Não há assim tantos anos, Caldas da Rainha era o polo urbano mais atractivo da região e que, durante a época estival, quase que duplicava a população, com os que vinham a banhos, fosse como veraneantes a gozar a vilegiatura na Foz do Arelho, ou como aquistas disfrutando as qualidades únicas das águas termais. E chegada a noite ela pulsava num ritual citadino invulgar, praça-abaixo, praça-acima, povoada por grupos de amigos e famílias em animadas conversas.
Assim era. Porém, hoje vimo-nos forçados a conjugar o verbo no pretérito, evocando imagens dum passado perdido. Visando o relançamento dinâmico da vida da urbe, assiste-se agora à organização de alguns certames como foi o caso do dedicado ao Cavalo, cuja afluência de público foi muito significativa, e às reedições, repensadas em novos moldes, das antes designadas feiras da Cerâmica e dos Frutos. Apesar de não deixar de ser um pouco estranho que se faça hoje em dia letra morta dos pareceres técnicos da então equipa responsável pela supervisão paisagista, a qual recomendava, tal como aconteceu, a saída do Parque desses eventos devido ao seu impacto ambiental, é indiscutível a importância e a dimensão de que se revestem, bem como o reflexo positivo na potenciação dos fluxos turísticos e consequente efeito na economia local. Mas a afirmação das Caldas não pode estar submetida a uma acumulação casuística de projectos pontuais desgarrados e eventos sem elos de articulação entre si. Pelo contrário, é indispensável uma estratégia global, reflectida, orçamentada e de mais longo alcance, capaz de perspectivar o contexto de desenvolvimento futuro em todas as valências, definir prioridades, gizar vias de intervenção e estabelecer os instrumentos operacionais para a respectiva concretização. Isto é precisamente tudo o que não há e faz falta, porque quanto mais eficaz e competente for o planeamento tanto melhor e mais sedutor será o perfil da cidade. Ora o Plano Director Municipal está adiado sine die e o Plano de Pormenor do Centro Histórico continua sem aparecer. A 1ª fase dos trabalhos de Regeneração Urbana saldou-se por erros e obras mal executadas, em que o Largo João de Deus surge como um lamentável exemplo possível: os degraus da Capela do Espírito Santo permanecem sem serem corrigidos, por resolver o estacionamento para os moradores, os contentores do lixo retirados e não mais recolocados…
As ruas do centro estão cheias de buracos e irregularidades, as tampas de saneamento desniveladas, o trânsito caótico com zonas pedonais restringidas e ar poluído por gases de escape. Importa deslocar a Central Rodoviária para um anel periférico. Por outro lado, há zonas da cidade onde as rupturas de abastecimento de água são constantes.
O Parque tem que ser pensado como um todo, estudando a possibilidade de classificação do conjunto do perímetro verde e património edificado (Pavilhões, Museu José Malhoa e Casa dos Barcos). Independentemente da opinião que se tenha sobre a solução e modelo a adoptar para os Pavilhões, é fundamental evitar que o programa de reabilitação arquitectónica do edifício seja demasiado invasivo e que venha até a cativar para fins privados a entrada pública para o Parque através do Céu de Vidro.
Na Lagoa confirma-se não só a permanência de um elevado nível de assoreamento mas também contaminação tóxica causada pela insuficiente capacidade de tratamento da ETAR bem como por não se ter procedido, na rede de esgotos, à obrigatória separação de águas pluviais das residuais urbanas.
Quanto aos equipamentos e infraestruturas essenciais, a Linha do Oeste e um Hospital moderno terão que ser firmemente defendidos, dado que uma cidade que se reclama das Artes só o poderá ser, em plenitude, se contar com uma base sólida onde elas, integradamente, se inscrevam.