Fugindo do conflito bélico mais sangrento de que há memória, o russo George Dobrynine chegou à cidade termal em 1940, tendo fundado o Clube Urso Branco. O impacto do professor de ginástica no quotidiano das Caldas foi tão notório que chegou a conseguir reunir duas centenas de jovens nas aulas que ministrava no salão do Montepio Rainha D. Leonor. Porém, acabou detido pela PVDE, um ano depois, e em 1942 acabaria por partir para Inglaterra. Não mais voltou às Caldas, mas deixou uma marca indelével.
A prática da ginástica nas Caldas remonta ao período da 2ª Guerra Mundial, quando o russo George Dobrynine se instalou na cidade. Corria o ano de 1940 e o refugiado, popularmente conhecido como “Papa Ours”, ou “Papá Urso”, não escondia a ambição de ensinar à sociedade caldense as técnicas que tinha aprendido. Foi assim que nasceu o Clube Urso Branco, que chegou a reunir duas centenas de ginastas no salão do Montepio Rainha D. Leonor.

O impacto do trabalho desenvolvido por Dobrynine foi de tal monta que despertou, inclusivamente, o interesse da imprensa. De resto, a reportagem do jornal “Os Sports”, a 2 de Abril de 1941, não deixava dúvidas sobre o que se estava a passar na cidade: a fotografia apresentava as classes de ginástica do Clube Urso Branco e acompanhava um título que informava que “Graças a ‘Papá Urso’, Caldas da Rainha surge como grande centro de cultura física”, notando que em dois meses fora “possível agrupar duzentos alunos, entre senhoras, homens e crianças” para a prática da ginástica.
O desenvolvimento da modalidade tinha causado alguma sensação, até porque se tinha sucedido ao sarau ginástico que o Sporting Clube das Caldas promovera meses antes, com o intuito de “estimular o interesse dos seus conterrâneos pela prática da cultura física”.
O resultado final daquela reportagem acabou por afirmar o trabalho de “um homem, atirado para aquela cidade pelos acasos da guerra” que “tentava, numa campanha de apóstolo” atrair o interesse dos caldenses para o desporto. George Dobrynine conseguiu os seus intentos, porém, nem tudo foi fácil na adaptação do professor de ginástica às Caldas, que, um ano depois, acabaria mesmo por ser preso pela PVDE e, mais tarde, em 1942, forçado a partir para Inglaterra, deixando uma marca indelével na história da cidade.
Contudo, para alguns habitantes das Caldas, o russo não passava de um espião. E outros olhavam-no com desdém, procurando desencorajá-lo da vontade de organizar eventos de cariz desportivo num tempo em que a ditadura de Salazar já ditava as suas leis.
No livro “Figuras e Factos da História do Desporto Caldense”, o autor, Mário Lino, revela uma carta, assinada pelo refugiado e datada de Novembro de 1940, que revela bem a tenacidade do professor de ginástica que marcou muitas gerações de caldenses e que chegou ao ponto de ter a ousadia de apresentar “um projecto de desporto para as Caldas”.
O documento começa por enaltecer os jovens. “Tendes a felicidade de ter uma juventude cheia de entusiasmo e duma inclinação sagrada para o desporto, é pois dever dar-lhe a possibilidade de se exercitarem”, nota o russo, frisando ter a ideia de “organizar um espetáculo de propaganda desportiva e ao mesmo tempo obter algum dinheiro para adquirir os objectos absolutamente necessários”.
Apesar de lamentar ter encontrado “oposições e opiniões desanimadoras a este respeito”, Papá Urso não esmoreceu e propôs-se “encontrar um local” onde se pudesse praticar “ginástica, luta, ping-pong e basketball, etc…”
O russo conseguiu concretizar os objectivos e receber a “única recompensa” que ambicionara desde que chegara às Caldas: “o saber que a minha presença aqui, tinha sido produtiva”. Disso parecem não restar dúvidas.
Classes de ginástica eram “despidas de preconceitos”





























