
A longa metragem, realizada por António Vitorino d’Almeida, foi apresentada no Vivacine, na noite de domingo (29 de Julho) e arrancou fortes gargalhadas dos espectadores, a maioria convidados e amigos do realizador. O elenco, composto por cerca de 20 estreantes, também marcou presença e teceu os mais rasgados elogios a António Vitorino d’Almeida, apelidando-o de um “criador por excelência”.
Numa pequena terra de província as pessoas não têm nada que contar e passam o seu tempo a agredir-se ou a inventar calúnias a respeito uns dos outros, acusando-os mesmo de participação em bruxedos ou feitiçarias. Este é o ponto de partida do filme ligado ao absurdo que o seu autor, António Vitorino d’Almeida, considera ser “uma das manifestações artísticas mais próximas do realismo”.
Rodado no Alto Minho, maioritariamente em Vila Nova de Cerveira, e também numa adega das Caldas da Rainha, o filme conta no elenco com actores e figurantes do concelho, escolhidos pelo realizador sem haver a necessidade de fazer um casting. A maioria tinha participado num curso de História da Música que o maestro fez, juntamente com o professor de música, e agora também actor, Miguel Leite, enquanto que outros foram escolhidos pela longa amizade que os une, como é o caso da pianista Olga Prats ou do director do Jornal das Caldas, Jaime Costa.
“Inclusivamente a senhora que aparece no filme com os braços partidos tinha, efectivamente, os braços partidos”, conta António Vitorino d’Almeida, acrescentando que todas as pessoas com quem falou acederam ao seu pedido.
O resultado foi uma longa metragem, feita em apenas 14 dias de Agosto e com um custo muito reduzido, já que todos os participantes fizeram-no graciosamente.
“O problema do cinema não está em milhões”, disse o realizador, que assim quis desmistificar a ideia de que não há apoios públicos para o cinema por este ser muito caro. “Não são os profissionais que pedem esses milhões, são aqueles que deveriam dar os subsídios que evocam logo os milhões à cabeça, quando as pessoas ainda nem sequer falaram”, realçou, acrescentando que demonstram que essa história é falsa e, “levando isto ao absurdo, conseguimos fazer o filme de graça”.
A escolha das Caldas, local onde também foram feitas algumas filmagens, para a sua estreia oficial prendeu-se com a vontade de descentralizar o cinema e de reconhecer o trabalho da equipa técnica, liderada por Miguel Costa. O director de fotografia e operador de câmara na longa-metragem destacou a oportunidade de trabalhar com António Vitorino d’Almeida. “O maestro para mim é uma das figuras mais importantes na cultura portuguesa e ter o privilégio de trabalhar e privar com ele foi fantástico”, disse, dando nota da constante simpatia do maestro.
O realizador caldense realçou que os escassos meios técnicos que tinham à sua disposição foram compensados pela “boa disposição e genialidade dos diálogos e das improvisações que ele [António Vitorino d’Almeida] ia criando ao longo das filmagens”.
Também presente, num dos papéis principais está a amiga de infância do maestro, Olga Prats. A pianista gostou da experiência e destaca que, além da qualidade dos diálogos, música e imagem, este filme teve o mérito de juntar uma série de pessoas que “não se conheciam e ficaram muito amigas”.
Olga Prats destaca a genialidade do maestro também como realizador e disse mesmo que “o país não merece o António. Podia ir para Viena de Áustria e seria mais bem tratado”.
Este foi o terceiro filme do maestro que, em 1980, realizou “A Culpa”, vencedor do Colón de Oro, no festival de Huelva, e, posteriormente, realizou o filme austríaco “As Mesas de Mármore”.
“Gostámos tanto de fazer isto e teve um resultado tão bom entre as pessoas que acho que temos que repetir outras vezes”, conclui António Vitorino d’Almeida, que agora vai continuar a mostrar o seu novo trabalho pelo país, antes de o estrear nas salas da capital.
Documentário sobre Ferreira da Silva vai ser apresentado no CCC
No próximo dia 12 de Agosto, às 21h30, será apresentado no CCC um documentário sobre o ceramista Ferreira da Silva, intitulado “Em teu corpo meu corpo”. O filme, com a duração de 60 minutos, é da autoria do realizador caldense Miguel Costa e entre os entrevistados estão o historiador João Serra e os artistas Júlio Pomar e José Santa-Bárbara.
“Foi um filme que me deu muito gosto fazer, principalmente porque fui descobrindo muitas facetas do Ferreira da Silva, através dos diversos entrevistados”, disse o realizador.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

































