Celebrar a Liberdade fechados em casa

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    Gazeta das Caldas quis perceber como se assinala o Dia da Liberdade nestes tempos de pandemia e com as pessoas confinadas em casa. Falámos com Carlos Cedoura e Fábio Capinha, representantes de duas gerações diferentes. O primeiro participou na revolução, enquanto o segundo ainda não era nascido.

    Para celebrar o Dia da Liberdade nos últimos dez anos, Carlos Cedoura tem participado invariavelmente nas comemorações em Lisboa. “É um dia diferente, de reencontros com as pessoas de Abril e eu gosto imenso”, conta. “É um tema que me diz muito”, resume.
    É que, em 1974 o então jovem furriel miliciano, que havia nascido há quase 24 anos na Serra d’El Rei (Peniche), estava envolvido numa operação clandestina que foi fundamental para o sucesso da revolução dos cravos: a montagem de um cabo telefónico de aproximadamente quatro quilómetros, entre a Central Telefónica do Exército e o que viria a ser o Posto de Comando do MFA, na Pontinha. Graças a esse cabo foi possível transmitir as escutas realizadas e planear o passo seguinte com informação detalhada.
    Carlos Cedoura estava colocado na Escola Prática de Transmissões e foi contactado às 8h25 do dia 22 de Abril, quando lhe foi explicado que iriam realizar uma acção à revelia do comando e que precisavam de transmissões.
    A partir das 20h00, com quatro bobines de fio de 500 metros, começaram um trabalho arriscado, porque era clandestino e porque os próprios cidadãos podiam suspeitar e questionar e estes militares não tinham autorização. “Algumas pessoas paravam e olhavam com desconfiança”, recorda. A zona mais arriscada foi junto ao Colégio Militar, mas o pior foi o dia 23, em que tinham de passar o fio sem postes, pelo que o penduraram em telhados, chaminés, candeeiros e árvores.
    Mal começaram a desenrolar o cabo houve um apagão de 10 a 15 minutos que os assustou e que pareceu uma eternidade.
    Chegaram à Pontinha às 1h25 do dia 24. Nesse dia, durante a tarde, mais sustos. Mal chegou ao Regimento de Engenharia 1 e pediu para falar com o capitão Macedo para saber onde instalar os telefones apercebeu-se que ninguém o avisara. “Pensou em prender-me, considerando que eu poderia ser um infiltrado”, relembra.
    Depois, quando se deslocaram aos Pupilos do Exército para ligar os telefones, enquanto Carlos estava no interior, o capitão Pena Madeira veio à porta fumar um cigarro e, para seu espanto, viu chegar um carro que parou em frente dos portões e “dele saíram três ou quatro indivíduos de escuro, com chapéu, que ele identificou como sendo agentes da polícia política (Pide)”. Estes aproximaram-se do portão, espreitaram, observaram e, de seguida, dirigiram-se para a viatura e foram-se embora. “Estava na central telefónica e não me apercebi de nada, mas o capitão apanhou um grande susto”. E nunca souberam se os agentes já desconfiavam de alguma coisa ou se a passagem pelo Quartel General “tinha levantado suspeitas”. A montagem na Pontinha terminou às 20h50 e regressou à unidade às 22h00. “Como estava exausto fui descansar e, mais tarde, acompanhei o desenrolar da operação através do rádio”, contou.

    “A ouvir Zeca Afonso e Zé Mário Branco”

    Fábio Capinha

    “A ver documentários sobre o tema”

    Carlos Cedoura

    Este ano a sua celebração será diferente. “Costuma haver cravos, este ano não sei se haverá, mas tenho sempre um, artificial, que me ofereceram. Uma vez que não estamos juntos, vou telefonar aos meus amigos e enviar mensagens”, explica: “Vou ver filmes e documentários, alguns que já vi duas e três vezes, mas que não me canso e vou ouvir a Marcha do MFA mais do que uma vez, também”.
    Já o jovem músico Fábio Capinha disse à Gazeta que, enquanto “umas pessoas gostam do Verão, outras do Inverno, outras mais da época festiva do Natal” ele, desde que se vê “como sujeito político”, sempre considerou “como favorita esta época festiva, do 25 de Abril e do 1º de Maio”. Todos os anos celebrava Abril de forma “intensa”, fosse a tocar em A-dos-Negros com “boa gente, que

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