Ivo Gil Vicente Coutinho
32 anos
Caldas da Rainha
Melbourne – Austrália
Fixed Access Technology Specialist
Percurso escolar:
Escola Primária do Bairro da Ponte (1º Ciclo), EB 23 D. João II (2º e 3º Ciclo), Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro (Secundário), Instituto Superior Técnico (Universidade)
Do que mais gosta do país onde vive?
A Austrália é um país fascinante, maravilhoso e sedutor por várias razões.
Em primeiro lugar pela Natureza. Aqui encontramos milhares de espécies exóticas de animais e plantas. Uns felpudos e simpáticos, outros porém, dos mais venenosos e perigosos do mundo. O mais interessante é que existe um enorme respeito por essa natureza. Convivem lado a lado sem necessidade de restringir os espaços de cada um. No que respeita às espécies venenosas (em que matá-lças é ilegal e punido por lei) elas evitam o contacto com os humanos e ficam-se pelas zonas mais remotas e inabitáveis.
Outra razão para tornar este país tão único é a forma de estar e a mentalidade das pessoas que aqui habitam. São genuinamente boas pessoas e bons anfitriões. Exemplo disso, mal cheguei ao país, sem conhecer ninguém, levaram-me a mim e à minha família (esposa e filho) logo a passear por Melbourne, a ver algumas das atracões turísticas, a almoçar e jantar e até compraram uma cadeirinha para o bebé para poder andar no carro. Existem em todos os pontos da cidade voluntários vestidos de vermelho, que estão ali exclusivamente para ajudar qualquer pessoa que lhes peça indicações e sugestões. São descontraídos o suficiente para aproveitarem o bom que a vida pode oferecer. Por exemplo, passam o tempo a viajar.
O seu isolamento, que às vezes dificulta a chegada de algumas coisas a este país, é por seu lado aquilo que lhes permite estarem “abstraídos” de outros problemas. É uma espécie de escudo.
Para se perceber um pouco, a Austrália é tão grande como o EUA, mas com “apenas” 23 milhões de habitantes. Desses 23 milhões, 30% são imigrantes dos mais variados cantos do mundo e os que não são imigrantes são filhos de gerações de imigrantes. Isso faz notar. Existe um respeito por todas as diferentes culturas e raças (asiáticos, europeus, africanos, árabes, aborígenes, etc.).
Na rua ninguém faz julgamentos sobre a roupa e cada um anda como quer. A cada esquina ouve-se um sotaque diferente e, o melhor de tudo, é que todos os dias se pode experimentar comer algo novo.
Melbourne é conhecida por ser amante e conhecedora do seu café (a alcunha interna é os “coffee snobs”), por isso até aí estamos bem servidos.
Para finalizar, uma cidade onde os transportes públicos são gratuitos (extraordinário!), onde em todos os lugares existe um espaço verde, onde nesses espaços verdes existe sempre alguém a ler, a ouvir música, a correr, onde existem imensas galerias de arte, cinemas, restaurantes e com um clima (em Melbourne) que não faz ter saudades de Portugal, só podia ser uma das melhores cidades do mundo para ser viver (como tem estado nos últimos anos em todos os tops).
O que menos aprecia?
Existem poucas razões de queixa deste país.
Talvez possamos dizer que o “menos bom” deste país é a diferença horária com o resto do Mundo. Quer seja com a família, quer seja a nível profissional, é sempre preciso um esforço para combater a diferença horária. Por exemplo 11 horas de diferença de Portugal e 15 de New York.
As viagens para fora da Austrália são sempre longas e cansativas. O jet lag é “companheiro” habitual. Por exemplo, na viagem de Portugal para aqui, saímos num sábado à tarde, e chegamos na segunda de manhã. Isto no voo mais directo que são cerca 23 horas no ar (excluindo tempo de escala).
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Claro que, como todos dizem, estar fora é estar longe da família. Quando se vem para um país tão longe, temos que nos abstrair desses pensamentos, senão não vamos aproveitar o que de bom podemos ver e construir aqui.
Felizmente existem as novas tecnologias que, diariamente, permitem às avós poderem ver o seu netinho crescer.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Nos próximos anos vai passar por aqui. Tive a felicidade de poder trazer comigo os meus companheiros de vida, a minha parceira de anos e o meu “mais que tudo” de 9 meses (na altura). A decisão de vir para aqui foi muito bem pensada e foi escolhida por ser aquela que nos dava mais garantias de estabilidade a médio prazo. Tive hipótese de, pela minha actual empresa, vir visitar o país, antes de decidir.
“A nível do bem-estar e produtividade no trabalho podíamos aprender algumas coisas com os australianos”
Curiosamente, em Portugal, a nível de tecnologia, e mais especificamente, na minha área, nas redes de acesso fixas das telecomunicações (cabo, adsl, fibra, etc.) somos dos mais evoluídos do mundo. É um daqueles factos que é bom e mau. Devido à situação que temos em Portugal é fácil a alguém de fora fazer uma boa proposta a um português.
Tive a sorte de, no meu percurso profissional em Portugal, ter passado por vários projetos pioneiros e inovadores, que fez com que ficasse apetecível a várias empresas pelo resto do mundo.
Fui convidado a participar num projeto brutal (pela sua complexidade e dimensão). Neste momento a Austrália está a construir uma rede (infraestrutura) do Estado para chegar a todos os locais do país com internet de velocidades que sejam actuais com o resto do mundo. Um projeto, que devido à extensão do país, já vai em cerca de 40 biliões de euros (convertendo). Envolve lançamento de satélites, redes wireless, redes fixas, etc. Ao contrário de Portugal, onde se vendeu a infraestrutura aos privados, aqui estão a comprar a infraestrutura para poderem depois chegar a todo o lado, sem existir a necessidade de viabilidade comercial.
Estou a trabalhar para a Telstra (o incumbente), o equivalente à Portugal Telecom e, tenho como funções a definição da tecnologia e da estratégia para a transferência da rede e clientes para essa nova rede do Estado.
A nível do bem-estar e produtividade no trabalho podíamos aprender algumas coisas com os australianos.
O horário de trabalho é flexível. Pode ser das 8h00 às 15h30, ou das 10h00 às 17h30. Qualquer dia que se queira, pode-se trabalhar a partir de casa. Não tem que se justificar. Por exemplo, se é preciso ficar a tomar conta do filho um dia que a mãe não possa, é fácil. Se existe indício de constipação preferem que se fique por casa para não pegar a ninguém.
Pode-se tirar até oito semanas de férias, quatro pagas pela empresa e outras quatro descontadas. Visto que os salários são bons, cerca de 80% das pessoas da empresa tira as oito semanas.
Se existir um feriado ao fim de semana, passa para a segunda feira seguinte.
Todos estes benefícios fazem com que os lucros sejam abissais, visto que quando os trabalhadores estão bem, “vestem a camisola” e dão o litro.
As pensões são privadas. É obrigatório o desconto de uma parte do ordenado, mas não existe um sistema de pensões. O fundo é escolhido pelo trabalhador. As reformas são por isso equivalentes ao que se trabalhou. Normalmente são grandes.
Participam na vida social, atribuem bolsas às escolas, com base em projetos apresentados pelos pais.
Um dos dias que tenho direito – e que sou estimulado a tirar – é o dia do voluntariado, ou seja, tenho direito a um dia para participar numa ação de voluntariado qualquer que eu queira.
A diversidade de culturas, facilita o debate e traduz-se em resultados benéficos para o país e empresa.
A vida aqui em Melbourne é acessível. É mais cara que Portugal, mas a nível de percentagem, comparado com o salários, acaba por ser barata. Os preços com a habitação é onde se gasta mais. Como em todo o lado, quando mais central, mais caro é. Para o trabalho, apesar de ter o eléctrico à porta de casa, acabo por ir e vir a pé ao longo de um imenso jardim no centro da cidade. É fantástico!
Ivo Gil Vicente Coutinho


































