo da cidade das Caldas da Rainha, cidade criativa da Unesco em Crafts e Folk Arts, a dinâmica social da experiência manifesta-se no quotidiano da comunidade na regularidade de workshops de cerâmica, ilustração, teatro, marionetas, pintura, desenho, entre outros que no âmbito geográfico de uma média cidade de província com 30 mil habitantes, suporta de forma sustentável a existência regular destas iniciativas que são organizadas pela comunidade criativa local. Trata-se de uma cidade de artes e cultura, há muito associadas à existência do Hospital Termal mais antigo do mundo em funcionamento ininterrupto, no entanto o turismo criativo, um produto do sector da experiência enquanto meio de comunicação cultural, pressupõe uma capacidade de investimento de tempo significativa por parte do turista, além de uma sensibilidade distinta para a valorização das vivências artísticas veiculadas pela aprendizagem de um saber fazer. Casos de sucesso nesta análise são a estratégia da Visabeira, empresa que gere as maiores e mais antigas empresas cerâmicas como a Vista Alegre, a SPAL e a Bordallo Pinheiro, e que recentemente foram recuperadas para associar a tradição da manufatura, transformando-a num produto turístico passível de alavancar unidades hoteleiras de 5 estrelas em locais nem sempre procurados como destinos de procura turística. (…) Resta saber se a babilónia da Google irá permitir a sustentabilidade das famílias de artesãos e de micro-empresas que fazem da criatividade o seu sector de negócio. Será que o turismo irá permitir a alavancagem de novos negócios de experiências turísticas? Será que as cidades irão privilegiar o tempo do consumo em detrimento do consumo do tempo? Será que estes momentos de silêncio nos trarão novas respostas se questionarmos novas perguntas?
Margarida Baptista






























