Ai! A dor… Parte II

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    Joaquim Urbano | DR

    Abordamos a dor aguda na Parte I desta crónica. Hoje o que nos interessa é a dor crónica. Trata-se de uma dor recorrente ou mesmo permanente, por vezes com exacerbações, que persiste por um período superior a 3 ou 6 meses para além da cura das lesões que a originaram ou que existe sem qualquer lesão aparente. Assim, impõe-se o tratamento urgente de todo o tipo de dor para evitar a sua cronicidade.
    Podemos considerar a dor crónica oncológica que, de acordo com a sua localização, e principalmente, nas fases mais avançadas da evolução da doença, pode atingir uma percentagem muito elevada de doentes que sofrem de cancro. Da dor crónica não oncológica vamos referir as mais significativas: cefaleias, dores musculares (lombalgias), articulares (artroses) e neuropáticas.
    Após uma agressão, o complexo mecanismo da dor, inclui a estimulação de recetores específicos periféricos e a condução dos estímulos sensoriais, em que participam diversos tipos de fibras nervosas, à medula espinal e depois ao cérebro sendo aqui que é identificada a localização e a perceção da dor e a “ordem” para uma resposta adequada. Para esta concorrem, para além de fenómenos moduladores e inibidores ocorridos a diversos níveis deste “circuito”, a memória de experiências anteriores, comportamentos e emoções. A dor crónica assume assim um caráter multidimensional sendo a sua experiência determinada por uma interação dinâmica em que intervêm fatores neurofisiológicos, bioquímicos, psicológicos e mesmo sociais, devendo a sua abordagem respeitar um modelo biopsicossocial. Reconhece-se hoje que a dor crónica é considerada, na maioria dos casos, não apenas um sintoma, mas uma doença, que pelas suas implicações individuais, familiares e socioeconómicas é um verdadeiro problema de Saúde Pública.
    Nas últimas décadas do século passado surgem, em alguns Hospitais portugueses, as primeiras Unidades de Tratamento/Consultas de Dor na dependência dos Serviços de Anestesiologia. Constituem um recurso altamente diferenciado para a abordagem multidisciplinar da dor crónica e ao seu tratamento farmacológico ou utilizando outras técnicas. Até aos dias de hoje foram elaborados, por Autoridades de Saúde, programas e planos nacionais de luta e controlo da dor. O último Plano Estratégico Nacional de Prevenção e Controlo da Dor data de 2017 e aponta para 2020 a concretização das seguintes metas: “Contribuir para melhorar a formação dos profissionais de saúde sobre avaliação e controlo da dor; caraterizar a realidade no que diz respeito à prevalência e tratamento da dor crónica em Pediatria; promover modelos de boas práticas na abordagem da dor em todos os níveis de prestação de cuidados de saúde; e contribuir para a literacia dos cidadãos em relação à prevenção e controlo da dor.”
    No CHO funciona a Consulta de Dor, em Caldas da Rainha e Torres Vedras, da responsabilidade dos respetivos Serviços de Anestesiologia, sendo que, no Hospital das Caldas, o seu início reporta a 2004.
    Atenção especial deve merecer as dores a nível da coluna vertebral que podem ter início em idades muito jovens devido a posturas incorretas, sedentarismo e obesidade. Assim, a sua prevenção deve incluir atividade física, alimentação saudável, postura correta no uso de telemóvel, consolas e colocação da mochila (controle do peso e arrumação adequada do material escolar).

    Joaquim Urbano

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