Depois de amanhã

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    Gazeta das Caldas - Paulo Caiado
    Paulo Caiado

    Estamos a sair do confinamento e por vários motivos que não terei aqui espaço para explicar, a ele não voltaremos. A pandemia trouxe contudo várias alterações na nossa vida e que irão perdurar, a maioria serão benéficas para a sociedade.
    Passaremos a estar mais tempo em casa e menos tempo em grupo de amigos e no local de trabalho. Utilizaremos mais as telecomunicações que as actividades presenciais e isso incluirá as reuniões e viagens de trabalho.
    A pandemia trouxe a oportunidade necessária para testar o teletrabalho e a sua eficácia. Muitas empresas comerciais e de serviços, incluindo call centers, pôde medir a produtividade e a eficiência do trabalho à distância. Claro que não se pode esperar ainda os mesmos níveis de desempenho apenas com dois meses de experiencia.
    O efeito no custo de estrutura será enorme. As empresas passarão a fazer contas ao custo do m2 das suas instalações, à possibilidade de ter equipas presenciais e em teletrabalho num esquema rotativo que levará a necessitarem apenas de metade ou um terço das áreas anteriormente utilizadas. O efeito no mercado imobiliário poderá ser enorme com a queda dos preços de venda e de arrendamento tanto de escritórios como de casa familiar, já que não haverá necessidade de morar tão próximo do local de trabalho. As empresas poderão poupar no parque automóvel, nos subsídios de transporte, nos subsídios de refeição. Com o teletrabalho, as relações familiares serão alteradas, dividindo-se as tarefas domésticas entre os dois elementos do casal e alterando a forma como ocupam o tempo livre dos filhos. Poderá haver uma diminuição do número de utentes de creches e consequente redução dos encargos familiares. Os trabalhadores pouparão em muitas despesas fixas e correntes e poderão dispor melhor do seu tempo livre.
    Finalmente e ao fim de 101 anos poderá haver uma redução efectiva da carga horária laboral baixando das 8 horas, enquanto as famílias dos grandes centro metropolitanos despenderão menos tempo em transporte ganhando-o para seu usufruto pessoal. Os transportes públicos terão menor ocupação, até porque se manterá o medo do vírus ou de novo vírus, e os níveis de trafego e de poluição descerão.
    As viagens internacionais, particularmente para fora da zona de conforto europeia serão reduzidas porque as pessoas temerão não só o tempo que passarão dentro dos aviões sobrelotados, como a possibilidade de serem apanhadas em países subdesenvolvidos se surgir uma nova vaga. A Companhia Aérea Emirates que hoje possui a maior frota de Airbus A380 já disse que este modelo, bem como o Boeing 747, os maiores aviões de passageiros do mundo se tornaram obsoletos. As companhias de low cost enfrentarão um problema com a redução necessária da lotação dos aviões.
    As pessoas desenvolverão alguns receios e algumas fobias. Serão reduzidas as viagens em navios de cruzeiro, os concertos de Verão e outros grandes ajuntamentos populares terão de ser reinventados.
    Até o nosso comportamento social e pessoal será alterado. Provavelmente serão muitos a deixar os sapatos à entrada de casa, como já se faz em tantos países. Passaremos a cumprimentar menos com as mãos e não permitiremos que ninguém constipado se chegue ao pé de nós, na rua ou no trabalho, sem usar uma máscara. Durante algum tempo a máscara passará a ser um acessório corrente e com padrões de conjugação com o vestuário como são hoje as gravatas e as echarpes.
    Depois de um profundo e penoso sobressalto económico que deixará marcas profundas num estrato da população, a economia recuperará em menos de dois anos mas será acompanhada por mudanças macroeconómicas e até de base ideológica. Hoje sabemos o peso e a importância do Estado e do BCE nas economias. O liberalismo e os populismos provaram a sua ineficácia e a sua inocuidade perante a ameaça internacional. Forçosamente terá de sair da crise um Estado mais social, solidário e amigo do ambiente.
    As relações internacionais e a própria geopolítica poderá ser substancialmente alterada. A política isolacionista demonstrada pelos Estados Unidos nesta crise, a vulnerabilidade da Europa face à China, sobretudo ao nível industrial, o papel pouco solidário demonstrado por alguns países do norte da Europa para com os países do sul, a fraqueza revelada pelo Reino Unido pós-Brexit, conduzirá forçosamente a alterações nas políticas externas e na estratégia econó

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