Pediatria terá que dar cada vez mais atenção às doenças de comportamento

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Gazeta das Caldas
A directora do serviço de Pediatria, Luísa Preto, falou da importância do hospital caldense vir a ter cuidados paliativos pediátricos

A aposta na Pedopsiquiatria para responder a doenças de comportamento (como o suicídio ou a obesidade) e a falta de mais médicos desta especialidade no CHO, foram algumas das questões abordadas pelos profissionais de saúde nas Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha, que tiveram lugar no CCC a 23 e 24 de Novembro. Este evento formativo já acontece há 25 anos e reuniu cerca de 200 pessoas, sobretudo profissionais ligados a esta área.

O hospital caldense poderá especializar-se na área da Pedopsiquiatria de modo a dar resposta aos casos de tentativa de suicídio por parte de crianças e jovens, bem como a outros problemas comportamentais. O repto foi lançado pela presidente do CHO, Ana Paula Harfouche, que garantiu que o Conselho de Administração é “um facilitador e está disponível para lutar por isso”.
Luísa Preto, directora de serviço de Pediatria do CHO, reconhece o problema e adianta que este serviço já no ano passado tinha feito esse mesmo pedido à administração. “É uma grande lacuna que temos porque cada vez mais os adolescentes chegam ao serviço de urgência na fase mais grave, que é a da tentativa de suicídio”, disse a responsável aos jornalistas.
De acordo com Luísa Preto, as tentativas de suicídio têm aumentado muito nos últimos cinco anos e a resposta tem sido deficitária. “Penso que a Pediatria nos últimos anos, e daqui para a frente, terá que dar muita atenção às doenças do comportamento, onde se inclui também a obesidade”, acrescentou.
Actualmente as crianças que tentaram o suicídio são encaminhadas para a Pedopsiquiatria de urgência e depois para consulta de Pedopsiquiatria em Lisboa.
“Seria um desafio concentrarmos a valência nesta zona do Oeste e com mais alguns hospitais à volta”, diz a pediatra. No entanto, reconhece que tal será difícil dado o número insuficiente de pedopsiquiatras. Actualmente o internamento é feito no Hospital D. Estefânia, onde aumentaram de 10 para 15 o número de vagas de internamento, mas que ainda assim se mostra reduzido.

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FALTA DE PEDIATRAS

Também o serviço de Pediatria do CHO se debate com o problema de falta de médicos. Há dois anos, inclusive, estas jornadas não se puderam realizar porque, devido ao número diminuto de profissionais, não era possível conciliar a presença neste encontro com o trabalho no hospital.
De acordo com a actual rede de referenciação, deveria de haver 19 pediatras só no serviço das Caldas. No entanto, os serviços são assegurados por 10 médicos.
António Curado, director clínico do CHO, reconheceu que isso é um problema. “Não há médicos suficientes para fazer, por exemplo, a escala de duas urgências pediátricas que estão a funcionar [uma nas Caldas e outra em Torres Vedras], disse, acrescentando que a saúde materno-infantil está centrada nas Caldas e que são precisos dois pediatras por cada 24 horas, sendo que um deles tem que ter perfil de neonatologia para a maternidade.
Para colmatar esta falha, o CHO tem que recorrer a prestadores de serviço, que “nem sempre estão disponíveis e depois criam-nos dificuldades de elaboração das próprias escalas”, disse o responsável.
António Curado explicou que o Conselho de Administração pediu para o ano em curso 50 novos médicos e que não veio nenhum através do concurso nacional, que ainda não se realizou. Acabaram por vir seis ou sete profissionais em mobilidade, ou por vagas carenciadas, isto é, médicos que já tinham relação contratual com o CHO durante o internato.
A expectativa do director clínico é que ainda seja feito este ano o concurso nacional, que englobe as fases de Abril e Novembro que não se concretizaram.
O caso teria sido diferente se o CHO já estivesse a funcionar como EPE (Entidade Pública Empresarial), uma vez que os hospitais que funcionam neste regime contornaram a situação e puderam, pontualmente, fazer contratos individuais de trabalho. “Nós não conseguimos fazer contratos individuais de trabalho porque não somos EPE, tem de haver concurso nacional”, explicou.
As obras nas urgências do hospital caldense também irão beneficiar a Pediatria, dando mais condições àquela urgência. Essa intervenção deveria ter sido feita há uns anos, quando esta valência viu a sua intervenção aumentada até aos jovens de 18 anos e a portaria definia que os hospitais teriam que ajustar as condições físicas a essa alteração.

sem cuidados paliativos

Temas que ainda geram alguma polémica e que normalmente não são abordados neste tipo de encontros, estiveram em cima da mesa durante os dois dias de jornadas. Desde logo os cuidados paliativos pediátricos que estão a dar os primeiros passos no país e que Luísa Preto considera que são muito importantes e que gostaria de ter a funcionar no hospital caldense.
Também o director do serviço de pediatria do Centro Hospitalar de Leiria, Bilhota Xavier, falou da necessidade de suprimir esta carência. “Somos dos poucos países da Europa que ainda não tem cuidados paliativos dedicados às crianças e não somos um país civilizado se efectivamente isso não vier a acontecer a curto prazo”, considerou.
Bilhota Xavier referiu ainda que, se a nível nacional não há essa preocupação, está também nas mãos dos profissionais de saúde dos dois centros hospitalares e dos seus conselhos de administração desenvolver as estratégias necessárias para que as crianças tenham direito a esses cuidados.
Nas jornadas foram também abordadas as medicinas complementares, como a Acupunctura, Homeopatia e Osteopatia, e qual o seu potencial uso em idade pediátrica. Destaque também para o uso (ou não) da vitamina D, do ferro e do flúor e as novas tendências como os super alimentos e suplementos alimentares. Em discussão estiveram ainda as tendências ao nível de estética, como as unhas de gel, gelinho, tatuagens e piercings, que acarretam alguns riscos para os jovens.
Esta formação, organizada pela Associação de Saúde Infantil das Caldas das Rainha, foi destacada por todos os intervenientes.

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