
A reunião entre a ACCCRO e a autarquia teve lugar no dia 6 de Fevereiro, tendo os comerciantes pedido que se minimizem os efeitos das obras da regeneração urbana na cidade.
Gazeta das Caldas falou com vários comerciantes e todos se queixam da diminuição nas vendas em média na ordem dos 30% relativamente a 2012. Há até quem pondere fechar portas para voltar a reabrir só no Verão.
Como se não bastasse a crise e o mau tempo, a falta de circulação de pessoas e também do próprio trânsito está a deixar os comerciantes à beira de um ataque de nervos. Sobretudo aqueles que vêem os seus negócios directamente afectados pela retirada do mercado da fruta do seu local original e do consequente corte de trânsito.
Isabel Freitas, uma das sócias da Rituals, loja situada na Rua das Montras, diz que o pedido de reunião com a Câmara através da ACCCRO se deveu ao facto da cidade estar toda em obras, de haver corte na circulação do trânsito, o que faz com que haja muito menos gente. Para a empresária é necessário “sensibilizar o executivo para minimizar um pouco o impacto que estas circunstâncias têm nos nossos negócios”.
Na sua opinião, as obras poderiam ser faseadas, devendo acelerar-se os processos nalguns sítios de modo a restabelecer “o mais rápido quanto possível a circulação de carros”. Além do mais, é preciso uma sinalética adequada, sobretudo para aqueles que visitam a cidade e depois nela não conseguem circular nem estacionar.
Desde o início do ano – que coincide com o início das obras – a Rituals registou “uma diminuição de 25% no volume de vendas em relação ao ano transacto”, disse a comerciante.
Margarida Galamba, da Farmácia Central, queixa-se que deixou de haver movimento naquela zona da cidade, motivada pelo corte de transito. “Só se desloca à Praça quem precisa mesmo e, como quase não há moradores, a área está quase deserta”. Desde Janeiro que sente uma diminuição de 20% na facturação relativamente a 2012.
São as obras na Praça e a sua transferência para outro local que fez com que as pessoas fossem para outra zona. Por isso a empresária teme que as pessoas se habituem deslocar-se para outros pontos da cidade. Na sua opinião, o que é prioritário era “o restabelecimento da circulação automóvel”.
Paulo Leal, da Padaria Morgado (situada na Praça da Fruta) está de acordo com esta necessidade. Na sua padaria, as vendas diminuíram 35% e teme que vá piorar. “De dia para dia vendemos menos…”, queixou-se o empresário, pedindo para que se restabeleça a circulação entre a zona da Rainha e da praça. ”A partir do final da tarde é uma zona deserta, não se vê ninguém”, lamentou-se.
Marina Mendes, responsável pela loja de bijutaria Parfois, que fica na Rua da Liberdade, considera que com a transferência do mercado, a sua rua “deixou de ser uma zona de passagem”. Queixa-se que há falta de gente, o que se traduz “em menos fluxo de vendas, na ordem dos 30 a 40%”. Também há falta de sinalização e quem não conhece a cidade não sabe para onde se deve dirigir.
“Quem não conhece acaba por dar meia volta e ir embora”, disse Marina Mendes. Prioritário é, na sua opinião, restabelecer a circulação automóvel e não adiar os prazos das intervenções pois, caso contrário, “será um ano terrível, sem clientes”.
Café Central pondera fechar durante as obras
“Estamos a sentir muito o facto da mudança da praça e de terem cortado a circulação. Durante a manhã cortou-me o fluxo de clientes em mais de 90%”. Palavras de Jéssica Peão, proprietária do Café Central que se queixa de uma descida “muito drástica” na facturação do seu espaço, sobretudo no período da manhã. “À tarde não sentimos tanto pois há muitos jovens e seniores que ainda vêm, mas à noite não vale a pena abrir porque não vem ninguém”, queixou-se a empresária. Na sua opinião, a Praça “está mal iluminada e suja” e, além do mais, “voltou a ser muito mal frequentada”. Como tal “as pessoas têm medo e não vêm”.
Jessica Peão comentou ainda que as pessoas chegam ao fim da Rua das Montras e já não seguem para a Praça. Para agravar a situação, diminuiu o número de lugares de estacionamento na zona circundante à Praça.
“Cheguei a ter oito empregados e neste momento tenho três”, disse a comerciante que pondera fechar a porta “pelo menos até Junho”. É que, até os clientes que são de fora das Caldas e que vinham ao Central aos fins de semana também deixaram de vir.
Abel Vinagre dono do restaurante “O Selim” veio defender a necessidade de uma nova sinalética para indicar onde se pode estacionar. Graças aos clientes fidelizados “continuo a trabalhar bem”, disse à Gazeta das Caldas.
“As Caldas está a ficar uma cidade fantasma!”
Rafael Batista da Ourivesaria Rafael, que fica na Rua das Montras, considera que as Caldas “está a ficar uma cidade fantasma!”. Não acha bem que as obras estejam a decorrer em simultâneo pois “transformam a cidade num estaleiro”, disse. O comerciante considera que é urgente abrir a circulação ao trânsito na praça e também fez questão de sublinhar que foram cortados muitos lugares de estacionamento. Segundo o empresário, a sua ourivesaria sofreu uma redução de 30% no volume de negócios.
José Henriques, da Papelaria Bordalo, também na Rua das Montras, considera que as obras deveriam ter sido doseadas e aponta para o facto de os autocarros das excursões “já não conseguirem parar na cidade”. O empresário acha que foi tudo feito ao contrário. “Primeiro deveria ter sido pensado o estacionamento alternativo e só depois avançar com as obras da regeneração urbana”, disse. Na sua opinião, eliminou-se o estacionamento e agora não há onde parar o carro em várias zonas da cidade.
Para José Henriques era prioritário “dar velocidade às obras” porque nota que há pouco movimento de operários na intervenção da praça. “Duvido que a obra esteja pronta a 20 de Junho”, referiu. Tendo analisado a facturação da sua papelaria, José Henriques teve uma diminuição de 35% nas vendas em relação ao ano anterior. Referiu que tem muitos clientes fixos, mas afirmou que o cliente de passagem “deixou de passar pela Rua das Montras”.
Para Paulo Agostinho, o encontro pedido pela ACCCRO teve recepção positiva por parte do edil e “foi uma boa reunião de trabalho pois todos nós estamos a ser afectados pelas obras”. Na sua opinião, a tentativa de sensibilizar a Câmara para “minimizar as consequências das obras foi bem sucedida”. Há agora canais de comunicação mais eficazes estabelecidos entre os empresários e o executivo de modo a suavizar as consequências das intervenções.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse que está disponível para tentar resolver estas questões e explicou que os rigores do Inverno não têm ajudado a quem precisa de dar celeridade à obras. Comprometeu-se a reabrir a zona da Praça sempre que possível pois esta “não vai estar sempre fechada porque haverá períodos em que será permitida a circulação”.
Tinta Ferreira espera que seja possível executar as obras dentro dos prazos previstos “de modo a termos um bom Verão com cafés com esplanadas e muitas lojas abertas”, rematou.
O fim das obras na Praça de Fruta está previsto para meados de Junho e a intervenção na Praça 25 de Abril, em frente à Câmara, só terminará em finais de Agosto.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt


































