O túnel do Quebedo e as Caldas da Rainha

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| D.R.

O que tem a ver o Túnel do Quebedo, em Setúbal, com as Caldas da Rainha?
Tem três bons motivos: Luiz Pacheco, a azulejaria e um convite.

Há, em Setúbal, um parceiro da Gazeta das Caldas, o Semmais jornal, cujo director aceita a partilha: a 23 de Julho passado nele se estampou que cerca de uma dezena de camaradas confraternizaram em pleno ano de 2007 com Luiz Pacheco, o “escritor maldito” – epíteto comum que neste espaço também não suscita considerações – então a viver, de novo, na cidade do Montijo. Recentemente sujeito a uma operação, o seu debilitado estado de saúde física desaconselhava a saída de casa do homem que logo contava com 82 anos, mas nem por isso os visitantes se inibiram de se fazerem acompanhar e abrir (antes que o filho João Miguel fizesse o mesmo) uma garrafa de vinho tinto da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, uma generosa localidade daquele concelho que ainda por cima não tem deixado de se surtir.
Luiz Pacheco – de nome completo Luiz José Machado Gomes Guerreiro Pacheco, segundo a ficha – inscreveu-se no Partido Comunista Português em 25 de Julho de 1989, e desde então dividiu entre Lisboa, onde nasceu, Setúbal, Montijo e Palmela o local de residência. E por cada vez que a mudança se verificou tomou sempre a iniciativa de informar a organização, uma das vezes com o cuidado explicito de “pedir o favor de me mandarem o meu cartão novo do nosso PCP” (12 de Março de 2001).
Deixaram os primeiros citados o Pátio da Aldegalega com a convicção, fruto desta inaudita teimosia de tratar antes de tudo do nosso futuro, de que a Festa do Avante! viria a ficar ainda melhor com a passagem por lá do Luiz Pacheco, bastava esperar pelo ano seguinte. Cuidados a ter seriam apenas os de não haver desnortes de condução que desencaminhassem o ponto de encontro, a confluência dos dois snack-bares na Rua da Quinta da Medideira, Amora, Seixal, que lado a lado tão ilustradamente se auto-identificam em grandes painéis coligados: “Tão Bela Serpente”. Mas ele finou-se logo em Janeiro, como é sabido.
O Túnel do Quebedo é desde 15 de Julho espaço de azulejaria, da autoria de Andreias Stocklein, projecto da Câmara Municipal de Setúbal. Entre cinco poetas escolhidos (José Afonso, Bocage, Sebastião da Gama, Vasco Mouzinho de Quevedo e…), Luiz Pacheco.
Corrimão abaixo vindos da Academia Sapec (O Egas), ou seja, do Jardim de Palhais, lá está o perfil d’ “O Escriba”, a Monotipia do ceramista Ferreira da Silva retratando Luiz Pacheco, no Bombarral, em 1966, e que o Maldito doou ao Partido.
E as Caldas da Rainha aqui tão perto, por certo: consulte-se a cidadeimaginária (blog) – “o que eu andei”, de João Bonifácio Serra, paredes meias com a Gazeta, e lá está reproduzido o painel que o PCP no Espaço de Setúbal da Festa do Avante! de 2008 alongou dedicado ao escritor, tendo como base aquele trabalho e como miolo o segundo parágrafo acima (e fazendo dupla com Rogério Ribeiro).
Sabeis que Luiz Pacheco deu “um tijolo” (mil escudos) para a construção do Centro de Trabalho do Partido na Avenida 5 de Outubro sadina, sempre, sempre em frente (Edifício Arrábida). Nem ao Diabo lembraria, pois foi a esta artéria que a obra em causa veio parar!
Diabo: o Túnel do Quebedo não é aquele que suporta a ferrovia que vai pr’ó Sul? Onde, então, há-de apear, com recepção de honra, o militante-mor dos Caminhos de Ferro, o Carlos Cipriano? Com comitiva caldense. No “Egas” está reservada a mesa.

Valdemar Santos

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