Nesta edição de aniversário, a Gazeta das Caldas foi à descoberta de tentar perceber como será a região em 2030. As opiniões divergem, mas há algo de que ninguém tem dúvidas: o sentimento de comunidade é decisivo para vivermos melhor
Há uma incrível viagem para fazer na próxima década na região, no país e no mundo, com desafios gigantes pela frente, em domínios diversos e que exigirão o melhor de todos. Ninguém pode afirmar, com certezas, onde vai culminar e que caminhos percorreremos até lá chegar. Apesar de ser um jornal quase centenário, a Gazeta das Caldas está virada para o futuro e é com essa premissa que preparámos esta edição comemorativa.
O futuro pertence a todos e, mesmo com opiniões divergentes sobre as rotas, sabemos que, até por via do que sucedeu no último ano e meio, o reforço do sentimento de comunidade será absolutamente decisivo para vivermos melhor, termos empregos que nos satisfaçam e permitam suprir as necessidades básicas, compatibilizando o necessário desenvolvimento económico com as alterações climáticas e o sentimento de emergência ambiental que já vivemos hoje em dia.
Na região, como no país ou no espaço europeu, muitos especialistas consideram que fatores como a mobilidade e a habitação são peças-chave para o futuro e, sobretudo, para posicionar Caldas da Rainha, Óbidos e os concelhos limítrofes como uma região dinâmica, capaz de atrair investimento qualificado e, com isso, manter ou aumentar a população residente. E isso faz-se através de políticas públicas ajustadas à realidade e não se limitam ao melhor aproveitamento possível dos muitos milhões de euros que vão “inundar” a economia com o Plano de Recuperação e Resiliência. O PRR é importante, mas não pode ser a única medida que ajude a impulsionar o tecido empresarial da região, que está muito dependente dos serviços e precisa ser capaz de criar produtos que possam ser competitivos nos mercados internacionais, mas também nos mercados regionais e nacionais, pois os clientes, hoje e no futuro, estão por aí.
Na mobilidade, para além da maior proliferação de bicicletas elétricas e do incremento do uso de transportes públicos, de preferência não poluentes, projetos estruturantes como a eletrificação da Linha do Oeste ganham particular relevância. As obras continuam atrasadas, há mais promessas, mas, mais do que pensar na eletrificação e duplicação da ferrovia até às Caldas da Rainha, importa, desde já, pressionar as entidades competentes par assegurar que a intervenção segue para norte e que, mais ano, menos ano, toda esta região será servida por uma ferrovia moderna e competitiva, que permita aos habitantes uma mobilidade mais rápida e confortável, mas também aos turistas e visitantes um acesso mais direto, para que o Oeste seja mais atrativo.
Podemos ter transportes e vias de acesso muito vantajosas, mas sem bons serviços de saúde ninguém se pode aqui fixar. Nesse sentido, o famigerado (e eternamente adiado) projeto do novo Hospital do Oeste torna-se ainda mais relevante, ficando ainda por saber se o Estado avança com um grande hospital ou dois hospitais mais pequenos. E essa discussão, pelos vistos, ainda só está a começar em muitos setores, sabendo-se que o lóbi de Torres Vedras há muito se faz sentir nos corredores dos ministérios onde estas matérias se costumam resolver.
O emprego é, obviamente, um elemento essencial para melhor acomodar o futuro, mas a própria pandemia veio acelerar alguns processos de digitalização que transformaram as nossas vidas. Até março de 2020, o teletrabalho ainda era um “bicho” de sete cabeças para muitos empregadores. E o que dizer do ensino, que se reinventou neste período, com professores e alunos a recorrerem às novas tecnologias para manter o sistema de ensino ativo e funcional? Nada será como dantes e ninguém espere, como até aqui, empregos para a vida.
A formação contínua e a adaptabilidade dos recursos humanos são decisivos para que os homens e mulheres consigam encontrar colocação num mercado de trabalho que, de forma inevitável, assistirá à substituição de muito trabalho manual por computadores e robôs. E, claro está, as escolas também têm de mudar rapidamente o “chip”, percebendo que, perante uma realidade distinta, as respostas do passado deixam de fazer sentido.
No desenho da região em 2030 há, ainda, muitas dúvidas sobre os reais impactos que as alterações climáticas podem vir a provocar. Mas já se vislumbram os efeitos de alguns excessos, que têm de ser contrariados para o bem de todos. A proximidade da região ao Atlântico tem permitido que o Oeste não tenha vindo a ser afetado, de forma expressiva, pelas mudanças do clima, mas todos os estudos conhecidos indicam que há praias da região que podem desaparecer com a subida do nível médio da água do mar e esse sinal de alerta devia ser suficiente para mobilizar-nos a todos para implementar as medidas que, dentro daquilo que nos cabe enquanto cidadãos e entidades, é possível fazer para evitar o pior cenário.
Aqui chegados, reforça-se a ideia de que o sentido de comunidade é um bem cada vez mais precioso e que as clivagens podem, num futuro relativamente próximo, chegar a questões aparentemente tão banais como a alimentação. E não estamos a falar das modas de food design ou do apelo que a mesa do restaurante parece despertar na sociedade. Há quem assuma que, dentro de pouco tempo, as condições financeiras das famílias terão um peso ainda mais relevante do que sucede hoje no acesso aos alimentos. E também isto nos deve fazer pensar e equacionar de que modo os apoios sociais podem e devem ser distribuídos.
E os jornais do futuro?
Fazer um exercício sobre o futuro implica, também, olhar para a Gazeta das Caldas e para os imensos desafios que o jornal tem vindo a enfrentar e continuará a enfrentar na próxima década.
A crescente erosão do número de leitores e a consequente transferência para o digital, acompanhada da redução do investimento publicitário de muitas marcas no papel, pode fazer perigar a forma como olhamos para a imprensa escrita. Mas quando a televisão surgiu, também muito vaticinaram o fim da rádio e ela está aí para provar da sua importância para a sociedade.
Não sabemos como será a Gazeta em 2030, mas o que sabemos é que esta é uma verdadeira instituição da região e o jornalismo regional tem e continuará a ter espaço, porque, no fundo, fazemos e valorizamos toda a comunidade. ■
A Linha do Oeste ou o novo Hospital são fatores muito relevantes para o futuro da região. Mas é preciso mais
Há enormes desafios pela frente, em domínios diversos e que exigirão o melhor de todos


































